Circulou pelas redes sociais nos últimos dias a
proposta de uma “Marcha para Satanás”, que ocorreria em 17 de janeiro, em
diferentes cidades do Brasil, mas não aconteceu. A iniciativa, de acordo com os
responsáveis, seria uma crítica ao que chamou de “Estado teocrático” e
defenderia a liberdade. Diante disso, o Bispo auxiliar de Porto Alegre, Dom
Leomar Brustolin alerta para o significado desse ato, ressaltando que “a
questão simbólica não é inocente”.
“Se alguém preferir negar Cristo, é livre para tal,
entretanto, ao defender o culto a Satanás, deve recordar que ele é ausência de
luz”, adverte o Prelado.
Conforme destacou em seu artigo “Satanás no Estado
laico?”, “a organização do evento usou uma linguagem sedutora para que a
proposta fosse aceita pela sociedade”. Eles reivindicavam “o distanciamento das
posições religiosas, especialmente as cristãs, nas decisões legais que norteiam
o Brasil”.
“A marcha para a glória de Satanás queria ser
acolhedora de todas as classes supostamente excluídas pela religião e se
mostrava contra o fundamentalismo extremista”, explica o Bispo, acrescentando
que “essa marcha pretendia fazer com que as pessoas passassem a olhar o mundo
com outro perfil: sem tabus ou normas morais; com liberdade absoluta, sem culpa
ou pecado".
“Ensinam que o Deus judaico-cristão é
preconceituoso, e que no satanismo não há preconceito”.
Por outro lado, Dom Brustolin assinala que os cristãos
defendem a liberdade religiosa e sabem como a intolerância pode levar à uma
cultura de morte.
Da mesma forma, afirma que os cristãos entendem que
o Estado é laico. “Entretanto – ressalva –, a sociedade e a cultura não são
laicas. Elas são pautadas por valores, ideias e símbolos que expressam suas
crenças e seus ideais. Pretender uma isenção total desse conjunto de
fatores que constituem o ser humano é uma abstração”.
Para o Bispo auxiliar de Porto Alegre,
independentemente de ser maioria no Brasil, os cristãos não podem se calar
frente a propostas que “pretendam desprezar o que lhes é mais sagrado: a
dignidade da pessoa humana em sua dimensão integral e solidária”.
“Nem todos precisam concordar com a fé cristã, mas
os valores humanistas que o cristianismo comporta merecem a reflexão de todos”,
observa o Bispo, ao indicar que se trata de garantir a liberdade, acompanhada
pelo respeito à alteridade.
Nesse contexto, Dom Brustolin assinala que “a
questão simbólica não é inocente”. “Quando se pretende que Satanás seja o
referencial de uma crítica aos seguidores de Jesus Cristo, estabelece-se um
antagonismo que não é apenas religioso, mas também moral, político, social e
cultural”, indica.
O Prelado explica que, na visão cristã, Satanás “é
sempre o opositor a Deus, divisor que separa Deus do ser humano e o faz pensar
que pode ser feliz dessa forma”.
Ele cita o número 38 da Encíclica Dominum et
Vivificantem, de São João Paulo II, para esclarecer: “O espírito das trevas é
capaz de mostrar Deus como inimigo da própria criatura; e é, antes de tudo,
inimigo do homem, como fonte de perigo e ameaça ao homem”.
Por isso, alerta que, “se alguém cultua Satanás, ou
apenas usa esse simbolismo, pode não compreender o significado original e
profundo no qual ele se sustenta: a mentira, o engano, a corrupção, a ausência
do bem”.
Segundo o Bispos, “vivemos numa atmosfera de tanta
mentira que muita gente, até de forma impensada, acaba concordando com a
ausência da luz da verdade”.
Mas, Dom Brustolin vai além e destaca que em muitas
outras ocasiões também acontece a “marcha para Satanás”, por exemplo, “toda vez
que lemos notícias sobre violência, assassinatos, corrupção, mentiras, desprezo
pela vida alheia, tráfico humano, aborto, traições e tantas outras situações
que, independentemente da questão religiosa, a vida humana é desprezada”.
Diante disso, conclui afirmando que “precisamos
defender a vida. O que falta são muitas marchas pela vida!”.
_________________________________________
ACI Digital
Nenhum comentário:
Postar um comentário