Podemos nos perguntar: por que uma arquidiocese,
diocese, paróquia e cidade possuem seu padroeiro? A palavra padroeiro evoluiu
de patronariu, patronus, “patrono”, aquele que protege, que defende, e sua
forma feminina é mesmo “padroeira” e não palavra que tenha em seu radical o
correspondente feminino mater, mãe. Patrono, orago ou padroeiro é um santo ou
anjo a quem é dedicada uma localidade, povoado ou templo, arquidiocese ou
diocese, capela, Igreja etc.
Existem diversas passagens bíblicas que mostram a
existência de anjos protetores que velam pelo destino de um povo, lugar ou
igreja, e aqui quero citar três pelo menos: “ainda disse ele: Sabes por que eu
vim a ti? Agora tornarei a pelejar contra o príncipe dos persas (um anjo); e,
saindo eu, eis que virá o príncipe da Grécia (um anjo)” (Dn 10, 13.20).
“Naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos
filhos do teu povo; e haverá um tempo de tribulação, qual nunca houve desde que
existiu nação até aquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo
aquele que for achado escrito o teu povo, todo aquele que for achado no livro”
(Dn 12, 1).
Com o Cristianismo, temos o conceito de que os
anjos e santos continuam intercedendo pelos vivos, isto já era algo comum entre
os primeiros cristãos, segundo os registros dos séculos II e III. Os santos
escutam nossas orações, pois veem a Deus face a face, são semelhantes a Ele (1
Jo 3, 2), o Espírito tudo os pode revelar (1 Cor 2, 9-10), já que irão julgar o
mundo (1 Cor 6, 2). A intercessão deles por nós é o maior serviço que prestam a
Deus, pois os santos hão de julgar o mundo (Mt 19,28), (1 Cor 6,2).
Os santos, por serem invocados por muitos cristãos
de um determinado local, passaram a ser tidos como protetores desses lugares,
tornando-se assim padroeiros ou oragos. É daí que vem a tradição de colocar um
santo como padroeiro de uma cidade, arquidiocese, diocese, prelazia, paróquia e
quase-paróquia, bem como nas comunidades eclesiais. É claro que nos primeiros
séculos não tínhamos já as divisões territoriais eclesiásticas tal qual temos
hoje.
A data que marca a escolha do padroeiro para as
catedrais, igrejas ou localidades é o século VII. A partir desse século quase
todas as igrejas começam a organizar-se no sentido de elegerem os seus
padroeiros, sendo escolhidos, em primeiro lugar, naturalmente, as figuras do
Divino Salvador e da Virgem Maria, seguidos dos Santos Mártires.
Em documentos da Idade Média, é usual o nome de uma
localidade ser antecedido do nome do padroeiro, datando dessa época o processo
da constituição das paróquias formadas em núcleos sociais, a assinalar a vida
comunitária e religiosa das populações. Símbolo da fé do povo e sinônimo de
proteção à comunidade paroquial – a delimitar, por vezes, o próprio território
que lhe cabe, como guardião das terras e dos seus respectivos habitantes, o
santo padroeiro significa o amparo e o confidente, o protetor, aquele que, por
sua intercessão junto de Deus, tem a faculdade e a missão de defender e obter
para quem a ele recorre, o louva e nele confia, as graças pedidas em oração e
voto de promessa – particularmente nas alturas mais precisas e difíceis da vida
de cada um.
Devido a isso temos um santo como padroeiro de uma
cidade, arquidiocese, diocese, prelazia, paróquia e quase-paróquia. Em caso de
cidade podemos citar: O Rio de Janeiro, que tem como o seu santo padroeiro
São Sebastião: soldado do Império Romano no final do séc. III e início do séc.
IV. Sebastião sofreu o martírio em Roma, em virtude da sua fidelidade a Cristo
e à Igreja. Em 1565, foi escolhido como padroeiro de nossa cidade, para cujos
fiéis é modelo de fé, coragem, constância e disponibilidade. São Sebastião foi
um grande missionário do seu tempo, levando o nome de Jesus a todos,
fortalecendo os que estavam cansados e abatidos pela perseguição religiosa
daquela época.
No caso de arquidiocese podemos citar a vizinha
Arquidiocese de Niterói, que tem como padroeiro São João Batista: no dia 24 de
junho, a Igreja celebra a solenidade litúrgica do nascimento de João Batista,
“o maior dos profetas”, que foi enviado “para preparar os caminhos do Senhor”.
Ele e a Virgem Maria são os únicos em que a liturgia lembra o nascimento. Os
demais santos são comemorados no dia da morte, mas João é comemorado duas
vezes: no nascimento e no seu martírio, celebrado em 29 de agosto.
Em caso de paróquia, podemos citar: a paróquia de
São Jorge e as várias igrejas dedicadas a São Jorge espalhadas pelo mundo,
particularmente dentro de nossa Arquidiocese: um soldado cristão do Império
Romano no século IV. Quando o imperador Diocleciano declarou perseguição aos
adeptos do cristianismo, Jorge protestou e acabou sendo torturado pela
insolência. Ele morreu decapitado em 23 de abril de 303, mas sua história foi
contada em diversas cidades do Império Romano pelos soldados que estavam em
missão. Foi assim que ele ganhou sua fama e virou são Jorge, o santo guerreiro.
Essa é, em teoria, a história verdadeira, conforme é contada pela Igreja
Católica. Mas a história do santo também está envolvida em algumas lendas
piedosas.
Contudo, quando falamos de padroeiro, estamos
remetendo aqueles que são protetores e intercessores do povo, de uma comunidade
ou de toda uma cidade. No nosso caso, queremos pedir ao nosso padroeiro São
Sebastião que interceda por sua cidade e seus habitantes, e sua vida seja de
exemplo para todos nós. Que, seguindo a Cristo como seguiu São Sebastião, possamos
ter dentro de nossas fronteiras amor, compaixão, misericórdia e paz a cada lar.
A Paz esteja com todos!
Cardeal
Orani João Tempesta
Arcebispo
de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
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