A revista VEJA da Semana da Páscoa (8 de abril de 2015) trouxe interessante
reportagem sobre a Ressurreição de Jesus, “o grande dogma do cristianismo”,
ressaltando que a comemoração do domingo de Páscoa reafirma o poder da fé na
Ressurreição do Filho de Deus morto na Cruz, “ideia”, constata a reportagem,
“que se fortalece com a passagem dos milênios”. E pergunta: “por que, depois de
pouco menos de 2000 anos, a crença na ressurreição de Jesus Cristo, um dos mais
extraordinários mistérios da fé, ainda exerce efeito tão arrebatador?” E
constata que, se nada houvesse ocorrido na Páscoa daquele ano, ou seja, se a
Ressurreição do Senhor não fosse um fato extraordinário atestado e comprovado,
não se conseguiria explicar a miraculosa e extraordinária expansão do
cristianismo diante de tantas forças contrárias do paganismo.
Houve tentativas modernas de se negar a Ressurreição de Jesus como fato
histórico. Segundo algumas dessas teorias, Jesus teria ressuscitado “dentro do
Kerigma”, segundo a fórmula de Rudolf Bultmann, famoso teólogo protestante, ou
seja, a ressurreição significaria apenas que os discípulos haviam reconhecido
que “a causa de Jesus continua”! Por isso, torna-se muito elucidativa para nós
a tese de Heinrich Schlier, discípulo de Bultmann, sobre a Ressurreição de
Jesus, provando o fato histórico, base da fé cristã.
Heinrich Schelier era pastor luterano, professor de exegese na Alemanha,
e, depois, fez parte da “Igreja confessante”, ou seja, a parte da comunidade
evangélica alemã que tentava salvaguardar a substância cristã do luteranismo,
não aceitando que esse se desintegrasse no movimento que apoiava o nazismo.
Depois da guerra, lecionou Novo Testamento e História da Igreja na Faculdade
Teológica Evangélica de Bonn. Em 1953, para surpresa do seu mestre Bultmann,
converteu-se à Igreja Católica e disse que sua conversão ocorrera de uma forma
completamente protestante, ou seja, a partir de sua relação com a Escritura,
segundo nos conta Ratzinger. Em 24 de outubro de 1953, foi recebido na Igreja
Católica. No dia seguinte, recebe a primeira comunhão e, depois, a confirmação.
Tem inúmeras obras teológicas, especialmente essa sobre a Ressurreição de
Jesus, prefaciada pelo então Cardeal Joseph Ratzinger.
Baseado na história e na Escritura, Schelier demonstra que “a
Igreja primitiva não falou da ressurreição de Jesus Cristo com distanciamento e
de modo descompromissado, mas com emoção e num ato de profissão de fé”. E ele
argumenta tratar-se de um fato incontestável, embora conserve seu caráter de
mistério. Segundo ele, os textos neotestamentários entendem a Ressurreição como
um evento, um acontecimento histórico concreto. A Ressurreição não veio da
pregação, mas sim a pregação partiu do fato da Ressurreição. E da sua
Ressurreição deriva a conclusão lógica de que Ele é o Senhor, como se lê no discurso
de São Pedro aos judeus: “De fato, Deus ressuscitou este mesmo Jesus, e disso
todos nós somos testemunhas... Portanto, que todo o povo de Israel reconheça
com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós
crucificastes” (At 2, 32-36).
Dom
Fernando Arêas Rifan
Bispo
da Administração Apostólica Pessoal
São
João Maria Vianney (RJ)
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