O Quarto Domingo da Páscoa é o domingo do BOM
PASTOR. Depois de várias aparições de Cristo ressuscitado às mulheres, aos
apóstolos, aos discípulos, hoje Jesus se apresenta como o BOM PASTOR! É um
título de Cristo muito familiar aos primeiros cristãos.
A liturgia deste domingo convida-nos a meditar
na misericordiosa ternura de nosso Salvador, para que reconheçamos os direitos
que Ele adquiriu sobre cada um de nós com a sua morte.
No Evangelho (Jo 10, 27-30) encontramos Jesus,
o Bom Pastor, que diz: “as minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e
elas me seguem…” (Jo 10,27). De todas as imagens atribuídas a Jesus, esta, sem
dúvida alguma, é a mais querida. É uma imagem que transborda em ternura,
cuidado, vida, salvação, confiança, amizade e intimidade. Estas e muitas outras
características permitem à ovelha reconhecer a voz do Pastor em meio a tantas
outras vozes; mas permitem, também , que o Pastor reconheça e conheça as
ovelhas por seu próprio nome. Tudo isso nos faz ter uma certeza: todos temos um
valor particular aos olhos do Senhor.
A porta do aprisco está aberta a todos e para
passar por ela existe apenas uma única condição: ter a disposição para ouvir e
reconhecer a voz do Pastor. E quem aceita as condições para passar pela porta
do aprisco, será sempre muito bem acolhido e encontrará o dom da Ressurreição:
“Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais se perderão e ninguém vai arrancá-las
da minha mão” (Jo 10,28).
Para os cristãos, o Pastor por excelência é
Cristo: Ele recebeu do Pai a missão de conduzir o rebanho de Deus… Portanto,
Cristo deve conduzir as nossas escolhas.
Quem nos conduz? Qual é a voz que escutamos? A
voz da política, a voz da opinião pública, a voz do comodismo e da instalação,
a voz dos nossos privilégios, a voz do êxito e do triunfo a qualquer custo, a
voz da novela? A voz da televisão?
Cristo é o nosso Pastor! Ele Conhece as
ovelhas e as chama pelo nome, mantendo com cada uma delas uma relação muito
pessoal.
A existência humana é bem complexa para que se
possa vivê-la com segurança absoluta. Jesus, porém, oferece a quem O segue a
direção exata e a proteção eficaz para evitar os elementos que podem
prejudicar. Afirma o Sl 22(23): “ Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso,
nenhum mal eu temerei;estais comigo…”.
O Divino Pastor é quem pode, realmente,
ajudar, salvar e conservar a vida. Ele afirmou: “Eu vim para que todos tenham a
vida e a tenham em abundância” (Jo 10, 10).
Para distinguir a Voz do Pastor é preciso três
coisas: – Uma vida de oração intensa; um confronto permanente com a Palavra de
Deus e uma participação ativa nos sacramentos, onde recebemos a vida, que o
Pastor nos oferece.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Textos:
Atos 13, 14.43-52; Ap 7, 9.14b-17; Jo 10, 27-30
“Vejam se vocês são as suas ovelhas, vejam se
o conhecem”. Assim exortava São Gregório Magno numa homilia. Depois o mesmo
Papa e Santo continuava dizendo que há duas maneiras de conhecer: pela fé e
pelo amor, pela inteligência iluminada pela fé e pelo coração aquecido pela
caridade.
O conhecimento que vem da fé diz respeito a
verdades como a existência de um só Deus em três Pessoas realmente distintas:
Pai e Filho e Espírito Santo; a encarnação do Filho de Deus, ou seja, o fato do
Filho, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, ter se tornado homem por obra
do Espírito Santo nas entranhas puríssimas da Virgem Maria para a nossa
salvação; a vinda gloriosa de Jesus Cristo na consumação dos tempos, chamada
Parusia; entre outras verdades. Mais a fé não é só um conhecimento intelectual,
em primeiro lugar ela é uma entrega amorosa de todo nosso ser a Deus porque ele
se mostra como é, Amor, porque a sua Palavra arrebatou o nosso coração, porque
percebemos que não podemos ser felizes longe dele. A fé e o amor são virtudes
que vão, portanto, juntas.
No entanto, enquanto o conhecimento que vem da
fé se encontra mais relacionado com a nossa inteligência, o conhecimento que
vem do amor eleva a nossa vontade, o nosso querer. Humanamente falando, quando
nós sentimos alguma simpatia por uma determinada pessoa é muito mais fácil
conhecê-la e saber por intuição aquilo que ela deseja. Uma mãe, por exemplo,
sem estudar medicina, é capaz de detectar uma dor de ouvido do seu filhinho de
poucos meses que não fala e apenas chora. As mães têm um amor que intui, elas
sabem que quando a criança chora ou quer comer ou mamar ou tem alguma dor. Nós
também, quando amamos a Deus, temos-lhe simpatia, sabemos por co-naturalidade o
que ele quer de nós, qual é a sua vontade para a nossa vida. Nós também
intuímos aquilo que Deus quer que façamos.
Agora podemos voltar às palavras de São
Gregório: Será que nós somos, de fato, as suas ovelhas? Nós escutamos na
passagem do Evangelho de hoje: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as
conheço e elas me seguem” (Jo 10, 27). Jesus Cristo, Bom Pastor, conhece a cada
um de nós pelo nome, ele sabe o que há de mais íntimo em cada um de nós e que
nem nós mesmos chegamos a conhecer. O conhecimento que Jesus tem de cada um de
nós é perfeito. Nós, ao contrário, não o conhecemos perfeitamente. O que fazer?
Ouvir a voz do Pastor e segui-lo!
É preciso ouvir! Mas, há tanto barulho ao
nosso redor! Por outro lado, por mais que admiremos o silêncio, quando temos
oportunidade de fazer um pouco de silêncio, fazemo-lo com música. Que pena! Há
pessoas que não podem estar sequer cinco minutos em silêncio. Você já observou
como algumas pessoas ficam inquietas quando o sacerdote guarda uns minutinhos
de silêncio depois da proclamação do Evangelho ou depois da homilia, outras não
sabem o que fazer na ação de graças depois da comunhão caso não haja um canto.
O silêncio às vezes parece que nos incomoda! Outra coisa: você já notou que às
vezes numa discussão todo mundo está de acordo, mas não se entende? Finalmente,
quando chega alguém e diz que todos estão dizendo a mesma coisa e que a única diferença
está na ordem dos fatores, então talvez alguns percebam que o problema é que
eles não se escutavam.
Nós queremos seguir o Senhor e fazer a sua
vontade. Não a realizaremos, porém, se não o escutarmos atenciosamente. Como?
Com alguns propósitos concretos: escutar atentamente as leituras da Missa e a
homilia, ler a Sagrada Escritura procurando entendê-la, evitar tanto barulho
quando possível, fazer uns minutinhos de oração mental todos os dias. A oração
mental não é nenhum bicho de sete cabeças, basta ler um trecho do Evangelho,
por exemplo, e depois ficar uns minutinhos em silêncio conversando com Deus:
pense naquela passagem, imagine-a, converse com Jesus sobre a cena do
Evangelho, sobre a sua vida e a dos seus amigos, escute-o já que ele nos fala nesses
momentos. Uma outra coisa: se soubermos escutar, também descobriremos a voz de
Deus nas circunstâncias mais ordinárias da nossa vida: você vai ver como ele
vai pedir que a sua ajuda para animar aquele companheiro de trabalho que está
triste, para conversar um pouco com aquela pessoa que ninguém dá atenção, para
sorrir para aquela outra que parece que está sempre amargurada. Esse
conhecimento vem da fé e do amor; efetivamente, a fé atua pela caridade (cf. Gl
5,6).
PARA REFLETIR
Uma imagem muito comum neste tempo pascal é
aquela do Cordeiro “de pé, como que imolado” (Ap 5,6). Este Cordeiro,
eternamente diante do trono do Pai, é o Cristo no seu estado de perpétua
imolação e glória, de entrega sacrifical e ao mesmo tempo vitoriosa, por nós.
Mas, misteriosamente, este Cordeiro é também Pastor: “O Cordeiro que está no
meio do trono será o seu pastor e os conduzirá às fontes da água da vida”. Que
imagem impressionante: um cordeiro que é pastor que dá vida às ovelhas. Pois
bem, Jesus afirmou: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas
ovelhas” (Jo 10,11). Estejamos atentos: este dar a vida possui dois sentidos:
primeiro: Cristo nos dá a vida porque morre por nós, por nós entrega sua vida
humana: “Eu dou minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10,15). É, portanto, um
pastor que ama profundamente o seu rebanho: “As minhas ovelhas escutam a minha
voz, eu as conheço e elas me seguem”. Num segundo sentido, Cristo dá a vida
porque transmite às ovelhas a vida divina, a vida eterna, a vida glorificada
que ele recebeu do Pai na ressurreição: “Eu dou-lhes a vida eterna e elas
jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão!” Que afirmações
estupendas! Nosso Pastor, que por nós se fez Cordeiro imolado, dá-nos a vida
eterna e imperecível, uma vida que nos saciará eternamente! Cristão,
compreende: como é grande, como é concreta, como é verdadeira a tua esperança,
como é certa a tua herança!
Esta vida, que o Cordeiro-Pastor nos prepara,
é para todos, é em abundância. Isto já aparece na primeira leitura: diante da
recusa dos judeus como um todo em acolher o Evangelho da salvação em Jesus, o
Apóstolo volta-se para os pagãos: “Era preciso anunciar a palavra de Deus
primeiro a vós, judeus. Mas, como a rejeitais e vos considerais indignos da
vida eterna, sabei que vamos dirigir-nos aos pagãos”. E estes, cheios do
Espírito Santo, ficaram cheios de alegria. Eis! A salvação que Cristo nos
trouxe, com sua morte e ressurreição, com seu mistério pascal, é plena, é total
e é para todos[1]!
É com estas idéias e sentimentos no coração
que devemos, agora, contemplar a estupenda imagem que o Apocalipse nos
apresenta na liturgia de hoje. Toda a humanidade, “uma multidão imensa de gente
de todas as nações, tribos, povos e línguas, que ninguém podia contar”… de pé,
diante do trono e do Cordeiro”. Pensemos bem! É toda esta humanidade tão
sofrida, de vida tão frágil, de esperança tão incerta, que é chamada a este
momento tão grandioso: de pé (posição de quem venceu, de quem está vivo) diante
do trono de Deus e do Cordeiro, o Cristo nosso Senhor, Aquele que venceu!
Observem que nossa esperança nada tem de espírito de seita. A salvação não é
para um grupinho de eleitos que excluem os demais farisaicamente! Não! Nunca!
Deus quer “que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade” (1Tm 2,4). Os cristãos têm o dever de olhar o mundo com amor
benevolente. Nós, amados por Deus em Cristo, não podemos guardar só para nós
esse amor e essa salvação: é preciso anunciá-la, comunicá-la, e com um coração
bom, benévolo para com o mundo: nunca uma atitude de seita, de acusação, de
fechamento! Dizer a verdade, sim; anunciar a verdade, sim; denunciar o erro e o
pecado, sim; mas,com uma atitude de amor e respeito, de benignidade, como o
coração do Bom Pastor, que deu a vida pelas ovelhas e quis morrer pelo rebanho!
Estes eleitos “trajavam vestes brancas”
símbolos da glória, de vida, da pureza e da imortalidade; “traziam palmas na
mão”, símbolo da vitória. Quem são eles? “São os que vieram da grande tribulação.
Lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro”. Que imagem
fantástica! É a multidão dos cristãos de todos os tempos, que perseveraram e
vencerão no combate das tribulações desta vida… às vezes, até à morte!
Pensemos: somos nós, se formos fiéis no combate do Cristo; somos nós, se
perseverarmos e guardarmos a fé e a esperança no Senhor nas lutas e provações
desta vida! Estejamos atentos: “lavaram e alvejaram as vestes no sangue do
Cordeiro!” Sangue bendito e precioso, que lava, que purifica, que alveja!
Nenhum de nós chegará diante do trono limpo por sua própria limpeza, mas sim
pelo sangue do Cordeiro que é nosso pastor! “Nunca mais terão fome, nem sede.
Nem os molestará o sol, nem algum calor ardente”. Bendito Cordeiro, bendito
Pastor, bendito Cristo-Senhor, que nos dá uma vida tão plena! Ele mesmo nos
tinha prometido: “Quem vem a mim nunca mais terá fome e quem crê em mim nunca
mais terá sede” (Jo 6,35). Bendito Jesus, que é tão fiel! “E o Cordeiro, que
está no meio do trono, será seu pastor e os conduzirá às fontes da água da
vida”. Aonde nos conduzirá o Pastor? Que lugar é este, com tanta vida e tanto
frescor e consolação? Escutem a Palavra: “Aquele que está sentado no trono os
abrigará na sua tenda… E Deus enxugará as lágrimas de seus olhos!” Eis, irmãos,
aonde o Cristo imolado e ressuscitado nos conduz: à tenda do coração do Pai,
para nos aconchegar, para nos consolar, para nos enxugar as lágrimas, para nos
dar a vida em abundância: “Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos,
e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. Eu e o Pai somos uma só coisa!”
É por isso, caríssimos, que a Páscoa de Cristo
é também nossa: sua vitória é penhor da nossa, é certeza de nossa esperança
agora e plenitude um dia. Vivamos fielmente os combates do presente,
deixemo-nos guiar pelo Bom Pastor, lavemos nossas vestes no sangue do Cordeiro
e sejamos herdeiros da vida que ele nos prepara. Ele, bendito pelos séculos dos
séculos. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário