Pedro vem de pedra, Pedro vem de Simão, Simão,
irmão de André, Simão companheiro de Paulo, Pedro escolhido para confirmar os
irmãos. Pedro, homem escolhido para fundamento, ponto de unidade, ainda que
limitado e fraco. Apenas uma brincadeira com as palavras? Uma realidade, diante
da qual nos inclinamos respeitosos, pela grandeza da obra realizada por Deus.
Celebramos a Festa de São Pedro, e com ela a unidade e a missão da Igreja.
Hoje, o Sucessor de Pedro tem nome de Francisco, e
Francisco, o de Assis, encontrou um dia uma igreja em ruínas, dedicada a São
Damião. O Senhor crucificado lhe dirigiu a palavra, pedindo-lhe para
reconstruir. Francisco entendeu "igreja" e Jesus queria dizer
"Igreja", a Igreja! Aquela que está sempre em construção, pois,
nascida como esposa imaculada do lado do Senhor crucificado, é confiada aos
homens e mulheres de todos os tempos, até a volta do Senhor. Como edificá-la?
Francisco de Assis entendeu: "Se você quiser servir a Deus, faça poucas
coisas, mas as faça bem, pedra por pedra, com esperança de ver Jesus, dia após
dia, com alegria!".
Há poucos dias estive mais uma vez com o Papa
Francisco e tive a alegria de estar bem perto dele. Impressionou-me a
naturalidade com que se relaciona com as pessoas, fazendo-se um com os cerca de
mil e cem sacerdotes reunidos em Retiro na Basílica de São João de Latrão, em
Roma. Depois, a profundidade de suas reflexões, destiladas em palavras que
entram imediatamente no coração das pessoas. Quando respondia às perguntas
feitas pelos padres, dirigia-se logo ao âmago dos problemas apresentados, sem
medo dos desafios. Mais uma vez pediu orações a todos os presentes, dizendo com
simplicidade "porque eu sou um pecador!". E a Santa Missa! Celebrada
com intenso espírito de fé! Como o Pedro das margens do Mar da Galileia, o
Francisco de hoje tem a missão de confirmar os irmãos!
Primeira lição da Festa de São Pedro é a
naturalidade, que não se confunde com banalidade. O cristão que se preze
convive com os outros com simplicidade, recolhendo tudo o que existe de bom,
valorizando os pequenos gestos e as alegrias gratuitas que a Providência de
Deus lhe proporciona. Não tem necessidade de empolar-se de afetações ou
palavras complicadas. Tudo deve ser vivido com serenidade, aproveitando as
lições que são oferecidas a cada momento. Ninguém despreze um sorriso de
criança, ou o olhar provocante e esperançoso de um jovem, ou, quem sabe, a pele
enrugada de um ancião que testemunha a grandeza dos anos bem vividos! Pedro é
pedra do cotidiano! Ao lado dos outros, ele sabe que está trabalhando na terra
que é de Deus. Foi também a experiência de outra grande coluna da Igreja,
Paulo, confrontado com a diversidade dos apóstolos: "Quando um declara:
'Eu sou de Paulo' e outro: 'Eu sou de Apolo', não estais apenas no nível
humano? Pois, que é Apolo? Que é Paulo? Não passam de servos pelos quais
chegastes à fé. A cada um o Senhor deu sua tarefa: eu plantei, Apolo regou, mas
era Deus que fazia crescer. De modo que nem o que planta nem o que rega são,
propriamente, importantes. Importante é aquele que faz crescer: Deus. Aquele
que planta e aquele que rega são a mesma coisa, mas cada qual receberá o
salário correspondente ao seu trabalho. Pois nós somos cooperadores de Deus, e
vós, lavoura de Deus, construção de Deus. Paulo, Apolo, Cefas, o mundo, a vida,
a morte, o presente, o futuro, tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo é
de Deus" (1 Cor 3, 4-9. 22-23). Pedra por pedra!
Um dos desafios de nosso tempo é a superação da
superficialidade com que as questões são tratadas, faltando a dedicação e o
tempo necessário ao amadurecimento das respostas aos grandes problemas.
Carecemos de maior seriedade, estudo, atenção, competência! As pessoas e as
situações em que se encontram sejam levadas a sério. Suas eventuais crises não
sejam minimizadas com desprezo. Cuide-se que a sua fama seja respeitada, sem
espalhar, como folhas ao vento, notícias ou fofocas destruidoras, como
infelizmente tem acontecido através de instrumentos preciosos, mas utilizados
inadequadamente, como são as redes sociais. O Apóstolo Paulo, sofrendo por
causa de "falsos irmãos, intrusos, que sorrateiramente se introduziram entre
nós, para espionar a liberdade que temos no Cristo Jesus, com o fim de nos
escravizarem" (Gl 2, 5) foi a Jerusalém, confrontou-se com Pedro e os
outros, enfrentou os problemas existentes com seriedade, foi, por sua vez,
lavado a sério: "Viram que a evangelização dos pagãos fora confiada a mim,
como a Pedro tinha sido confiada a dos judeus. De fato, o mesmo que tinha
preparado Pedro para o apostolado entre os judeus, preparou também a mim para o
apostolado entre os pagãos. Reconhecendo a graça que me foi dada, Tiago, Cefas
e João, considerados as colunas da igreja, deram-nos a mão, a mim e a Barnabé,
como sinal de nossa comunhão recíproca" (Gl 2, 7-9). Pedra por pedra!
O primeiro Pedro, pescador das águas do Lago de
Genesaré, cujas fragilidades não ficaram escondidas, experimentou a grandeza da
presença misericordiosa do Senhor. Diante da pesca milagrosa, "Simão Pedro
caiu de joelhos diante de Jesus, dizendo: 'Afasta-te de mim, Senhor, porque sou
um pecador!' Ele e todos os que estavam com ele ficaram espantados com a
quantidade de peixes que tinham pescado. O mesmo ocorreu a Tiago e João, filhos
de Zebedeu e sócios de Simão. Jesus disse a Simão: 'Não tenhas medo! De agora
em diante serás pescador de homens!' Eles levaram os barcos para a margem,
deixaram tudo e seguiram Jesus" (Lc 5, 8-11). Mais tarde, depois de ter
pecado gravemente, por ter negado conhecer Jesus, diante do olhar do Senhor,
"chorou amargamente" (Lc 22, 62). O Papa Francisco, quando pede
orações, dizendo-se pecador, é o que tem condições para a infalibilidade
garantida quando declara as verdades da fé! Pedra por pedra!
Aos padres reunidos em Retiro, o Papa Francisco
recomendou algo que serve para todos os cristãos: rezar sempre, rezar muito!
Com simplicidade, disse aos sacerdotes que não se assustem se alguma vez
"cochilarem" quando estiverem em silêncio diante da presença do
Senhor no Tabernáculo! E candidamente acrescentou que isso ocorre também com o
Papa! Recordo-me de tantas pessoas preocupadas com suas eventuais distrações na
oração, às quais cabe-me estimular a aproveitarem justamente o "assunto da
distração" para tratar com o Senhor, agradecer, pedir, chorar, reclamar,
louvar! O coração da oração estará no reconhecimento da presença salvadora do
Senhor, parecidos que somos com o Pedro da primeira hora: "Jesus foi à
região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos discípulos: 'Quem dizem as
pessoas ser o Filho do Homem?' Eles responderam: 'Alguns dizem que és João
Batista; outros, Elias; outros ainda, Jeremias ou algum dos profetas'. 'E vós',
retomou Jesus, 'quem dizeis que eu sou?' Simão Pedro respondeu: 'Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo'" (Mt 16, 13-16). Pedra por pedra!
Dom Alberto
Taveira Corrêa,
Arcebispo
Metropolitano de Belém do Pará.
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