Nem todo o mundo cristão segue o mesmo calendário.
Enquanto algumas tradições seguem o calendário gregoriano, outras seguem o
juliano. Assim, nem todos os cristãos celebram o Nascimento de Jesus no dia 25
de dezembro.
Veja como foram as celebrações de Natal em algumas
dessas tradições neste começo de janeiro e como os seus fiéis conviveram entre
si e com seus vizinhos não cristãos.
Cairo,
Egito: cristãos coptas
O presidente Abdel Fattah al-Sisi participou da
vigília de Natal celebrada na noite de 6 de janeiro pelo patriarca copta
ortodoxo Tawadros II, na catedral de São Marcos, no Cairo. Al-Sisi pediu
desculpas pelo atraso na reconstrução de igrejas destruídas por fanáticos
islâmicos, em especial durante os protestos de agosto de 2013, quando vândalos
ligados à Irmandade Muçulmana e a grupos salafistas atacaram cerca de 50
lugares cristãos.
É a segunda vez em toda a história que um
presidente egípcio participa da solenidade litúrgica do nascimento de Jesus. A
primeira foi no ano passado, com o mesmo al-Sisi presente nas celebrações da
Igreja copta.
Bagdá,
Iraque: cristãos caldeus
O patriarca caldeu Mar Louis Raphael Sako relatou à
agência AsiaNews que as celebrações de Natal na capital iraquiana foram compartilhadas
com os muçulmanos, que foram a maioria da população da cidade e do país. A
Igreja caldeia tem 30 paróquias em Bagdá e mais 35 igrejas afiliadas à
comunidade encabeçada pelo patriarca, que celebrou a missa de Natal “em sete
igrejas diferentes” e encontrou as igrejas repletas “de gente de muita fé e
muita esperança”.
“Muitas famílias muçulmanas participaram da missa
de meia-noite. Muita gente simples, que nos deu flores e nos ofereceu suas
saudações”. Nem tudo foi “doçura social”, no entanto: o patriarca de Bagdá foi
bastante firme contra as hipocrisias e falsas promessas politiqueiras e recusou
qualquer presente de “líderes religiosos e políticos” até que seja resolvida a
cruel situação de crise que martiriza o país, em particular desde que
famigerado grupo Estado Islâmico invadiu a cidade de Mossul e a planície de Nínive,
em 2014. O episódio sanguinário assassinou ou expulsou famílias cristãs e
yazidis; os sobreviventes continuam sendo alvo de violência, expropriações,
sequestros, islamização forçada dos filhos e postura hostil de algumas
vertentes do islã. “Precisamos de mudança real e concreta no Iraque: uma nova
cultura, não só discursos e declarações de fachada”, declarou o patriarca.
A comunidade cristã iraquiana doou dinheiro para
suprir as necessidades básicas de 2 mil famílias de Bagdá, não só cristãs, mas
também muçulmanas e yazidis. “É uma forma de testemunhar com as obras que somos
irmãos”, explica Mar Sako. “Estes atos concretos de misericórdia geram contato
e ajudam de verdade a formar vínculos, partilha, desejo de encontro. É uma
resposta à cultura de guerra e vingança, à falta de compaixão, de perdão e de
reconciliação, que são males que afligem o Iraque há muito tempo e o lançam num
redemoinho de violência e terror”.
Em entrevista a um popular programa de televisão
iraquiano, o patriarca se pronunciou com grande firmeza contra um islã fechado
e fundamentalista, fazendo votos de maior abertura. “Muitos me agradeceram”,
conta ele, “especialmente entre os próprios muçulmanos”.
Moscou,
Rússia: cristãos ortodoxos
O patriarca de Moscou, Kirill, perguntou aos fiéis
em sua mensagem de Natal, também celebrado em 7 de janeiro: “O que é mais pobre
do que uma gruta e mais humilde que os panos em que a riqueza divina
resplandece? Ao escolher a pobreza extrema para o mistério da nossa redenção,
Cristo renuncia a tudo o que este mundo considera importante: poder, riqueza,
glória, origens nobres e status social. Ele propõe outra lei de vida: a lei da
humildade e do amor, que vence o orgulho e a maldade”.
Kirill também falou da guerra na Ucrânia: “A luta
fratricida na terra ucraniana não deve dividir os filhos da Igreja, semeando o
ódio nos seus corações. Um cristão verdadeiro não pode odiar nem os próximos
nem os distantes. ‘Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem, para
que sejais filhos do vosso Pai celeste, que faz nascer o seu sol sobre maus e
bons e chover sobre justos e injustos’”.
Cidade do
Vaticano: cristãos católicos
Em coincidência com as celebrações de Natal em
várias tradições do mundo cristão, o papa Francisco anunciou em vídeo as suas
intenções de oração para o mês de janeiro, esperando que “o diálogo sincero
entre homens e mulheres de religiões diferentes dê frutos de paz e justiça”.
O diálogo inter-religioso, para ele, é “uma
condição necessária para a paz no mundo. Não devemos parar de rezar por esta
intenção. Temos de trabalhar juntos com quem pensa diferente. Só através do
diálogo poderemos eliminar a intolerância e a discriminação. Eu confio em vocês
para espalhar o meu pedido deste mês: que o diálogo sincero entre homens e
mulheres de religiões diferentes dê frutos de paz e justiça”.
Então… feliz Natal! Ainda!
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Aleteia
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