segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Papa se despede da África e pede sociedade justa e fraterna


Viagem do Papa Francisco à África
Homilia no Estádio Esportivo Barthélémy Boganda, em Bangui (República Centro- Africana)
Segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Ao ouvir a primeira Leitura, podemos ter ficado maravilhados com o entusiasmo e o dinamismo missionário presente no apóstolo Paulo. «Que bem-vindos são os pés dos que anunciam as boas novas!» (Rm 10, 15). Estas palavras são um convite a darmos graças pelo dom da fé que recebemos destes mensageiros que no-la transmitiram. E são também um convite a maravilhar-nos à vista da obra missionária que trouxe, pela primeira vez – não há muito tempo –, a alegria do Evangelho a esta amada terra da África Central. É bom, sobretudo quando os tempos são difíceis, quando não faltam as provações e os sofrimentos, quando o futuro é incerto e nos sentimos cansados e com medo de falir, é bom reunir-se ao redor do Senhor, como fazemos hoje, rejubilando pela sua presença, pela vida nova e a salvação que nos propõe, como outra margem para a qual nos devemos encaminhar.

Esta outra margem é, sem dúvida, a vida eterna, o Céu onde nos esperam. Este olhar voltado para o mundo futuro sempre sustentou a coragem dos cristãos, dos mais pobres, dos mais humildes, na sua peregrinação terrena. Esta vida eterna não é uma ilusão, não é uma fuga do mundo; é uma realidade poderosa que nos chama e compromete a perseverar na fé e no amor.

Mas, a outra margem mais imediata que procuramos alcançar, esta salvação adquirida pela fé de que nos fala São Paulo, é uma realidade que transforma já a nossa vida presente e o mundo em que vivemos: «É que acreditar de coração leva a obter a justiça» (cf. Rm 10, 10). O crente acolhe a própria vida de Cristo, que o torna capaz de amar a Deus e amar os outros duma maneira nova, a ponto de fazer nascer um mundo renovado pelo amor.

Demos graças ao Senhor pela sua presença e pela força que nos dá no dia-a-dia da nossa vida, quando experimentamos o sofrimento físico ou moral, uma pena, um luto; pelos actos de solidariedade e generosidade de que nos torna capazes; pela alegria e o amor que faz brilhar nas nossas famílias, nas nossas comunidades, não obstante a miséria, a violência que às vezes nos circunda ou o medo do amanhã; pela coragem que infunde nas nossas almas de querer criar laços de amizade, de dialogar com aqueles que não são como nós, de perdoar a quem nos fez mal, de nos comprometermos na construção duma sociedade mais justa e fraterna, onde ninguém é abandonado. Em tudo isso, Cristo ressuscitado toma-nos pela mão e leva-nos a segui-Lo. Quero dar graças convosco ao Senhor de misericórdia por tudo aquilo que vos concedeu realizar de bom, de generoso, de corajoso nas vossas famílias e nas vossas comunidades, durante os acontecimentos que há muitos anos se têm verificado no vosso país.

Todavia é verdade também que ainda não chegámos à meta, de certo modo estamos no meio do rio, e devemos decidir-nos com coragem, num renovado compromisso missionário, a passar à outra margem. Cada baptizado deve romper, sem cessar, com aquilo que ainda há nele do homem velho, do homem pecador, sempre pronto a reanimar-se ao apelo do diabo (e como age no nosso mundo e nestes tempos de conflito, de ódio e de guerra!) para o levar ao egoísmo, a fechar-se desconfiado em si mesmo, à violência e ao instinto de destruição, à vingança, ao abandono e à exploração dos mais fracos… 

Papa fala sobre o amor, o perdão, a paz e, sobretudo, a oração.


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO QUÉNIA, UGANDA E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
(25-30 DE NOVEMBRO DE 2015)

VIGÍLIA DE ORAÇÃO COM OS JOVENS E CONFISSÕES

DISCURSO DO SANTO PADRE

Praça da Catedral, Bangui (República Centro-Africana)
Domingo, 29 de Novembro de 2015


Queridos jovens!

Saúdo-vos com todo o afeto. O vosso amigo, que falou em nome de todos, disse que o vosso símbolo é a bananeira, porque a bananeira é um símbolo de vida: cresce sempre, sempre se reproduz e nunca cessa de produzir os seus frutos de grande energia alimentar. Além disso, a bananeira é resistente. Penso que isto indique claramente o caminho que vos é proposto neste tempo difícil de guerra, ódio, divisão: o caminho da resistência.

Dizia o vosso amigo que alguns de vós querem partir. A fuga aos desafios da vida nunca é uma solução! É preciso resistir, ter a coragem da resistência, da luta pelo bem! Quem foge não tem a coragem de dar vida. A bananeira dá vida e continua a reproduzir-se e a dar sempre mais vida porque resiste, porque permanece, porque fica ali. Alguns de vós perguntar-me-ão: «Mas, Padre, que podemos fazer? Como se faz para resistir?» Dir-vos-ei duas ou três coisas que talvez vos sejam úteis para resistirdes.

Antes de mais nada, a oração. A oração é poderosa. A oração vence o mal. A oração aproxima-vos de Deus, que é o Todo-Poderoso. Faço-vos uma pergunta: Vós rezais? … Não ouço! [os jovens gritam: Sim!] Não o esqueçais.

Depois, trabalhar pela paz. E a paz não é um documento que se assina e fica ali. A paz constrói-se todos os dias. A paz é um trabalho artesanal, faz-se com as mãos, faz-se com a própria vida. Entretanto alguém pode-me pedir: «Diga-me, Padre, como posso eu fazer o artesão da paz?». Primeiro: nunca odiar. E, se alguém te faz mal, procura perdoar. Nenhum ódio! Muito perdão! Digamo-lo juntos: «Nenhum ódio, muito perdão» [todos repetem em língua sango]. E, se não tiveres ódio no teu coração, se perdoares, serás um vencedor. Porque serás vencedor da batalha mais difícil da vida: vencedor no amor. E, através do amor, vem a paz.

Vós quereis ser derrotados ou vencedores na vida? Que quereis ser? [Os jovens gritam: «Queremos ser aqueles que vencem!»] E só se vence pela estrada do amor. A estrada do amor. E pode-se amar o inimigo? Sim. Pode-se perdoar a quem te fez mal? Sim. Desta forma, com o amor e o perdão, sereis vencedores. Com o amor, sereis vencedores na vida e sempre dareis vida. O amor nunca vos deixará derrotados.

Agora, desejo-vos o melhor. Pensai na bananeira. Pensai na resistência frente às dificuldades. Fugir, partir para longe não é uma solução. Deveis ser corajosos. Vós compreendestes o que significa ser corajosos? Corajosos no perdão, corajosos no amor, corajosos na construção da paz. Estais de acordo? [Os jovens respondem «Sim» em língua sango] Dizemo-lo, juntos? «Corajosos no amor, no perdão e na construção da paz» [os jovens repetem em sango].

Queridos jovens centro-africanos, estou muito contente por vos ter encontrado. Hoje abrimos esta Porta. Significa a Porta da Misericórdia de Deus. Fiai-vos de Deus. Porque Ele é misericordioso, Ele é amor, Ele é capaz de nos dar a paz. Por isso vos disse, ao princípio, para rezardes: é preciso rezar para resistir, para amar, para não odiar, para ser artesãos da paz.

Muito obrigado pela vossa presença. Agora entrarei na Catedral, para ouvir alguns de vós em Confissão…

De coração, estais dispostos a resistir? Sim ou não? [os jovens: «Sim!»] De coração, estais dispostos a lutar pela paz? [«Sim!»] De coração, estais dispostos à reconciliação? [«Sim!»] De coração, estais dispostos a amar esta pátria maravilhosa? [«Sim!»] E volto ao princípio: de coração, estais dispostos a rezar? [«Sim!»]

E peço-vos também que rezeis por mim, para que possa ser um bom Bispo, para que possa ser um bom Papa. Prometeis rezar por mim? [«Sim!»]

E agora dar-vos-ei a bênção, a vós e às vossas famílias. Uma bênção, pedindo ao Senhor que vos dê o amor e a paz.

(A bênção)

Boa noite! E rezai por mim. 

“Juntos, digamos não ao ódio”, pede Papa a muçulmanos em Bangui


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À ÁFRICA
– QUÊNIA, UGANDA E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA -

DISCURSO
Encontro com a comunidade muçulmana

Mesquita Central de Koudoukou, Bangui (República Centro-Africana)
Segunda-feira, 30 de Novembro de 2015

Queridos amigos, líderes e crentes muçulmanos!

É com grande alegria que vos encontro e exprimo a minha gratidão pela vossa calorosa recepção. Em particular, agradeço ao íman Tidiani Mousa Naibi pelas suas amáveis palavras de boas-vindas. A minha visita pastoral à República Centro-Africana não seria completa, se não incluísse também este encontro com a comunidade muçulmana.

Entre cristãos e muçulmanos, somos irmãos. Devemos, portanto, considerar-nos como tal, comportar-nos como tal. Sabemos bem que os acontecimentos recentes e as violências que abalaram o vosso país não se fundavam em motivos propriamente religiosos. Quem afirma crer em Deus deve ser também um homem ou uma mulher de paz. Cristãos, muçulmanos e membros das religiões tradicionais viveram juntos, em paz, durante muitos anos. Por isso, devemos permanecer unidos, para que cesse toda e qualquer acção que, dum lado e doutro, desfigura o Rosto de Deus e, no fundo, visa defender, por todos os meios, interesses particulares em detrimento do bem comum. Juntos, digamos não ao ódio, não à vingança, não à violência, especialmente aquela que é perpetrada em nome duma religião ou de Deus. Deus é paz, Deus salam.

Nestes tempos dramáticos, os líderes religiosos cristãos e muçulmanos quiseram erguer-se à altura dos desafios presentes. Tiveram um papel importante no restabelecimento da harmonia e da fraternidade entre todos. Quero assegurar-lhes a minha gratidão e a minha estima. E podemos também recordar os inúmeros gestos de solidariedade que cristãos e muçulmanos tiveram para com os seus compatriotas de outra confissão religiosa, acolhendo-os e defendendo-os durante esta última crise no vosso país, mas também noutras partes do mundo. 

Cinco detalhes sobre a Coroa do Advento que talvez você desconheça


A Igreja se prepara para iniciar o tempo de Advento neste domingo, 29 de novembro, e como é tradição os fiéis se reunirão para rezar e acender a primeira vela da Coroa do Advento. Confira a seguir, cinco detalhes que todo cristão deve saber sobre a Coroa. 

1. Tradição e evangelização

A Coroa do Advento tem a sua origem em uma tradição pagã europeia. No inverno, acendiam-se algumas velas que representavam o "fogo do deus sol" com a esperança de que a sua luz e o seu calor voltassem. Os primeiros missionários aproveitaram esta tradição para evangelizar as pessoas. A partir de seus próprios costumes ensinavam-lhes a fé católica.

2. Por que deve ter uma forma circular?

O círculo não tem princípio, nem fim. É sinal do amor de Deus que é eterno, sem princípio nem fim, e também do nosso amor a Deus e ao próximo, o qual nunca deve terminar.

3. Usar ramos verdes

Verde é a cor da esperança e da vida. Deus quer que esperemos a sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna no final de nossa vida. O desejo mais importante deve ser querer chegar a uma união mais forte com Deus, nosso Pai, assim como a árvore e seus ramos.

4. Leva quatro velas

As quatro velas permitem refletir na experiência da escuridão provocada pelo pecado, o qual deixa o homem cego e o afasta de Deus. Depois da primeira queda do homem, Deus foi dando pouco a pouco uma esperança de salvação que iluminou todo o universo, como as velas da Coroa.

Neste sentido, assim como as trevas se dissipam com cada vela que acendemos, os séculos foram se iluminando cada vez mais com a próxima chegada de Cristo ao mundo.

As quatro velas colocadas na Coroa de Advento são acendidas semana a semana, nos quatro domingos do advento e com uma oração especial. 

“Vem, Senhor!”


Com o primeiro domingo do Advento, a Igreja inicia um novo Ano Litúrgico! Durante as semanas que antecedem o Natal, a comunidade de fé suplica: “Vem, Senhor Jesus”. Ela vive, assim, o anseio da chegada de seu Senhor. 

O Tempo do Advento celebra o “Deus da esperança” (Rm 15,13) e vive a alegre expectativa escatológica de sua segunda vinda. É, pois, um tempo marcado pela esperança!

Somos impulsionados pelas pequenas e grandes esperanças! Elas nos permitem sonhar, planejar, projetar. O ser humano sem expectativas e sem esperanças, vegeta! 

É verdade que a modernidade, com suas inúmeras conquistas e realizações, alimentou - e ainda alimenta - a esperança de muitos. Há uma esperança latente de poder no seio da sociedade, por exemplo, de um dia superar inclusive a morte. Será isso possível? Temos consciência de que o ser humano pode muito, mas não pode tudo! 

Sabemos que quem se orienta pela fé cristã coloca sua esperança maior em Deus. Deus é nossa grande esperança! Somente Ele abraça todo o universo e nos pode propor e dar aquilo que, sozinhos, não podemos conseguir. Deus possui rosto humano. Ele nos ama!  Onde Ele é amado, o Seu reino se faz presente. Na correspondência ao Seu amor, o ser humano de todos os tempos vislumbra a verdadeira vida. 

O Tempo do Advento propõe a vigilância, a atenção, o cuidado. Tais atitudes concedem a perspicácia sempre necessária para colher os sinais da presença do Senhor e de seu Reino, já presente no seio da comunidade de fé. 

Lendo o Evangelho, nos damos conta de que Jesus de Nazaré não ensina uma doutrina religiosa. Ele anuncia um acontecimento: “O Reino de Deus já está no meio de vós” (Lc 17, 21). É este acontecimento que a liturgia, sempre e de novo, a cada ano, celebra. Portanto, o Tempo do Advento não é simples narração de fatos acontecidos em um passado mais ou menos distante e que merecem ser recordados, mas celebração de um evento já acontecido no tempo, porém ainda não plenamente atuado.  

Violência contra a mulher é inaceitável, mas contra o homem também


Quando se fala de violência doméstica, algumas pessoas podem pensar em golpes ou ações de brutalidade de um esposo contra a esposa ou vice-versa. No entanto, a violência física, os golpes e as feridas são somente uma parte do que é verdadeiramente a violência doméstica.

A violência doméstica pode ser definida como todo tipo de ação, atitude, uso da força física ou de palavras para controlar uma pessoa, dentro de uma relação afetiva. Há violência quando se ataca a integridade emocional ou espiritual de uma pessoa. Isso pode acontecer entre esposos, casais de namorados, pais a filhos, filhos a pais, e ser de cunho físico, emocional ou sexual.

Os bispos dos Estados Unidos definem o abuso como “qualquer tipo de comportamento utilizado por uma pessoa para controlar outra por meio do medo e da intimidação. Isso inclui o abuso emocional ou psicológico, os golpes e o ataque sexual”.

Violência física: é toda agressão corporal que uma pessoa faz a outra. Por exemplo: socos, chutes, feridas, beliscões, puxões de cabelo, mordidas, tapas etc.

Violência emocional: é toda ação, atitude ou palavra que humilha, rebaixa ou machuca as emoções ou a autoestima de uma pessoa. Ao contrário da violência física, que geralmente envolve uma descarga agressiva sobre a vítima, a violência emocional não necessariamente requer ações violentas. Uma pessoa pode humilhar outra, rebaixá-la e fazer que ela se sinta mal com palavras, ações ou atitudes suaves, de duplo sentido, sarcásticas e até que pareçam carinhosas. Algumas formas de violência emocional são: 

domingo, 29 de novembro de 2015

Vigiai


Ninguém sabe quando será o fim do mundo. Nem podemos pretender que apareçam sinais espetaculares anunciando que a hora está para chegar, pois a vinda do Filho do Homem será como nos dias de Noé, Naquela ocasião, as pessoas levavam a vidinha de sempre: "Comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em casamento" Nada de extraordinário para anunciar a iminência do dilúvio, a não ser a presença de Noé "que era pessoa justa entre seus conterrâneos, andava com Deus e por isso obteve o favor de Javé".

O evangelho não emite um julgamento a respeito da conduta das pessoas no tempo de Noé. O livro de Gênesis, ao contrário, salienta o aumento da violência até chegar a uma situação insuportável. Mateus se limita a frisar que os contemporâneos de Noé "nada perceberam até que veio o dilúvio e arrasou a todos".

"Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra deixada". Por que essa diferença de sortes? Qual terá sido o critério de seleção, se aparentemente os dois homens e as duas mulheres estavam fazendo exatamente as mesmas coisas? A resposta está no modo como as pessoas agem. Há quem vive o presente preparando o futuro e há quem não aprendeu da história e não sabe como viver o presente sem futuro. 

"A divisão dos cristãos é um escândalo que contraria, antes de mais nada, a vontade do Senhor", diz Papa.


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO QUÉNIA, UGANDA E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
(25-30 DE NOVEMBRO DE 2015)

ENCONTRO COM AS COMUNIDADES EVANGÉLICAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Faculdade de Teologia Evangélica de Bangui [FATEB], República Centro-Africana
Domingo, 29 de Novembro de 2015


Queridos irmãos e irmãs!

Sinto-me feliz por ter ocasião de vos encontrar nesta Faculdade de Teologia Evangélica. Agradeço ao Decano da Faculdade e ao Presidente da Aliança dos Evangélicos na África Central as suas amáveis palavras de boas-vindas. Saúdo a cada um de vós e, por vosso intermédio, também a todos os membros das vossas comunidades, num profundo sentimento de amor fraterno. Estamos todos aqui ao serviço do mesmo Senhor ressuscitado, que hoje nos reúne; e, pelo Baptismo comum que recebemos, somos convidados a anunciar a alegria do Evangelho aos homens e mulheres deste amado país da África Central.

Há muito tempo que o vosso povo é atingido pelas provações e pela violência que causam tantos sofrimentos. Isto torna ainda mais necessário e urgente o anúncio do Evangelho. Porque é a carne do próprio Cristo que sofre, que sofre nos seus membros prediletos: os pobres do seu povo, os doentes, os idosos e os abandonados, as crianças que já não têm os pais ou estão abandonadas a si mesmas, sem guia nem educação. E são também todos aqueles que a violência e o ódio feriram na alma ou no corpo; aqueles que a guerra privou de tudo: do trabalho, da casa, das pessoas queridas.

Deus não faz diferença entre aqueles que sofrem. Com frequência, tenho designado isto como o ecumenismo do sangue. Todas as nossas comunidades, sem distinção, sofrem com a injustiça e o ódio cego que o diabo desencadeia; quero, nesta circunstância, exprimir a minha proximidade e a minha solidariedade ao Pastor Nicolas, cuja casa foi recentemente saqueada e queimada, bem como a sede da sua comunidade. Neste contexto difícil, o Senhor não cessa de nos enviar para manifestar toda a sua ternura, a sua compaixão e a sua misericórdia. Este sofrimento comum e esta missão comum são uma oportunidade providencial para nos fazer avançar juntos pelo caminho da unidade, sendo, para isso mesmo, um meio espiritual indispensável. Como poderia o Pai recusar a graça da unidade, embora ainda imperfeita, aos seus filhos que sofrem juntos e que, nas mais diversas circunstâncias, se dedicam juntos ao serviço dos irmãos? 

Papa Francisco abre a Porta Santa na República Centro-Africana


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À ÁFRICA
– QUÊNIA, UGANDA e REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA –

DISCURSO

Santa Missa e abertura da Porta Santa
Bangui – República Centro-Africana
Domingo, 29 de novembro de 2015


Neste Primeiro Domingo de Advento, tempo litúrgico da expectativa do Salvador e símbolo da esperança cristã, Deus guiou os meus passos até junto de vós, nesta terra, enquanto a Igreja universal se prepara para inaugurar o Ano Jubilar da Misericórdia. E sinto-me particularmente feliz pelo fato de a minha visita pastoral coincidir com a abertura no vosso país deste Ano Jubilar. A partir desta Catedral, com o coração e o pensamento, quero alcançar afetuosamente todos os sacerdotes, os consagrados, os agentes pastorais deste país, que estão espiritualmente unidos conosco neste momento. Através de vós, quero saudar todos os centro-africanos, os doentes, as pessoas idosas, os feridos pela vida. Talvez alguns deles estejam desesperados e já não tenham força sequer para reagir, esperando apenas uma esmola, a esmola do pão, a esmola da justiça, a esmola dum gesto de atenção e bondade.

Mas, como os apóstolos Pedro e João que subiam ao templo e não tinham ouro nem prata para dar ao paralítico indigente, venho oferecer-lhes a força e o poder de Deus que curam o homem, fazem-no levantar e tornam-no capaz de começar uma nova vida, «passando à outra margem» (cf. Lc 8, 22).

Jesus não nos envia sozinhos para a outra margem, mas convida-nos a fazer a travessia juntamente com Ele, respondendo cada qual a uma vocação específica. Devemos, pois, estar cientes de que esta passagem para a outra margem só se pode fazer com Ele, libertando-nos das concepções de família e de sangue que dividem, para construir uma Igreja-Família de Deus, aberta a todos, que cuida dos mais necessitados. Isto pressupõe a proximidade aos nossos irmãos e irmãs, isto implica um espírito de comunhão. Não se trata primariamente duma questão de recursos financeiros; realmente basta compartilhar a vida do Povo de Deus, dando a razão da esperança que está em nós (cf. 1 Ped 3, 15), sendo testemunhas da misericórdia infinita de Deus, que – como sublinha o Salmo Responsorial deste domingo – «é bom e (…) ensina o caminho aos pecadores» (Sal 25/24, 8). Jesus ensina-nos que o Pai celeste «faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus» (Mt 5, 45). Depois de nós mesmos termos feito a experiência do perdão, devemos perdoar. Aqui está a nossa vocação fundamental: «Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48). Uma das exigências essenciais desta vocação à perfeição é o amor aos inimigos, que protege contra a tentação da vingança e contra a espiral das retaliações sem fim. Jesus fez questão de insistir sobre este aspecto particular do testemunho cristão (cf. Mt 5, 46-47). Consequentemente os agentes de evangelização devem ser, antes de mais nada, artesãos do perdão, especialistas da reconciliação, peritos da misericórdia. É assim que podemos ajudar os nossos irmãos e irmãs a «passar à outra margem», revelando-lhes o segredo da nossa força, da nossa esperança, e da nossa alegria que têm a sua fonte em Deus, porque estão fundadas na certeza de que Ele está connosco no barco. Como fez com os Apóstolos na altura da multiplicação dos pães, é a nós que o Senhor confia os seus dons para irmos distribuí-los por todo o lado, proclamando a sua palavra que garante: «Eis que virão dias em que cumprirei a promessa favorável que fiz à casa de Israel e à casa de Judá» (Jr 33, 14). 

Papa: "A dignidade do ser humano é trabalhar pela dignidade dos seus semelhantes".


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO QUÉNIA, UGANDA E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
(25-30 DE NOVEMBRO DE 2015)

ENCONTRO COM A CLASSE DIRIGENTE E COM O CORPO DIPLOMÁTICO

DISCURSO DO SANTO PADRE

Palácio Presidencial de Bangui (República Centro-Africana)
Domingo, 29 de Novembro de 2015


Senhora Chefe de Estado da Transição,
Distintas Autoridades,
Ilustres membros do Corpo Diplomático,
Dignos representantes das Organizações Internacionais,
Amados Irmãos Bispos,
Senhoras e Senhores!

Feliz por estar aqui convosco, quero em primeiro lugar manifestar o meu vivo apreço pela calorosa recepção que me reservastes e agradeço à Senhora Chefe de Estado da Transição pela sua amável saudação de boas vindas. Deste lugar que, de certo modo, é a casa de todos os centro-africanos, tenho o prazer de exprimir, por seu intermédio e através das outras Autoridades do país aqui presentes, a minha estima e proximidade espiritual a todos os vossos cidadãos. Quero igualmente saudar os membros do Corpo Diplomático, bem como os representantes das Organizações Internacionais, cujo trabalho nos recorda o ideal de solidariedade e cooperação que deve ser cultivado entre os povos e as nações.

Com a República Centro-Africana que, não obstante as dificuldades, se encaminha gradualmente para a normalização da sua vida sociopolítica, piso pela primeira vez esta terra, depois do meu predecessor São João Paulo II. É como peregrino de paz que venho, e apóstolo de esperança que me apresento. Por isso mesmo, me congratulo com os esforços feitos pelas várias Autoridades nacionais e internacionais, a começar pela Senhora Chefe de Estado da Transição, para guiar o país nesta fase. O meu desejo ardente é que as diferentes consultas nacionais que serão realizadas dentro de algumas semanas permitam ao país empreender serenamente uma nova fase da sua história.

Para iluminar o horizonte, temos o lema da República Centro-Africana, que reflecte a esperança dos pioneiros e o sonho dos pais fundadores: «Unidade – Dignidade – Trabalho». Hoje, mais do que ontem, esta trilogia exprime as aspirações de cada centro-africano e constitui, consequentemente, uma bússola segura para as Autoridades, que têm o dever de guiar os destinos do país. Unidade, dignidade, trabalho! Três palavras densas de significado, cada uma das quais representa seja um canteiro de obras seja um programa nunca concluído, um compromisso a executar constantemente.

Primeiro, a unidade. Esta é, como se sabe, um valor fulcral para a harmonia dos povos. Trata-se de viver e construir a partir da maravilhosa diversidade do mundo circundante, evitando a tentação do medo do outro, de quem não nos é familiar, de quem não pertence ao nosso grupo étnico, às nossas opções políticas ou à nossa confissão religiosa. A unidade exige, pelo contrário, que se crie e promova uma síntese das riquezas que cada um traz consigo. A unidade na diversidade é um desafio constante, que requer criatividade, generosidade, abnegação e respeito pelo outro.

Depois, a dignidade. É precisamente este valor moral – sinónimo de honestidade, lealdade, garbo e honra – que caracteriza os homens e mulheres conscientes tanto dos seus direitos como dos seus deveres e que os leva ao respeito mútuo. Cada pessoa tem a própria dignidade. Soube, com prazer, que a República Centro-Africana é o país do «Zo kwe zo», o país onde cada pessoa é uma pessoa. Então, que tudo se faça para tutelar a condição e a dignidade da pessoa humana. E quem tem os meios para levar uma vida decente, em vez de estar preocupado com os privilégios, deve procurar ajudar os mais pobres a terem, também eles, acesso a condições de vida respeitosas da dignidade humana, nomeadamente através do desenvolvimento do seu potencial humano, cultural, económico e social. Por conseguinte, o acesso à instrução e à assistência sanitária, a luta contra a malnutrição e o empenho por garantir a todos uma habitação decente deveriam aparecer na vanguarda dum desenvolvimento cuidadoso da dignidade humana. Em última análise, a dignidade do ser humano é trabalhar pela dignidade dos seus semelhantes. 

Papa Francisco pediu fidelidade aos sacerdotes e religiosas


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO QUÉNIA, UGANDA E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
(25-30 DE NOVEMBRO DE 2015)

ENCONTRO COM OS SACERDOTES, OS RELIGIOSOS, AS RELIGIOSAS E OS SEMINARISTAS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Catedral de  St. Mary - Kampala (Uganda)
Sábado, 28 de Novembro de 2015

Discurso preparado pelo Santo Padre

Queridos religiosos,
Queridos seminaristas!

Estou feliz por estar convosco e agradeço as vossas cordiais boas-vindas. De modo particular, agradeço àqueles que falaram e deram testemunho das vossas esperanças e preocupações e sobretudo da alegria que inspira o vosso serviço ao povo de Deus no Uganda.

Alegro-me também por o nosso encontro ter lugar na véspera do primeiro Domingo do Advento, um tempo que nos convida a olhar para um novo começo. Preparamo-nos, também durante este Advento, para cruzar o limiar do Ano do Jubilar extraordinário da Misericórdia, que proclamei para toda a Igreja.

Aproximando-nos do Jubileu da Misericórdia, queria fazer-vos duas perguntas. A primeira: quem sois vós, como presbíteros ou futuros presbíteros e como pessoas consagradas? Em determinado sentido, a resposta é fácil: sois certamente homens e mulheres cujas vidas foram moldadas por um «encontro pessoal com Jesus Cristo» (Evangelii gaudium, 3).Jesus tocou os vossos corações, chamou-vos pelo nome e pediu-vos para O seguirdes, de coração indiviso, ao serviço do seu povo santo.

A Igreja no Uganda foi abençoada, na sua breve mas veneranda história, com um grande número de testemunhas – fiéis leigos, catequistas, sacerdotes e religiosos – que deixaram tudo por amor de Jesus: casa, família e, no caso dos mártires, a própria vida. Na vossa vida gasta tanto no ministério sacerdotal como na consagração religiosa, sois chamados a continuar esta grande herança, sobretudo através de actos simples de serviço humilde. Jesus quer servir-Se de vós para continuar a tocar os corações de cada vez mais pessoas: quer servir-Se da vossa boca para proclamar a sua palavra de salvação, dos vossos braços para abraçar os pobres que Ele ama, das vossas mãos para construir comunidades de autênticos discípulos-missionários. Oxalá nunca esqueçamos que o nosso «sim» a Jesus é um «sim» ao seu povo. As nossas portas, as portas das nossas igrejas, mas de modo especial as portas dos nossos corações devem permanecer constantemente abertas ao povo de Deus, ao nosso povo. Porque isso é o que nós somos. 

"Sede Misericordiosos" é o lema da Campanha para Evangelização 2015


Em sintonia com o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, que acontecerá de 8 de dezembro deste ano até 20 de novembro de 2016, o Campanha para a Evangelização (CE) 2015 traz como lema “Sede Misericordiosos”. A iniciativa, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), completou 17 anos a serviço das atividades pastorais da Igreja.

A Campanha iniciará na Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo e se estenderá até o terceiro domingo do Advento. É articulada pela Comissão Episcopal para a Campanha para a Evangelização da CNBB. O auge da Campanha será a coleta realizada nas missas e celebrações do domingo, 13 de dezembro

Este ano, a mobilização nacional promoverá iniciativas que visam refletir com a comunidade sobre a importância da acolhida e do perdão. “Queremos, pois, destacar que Evangelização e Misericórdia são duas faces de uma mesma ‘moeda’: evangelizar é anunciar a misericórdia divina; fazer experiência dessa misericórdia é entrar no coração do Evangelho”, explica o arcebispo de Salvador e vice-presidente da CNBB, dom Murilo Krieger. 

O lema escolhido também volta-se para o tempo litúrgico do Advento, período de preparação para o Natal, e início do Jubileu da Misericórdia. “É preciso levar em conta que no dia 8 de dezembro, o papa Francisco abrirá o Ano da Misericórdia. No domingo seguinte, quando este mesmo Ano Jubilar estiver sendo aberto nas dioceses, estaremos no ponto alto da Campanha para a Evangelização” comenta o primaz do Brasil, dom Murilo.  

EUA: Hóstia consagrada sangra na Igreja de São Francisco Xavier


A diocese de Salt Lake City, Utah (EUA) está investigando um possível milagre ocorrido na igreja de São Francisco Xavier, na localidade de Kearns, a 20km ao sul da capital do estado.

Segundo a mídia local, a hóstia consagrada, Corpo de Cristo, foi recebida por um menino que, ao que parece, não havia feito sua Primeira Comunhão. Ao perceber isso, um familiar do garoto devolveu a hóstia ao sacerdote, que a colocou em um copo d’água para que se dissolvesse, como se costuma fazer em casos semelhantes. Normalmente, em casos assim, a hóstia se dissolve em minutos.

Três dias depois, a hóstia consagrada não só continuava flutuando, senão que apresentava pequenas manchas de sangue, como se estivesse sangrando. Os paroquianos, ao saber do ocorrido, foram conferir o possível milagre e rezar diante da Hóstia Sangrante.

O diocese local criou um comitê para investigar o possível milagre eucarístico. Tal comitê é formado por dois sacerdotes, um diácono e um leigo, bem como por um professor de neurobiologia. A diocese assumiu a custódia da Hóstia Sangrante e esta não será exposta à adoração pública enquanto a investigação estiver em andamento. 

sábado, 28 de novembro de 2015

"Não esqueçam os pobres", diz Papa


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À ÁFRICA
– QUÊNIA, UGANDA e REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA -

DISCURSO
Visita à Casa de Caridade

Nalukolongo – Uganda
Sábado, 28 de novembro de 2015


Queridos amigos!

Obrigado pela vossa recepção calorosa. Grande era o meu desejo de visitar esta Casa da Caridade, que o Cardeal Nsubuga fundou aqui em Nalukolongo. Este lugar sempre apareceu associado com o empenho da Igreja a favor dos pobres, dos deficientes e dos doentes. Aqui, nos primeiros tempos, crianças foram resgatadas da escravidão e mulheres receberam uma educação religiosa. Saúdo as Irmãs do Bom Samaritano, que continuam esta obra estupenda, e agradeço os seus anos de serviço silencioso e feliz no apostolado.

Saúdo também os representantes de muitos outros grupos de apostolado, que cuidam das necessidades dos nossos irmãos e irmãs no Uganda. Penso, em particular, no grande e frutuoso trabalho feito com as pessoas doentes do SIDA. Sobretudo saúdo a quem habita nesta Casa e noutras como esta, e a quantos beneficiam das obras da caridade cristã. É que esta é mesmo uma casa! Aqui podeis encontrar carinho e solicitude; aqui podeis sentir a presença de Jesus, nosso irmão, que ama a cada um de nós com um amor que é próprio de Deus.

A partir desta Casa, quero hoje dirigir um apelo a todas as paróquias e comunidades presentes no Uganda – e no resto da África – para que não esqueçam os pobres. O Evangelho impõe-nos sair para as periferias da sociedade a fim de encontrarmos Cristo na pessoa que sofre e em quem passa necessidade. O Senhor diz-nos, em termos inequívocos, que nos julgará sobre isto. É triste quando as nossas sociedades permitem que os idosos sejam descartados ou esquecidos. É reprovável quando os jovens são explorados pela escravidão atual do tráfico de seres humanos. Se olharmos atentamente para o mundo ao nosso redor, parece que, em muitos lugares, campeiam o egoísmo e a indiferença. Quantos irmãos e irmãs nossos são vítimas da cultura atual do «usa e joga fora», que gera desprezo sobretudo para com crianças nascituras, jovens e idosos. 

Papa: "Chamai Deus em vossa ajuda, abri-Lhe o coração e Ele vos levantará, tomando-vos nos seus braços, e far-vos-á ver como amar".


VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
AO QUÉNIA, UGANDA E REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA
(25-30 DE NOVEMBRO DE 2015)

ENCONTRO COM OS JOVENS

DISCURSO DO SANTO PADRE

Antigo Aeroporto de Kololo, Kampala (Uganda)
Sábado, 28 de Novembro de 2015

Discurso preparado pelo Santo Padre

Santo Padre: Omukama Mulungi!
[Deus é bom!]

Os jovens: Obudde Bwoona!
[Agora e para sempre]

Prezados jovens, queridos amigos!

Estou feliz por me encontrar aqui partilhando estes momentos convosco. Desejo saudar os irmãos bispos e as autoridades civis presentes. Agradeço ao Bispo Paul Ssemogerere as suas palavras de boas-vindas. Os testemunhos de Winnie e Emmanuel reforçam a minha impressão de que a Igreja no Uganda é rica de jovens que desejam um futuro melhor. Hoje, se me permitirdes, quero confirmar-vos na fé, encorajar-vos no amor e, de modo especial, fortalecer-vos na esperança.

A esperança cristã não é mero optimismo; é muito mais. Tem as suas raízes na vida nova que recebemos em Jesus Cristo. São Paulo diz que a esperança não nos decepciona, porque, no Baptismo, o amor de Deus foi derramado nos nossos corações por meio do Espírito Santo (cf. Rm 5, 5). A esperança torna-nos capazes de confiar nas promessas de Cristo, na força do seu perdão, da sua amizade, do seu amor, que abre as portas para uma vida nova. Justamente quando embaterdes num problema, num insucesso, quando sofrerdes um revés, ancorai o vosso coração neste amor, porque ele tem o poder de mudar a morte em vida e de expulsar qualquer mal.

Assim, nesta tarde, quero convidar-vos, em primeiro lugar, a rezar para que este dom cresça em vós e possais receber a graça de vos tornardes mensageiros de esperança. Há tantas pessoas ao nosso redor que vivem em profunda ansiedade e até desespero. Jesus dissipa estas nuvens, se Lho permitirmos.

Gostaria também de partilhar convosco algumas reflexões a respeito de certos obstáculos que poderíeis encontrar no caminho da esperança. Todos vós desejais um futuro melhor, um emprego, saúde e bem-estar; e isso é bom. A bem do povo e da Igreja, quereis partilhar com os outros os vossos dons, as aspirações e o entusiasmo; e isso é muito bom. Mas às vezes, quando vedes a pobreza, quando vos deparais com a falta de oportunidades, quando experimentais insucessos na vida, pode surgir e crescer uma sensação de desespero. Podeis ser tentados a perder a esperança.

Já alguma vez vos aconteceu ver uma criança que, indo pela estrada, se vê obrigada a parar frente a uma poça de água que não é capaz de saltar nem contornar? Pode tentar fazê-lo, mas cai dentro e fica encharcada. Então, depois de várias tentativas, pede ajuda ao pai, que a agarra pela mão e fá-la passar rapidamente para o outro lado. Nós somos como aquela criança. A vida reserva-nos muitas poças de água. Mas não devemos superar todos os problemas e obstáculos apenas com as nossas forças. Deus está lá para agarrar a nossa mão… basta que O invoquemos.

O que pretendo dizer com isto é que todos, incluindo o Papa, nos deveríamos assemelhar àquela criança. Porque só se formos pequenos e humildes é que não teremos medo de pedir ajuda ao nosso Pai. Se já experimentastes este socorro, sabeis do que estou a falar. Temos de aprender a colocar a nossa esperança n’Ele, cientes de que o Pai está sempre presente, ao nosso dispor. Infunde-nos confiança e coragem. Mas – e isto é importante – seria um erro não partilhar esta experiência maravilhosa com os outros. Equivocar-nos-íamos se não nos tornássemos mensageiros de esperança para os outros. 

O testemunho dos mártires mostra que os prazeres mundanos e o poder terreno não dão alegria nem paz duradouras, diz Papa


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À ÁFRICA
– QUÊNIA, UGANDA e REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA -

HOMILIA
Santa Missa pelos Mártires Ugandeses

Santuário dos Mártires de Namugongo – Uganda
Sábado, 28 de novembro de 2015

«Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até aos confins do mundo» (Act 1, 8).

Desde a Idade Apostólica até aos nossos dias, surgiu um grande número de testemunhas que proclamam Jesus e manifestam a força do Espírito Santo. Hoje lembramos, com gratidão, o sacrifício dos mártires ugandeses, cujo testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja chegou, justamente, até «aos confins do mundo». Recordamos também os mártires anglicanos, cuja morte por Cristo dá testemunho do ecumenismo do sangue. Todas estas testemunhas cultivaram o dom do Espírito Santo na sua vida e, livremente, deram testemunho da sua fé em Jesus Cristo, mesmo a preço da vida, e vários deles numa idade muito jovem.

Também nós recebemos o dom do Espírito para nos fazer filhos e filhas de Deus, mas também para dar testemunho de Jesus e torná-Lo conhecido e amado em todos os lugares. Recebemos o Espírito, quando renascemos no Baptismo e quando fomos reforçados com os seus dons na Confirmação. Cada dia somos chamados a aprofundar a presença do Espírito Santo na nossa vida, a «reavivar» o dom do seu amor divino para sermos, por nossa vez, fonte de sabedoria e de força para os outros.

O dom do Espírito Santo é-nos concedido para ser partilhado. Une-nos uns aos outros como fiéis e membros vivos do Corpo místico de Cristo. Não recebemos o dom do Espírito só para nós mesmos, mas para nos edificarmos uns aos outros na fé, na esperança e no amor. Penso nos Santos José Mkasa e Carlos Lwanga que, depois de ter sido instruídos na fé pelos outros, quiseram transmitir o dom que receberam. Fizeram-no em tempos perigosos: não só a vida deles estava ameaçada, mas também a vida dos mais novos, confiados aos seus cuidados. Dado que tinham cultivado a fé e crescido no amor a Deus, não tiveram medo de levar Cristo aos outros, inclusive a preço da vida. A fé deles tornou-se testemunho; venerados hoje como mártires, o seu exemplo continua a inspirar muitas pessoas no mundo. Continuam a proclamar Jesus Cristo e a força da Cruz. 

Papa indica Cristo como modelo para professores e catequistas


VIAGEM DO PAPA FRANCISCO À ÁFRICA
– QUÊNIA, UGANDA e REPÚBLICA CENTRO-AFRICANA –

DISCURSO
Visita a Munyonyo e saudação aos Catequistas e Professores

Uganda
Sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Queridos catequistas e professores,
Queridos amigos!
Com afeto, vos saúdo a todos em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor e Mestre.

«Mestre»: como é belo este título! O nosso primeiro e maior mestre é Jesus. Diz-nos São Paulo que Jesus deu à sua Igreja não só apóstolos e pastores, mas também mestres, para edificar o Corpo inteiro na fé e no amor. Juntamente com os bispos, os presbíteros e os diáconos, que foram ordenados para pregar o Evangelho e cuidar do rebanho do Senhor, vós, como catequistas, tendes parte relevante na missão de levar a Boa Nova a todas as aldeias e lugares do vosso país.

Quero, antes de mais nada, agradecer-vos pelos sacrifícios que fazeis, vós e as vossas famílias, e pelo zelo e devoção com que realizais a vossa importante tarefa. Ensinais o que Jesus ensinou, instruís os adultos e ajudais os pais a fazer crescer os seus filhos na fé e, a todos, levais a alegria e a esperança da vida eterna. Obrigado pela vossa dedicação, pelo exemplo que dais, pela proximidade ao povo de Deus na sua vida cotidiana e pelos mais variados modos como plantais e cultivais as sementes da fé em todo este vasto território. Obrigado especialmente por ensinardes as crianças e os jovens a rezar.

Sei que o vosso trabalho, embora gratificante, não é fácil. Por isso vos encorajo a perseverar, pedindo aos vossos bispos e sacerdotes que vos ajudem com uma formação doutrinal, espiritual e pastoral capaz de vos tornar mais eficazes na vossa ação. Mesmo quando a tarefa se apresenta gravosa, os recursos pouquíssimos e os obstáculos enormes, far-vos-á bem lembrar que o vosso é um trabalho santo. O Espírito Santo está presente onde o nome de Cristo é proclamado. Está entre nós sempre que elevamos os corações e as mentes para Deus na oração. Ele dar-vos-á a luz e a força de que precisais. A mensagem, que transmitis, enraizar-se-á tanto mais profundamente no coração das pessoas quanto mais fordes não só mestres, mas também testemunhas. Que o vosso exemplo faça ver a todos a beleza da oração, o poder da misericórdia e do perdão, a alegria de partilhar a Eucaristia com todos os irmãos e irmãs.