Tive uma experiência pouco comum ao celebrar a
missa na paróquia de Santa Maria (Old St. Mary, em Washington). Era uma missa
solene e, excepcionalmente, foi celebrada em latim.
Não era um dia muito diferente da maioria dos
domingos, mas algo muito impressionante estava prestes a acontecer.
Como vocês sabem, a antiga missa em latim era
celebrada "ad orientem", ou seja, orientada em direção ao Oriente
litúrgico. O sacerdote e os fiéis ficam todos de frente para a mesma direção, o
que significa que o celebrante permanecia, na prática, de costas para as
pessoas. Na hora da consagração, o padre se inclina com os antebraços sobre o
altar, segurando a Hóstia.
Nesse dia, pronunciei as veneráveis palavras da
consagração em voz baixa, mas de maneira clara: "Hoc est enim Corpus
meum" ("Isto é o meu Corpo"). Quando me ajoelhei, os sinos
tocaram.
Logo atrás de mim, houve algum tipo de tumulto,
agitação, e eu ouvia sons incongruentes que vinham dos bancos da parte
dianteira da igreja, bem atrás de mim, à minha direita. Em seguida, um gemido e
um grunhido, como um rosnado.
"O que foi isso?", pensei. Não pareciam
sons humanos, mas ruídos de algum animal grande, como um javali ou um urso, junto
a um gemido melancólico que tampouco parecia humano. Elevei a Hóstia e
novamente me perguntei: "O que será que foi isso?". Depois, houve
silêncio. Ao celebrar o rito antigo da missa em latim, o padre não pode ficar
virando para trás. Mas eu continuei pensando: "O que foi aquilo?".
Chegou a hora da consagração do vinho. Mais uma
vez, inclinei-me, pronunciando claramente as palavras da consagração: "Hic
est enim calix sanguinis mei, novi et aeterni testamenti; mysterium fidei; qui
pro vobis et pro multis effundetur em remissionem pecatorum. Haec quotiescumque
feceritis in mei memoriam facietis” ("Este é o cálice do meu Sangue,
o Sangue da nova e eterna Aliança, que será derramado por vós e por muitos para
a remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim").
Então, ouvi novamente um ruído, mas dessa vez um
inegável gemido, e logo depois, um grito de alguém que clamava: "Jesus, me
deixa em paz! Por que me torturas?". Houve de repente um ruído que parecia
uma briga, e alguém correu para fora da igreja, ao som de um gemido, como se se
tratasse de uma pessoa ferida. As portas da igreja se abriram e depois se
fecharam. Depois disso, silêncio.
Eu não podia virar para trás porque estava
levantando o cálice da consagração. Mas entendi, naquele instante, que alguma
pobre alma atormentada pelo demônio havia se visto frente a Cristo na
Eucaristia, e não tinha conseguido suportar sua presença real, exposta na
frente de todos. Lembrei-me então das palavras da Bíblia: "Também os
demônios crêem e tremem" (Tiago 2, 19).
Assim como São Tiago usou estas palavras para
repreender a fraca fé do seu rebanho, eu também tinha motivos para a contrição.
Por que um pobre homem atormentado pelo demônio era mais consciente da presença
real de Cristo na Eucaristia e ficava mais impactado com ela do que eu??
Ele ficou negativamente impactado e fugiu. Mas por
que eu não me impacto positivamente, com a mesma intensidade? E os fiéis que
estavam nos bancos e presenciaram tudo aquilo?
Não duvido de que nós acreditemos intelectualmente
na presença eucarística. Mas será muito diferente e maravilhoso se nos
deixarmos comover por ela nas profundezas da nossa alma.
Naquele dia, há 15 anos, ficou muito claro para mim
que, nas minhas mãos, estava o Senhor da glória, o Rei dos céus e da terra, o
Juiz Justo e o Rei dos reis. Aliás, o mesmo Jesus que você comunga, que entra
em seu corpo e toma conta do seu ser.
Até o demônio acredita na Eucaristia!
E você?
Pe. Charles Pope
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Aleteia
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