Muitos
cobram da Igreja um pronunciamento sobre o momento político. Permanecendo no
campo dos princípios, “a Igreja não tem soluções técnicas para oferecer e não pretende
de modo algum imiscuir-se na política dos Estados, mas tem uma missão ao
serviço da verdade para cumprir, em todo o tempo e contingência, a favor de uma
sociedade à medida do homem, da sua dignidade, da sua vocação... (Bento XVI,
Caritas in Veritate, 9). “A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias
mãos a batalha política... não pode nem deve se colocar no lugar do Estado. Mas
também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se
nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais,
sem as quais a justiça... não poderá firmar-se nem prosperar” (Bento XVI, Deus
caritas est, 28). “Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a se
preocupar com a construção de um mundo melhor” (Francisco, EG 183).
Assim
sendo, seguindo essa orientação, a CNBB, em sua 54ª Assembleia Geral, sobre o
impeachment da Presidente, não emitiu juízo jurídico ou político, “pois tal
procedimento cabe às instâncias competentes, respeitado o ordenamento jurídico
do Estado democrático de direito”. Mas adverte que “a crise atual evidencia a
necessidade de uma autêntica e profunda reforma política, que assegure efetiva
participação popular, favoreça a autonomia dos poderes da República, restaure a
credibilidade das instituições e garanta a governabilidade”.
O tema
central desta Assembleia dos Bispos foi sobre a ação dos Cristãos Leigos na
Igreja e na sociedade. Se a hierarquia da Igreja não se intromete na política,
os fiéis leigos têm essa obrigação: “Para animar cristãmente a ordem temporal,
... os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na
política, ou seja, da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa,
administrativa e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o
bem comum... A Igreja louva o trabalho dos se dedicam ao bem da nação e tomam
sobre si o peso de tal cargo, a serviço dos homens” (S. J. Paulo II, Christif.
Laici, 42).
O
ambiente político, porém, é cheio de ciladas e miragens enganadoras. Muitas
vezes, agremiações e partidos enganam a muitos pela semelhança da sua ideologia
com a doutrina da Igreja, especialmente com relação ao socorro aos pobres e
marginalizados. Por isso, a Igreja adverte: “Há cristãos, hoje em dia,
que se sentem atraídos pelas correntes socialistas e pelas suas diversas
evoluções. Eles procuram descobrir aí certo número de aspirações, que acalentam
em si mesmos, em nome da sua fé..., contudo, tal corrente foi e continua a ser,
em muitos casos, inspirada por ideologias incompatíveis com a fé cristã...
(Paulo VI, Octogesima Adveniens, 31). “O socialismo, como doutrina ou fato
histórico ou ação, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da
verdade e da justiça nos pontos sobreditos, não pode conciliar-se com a
doutrina católica, pois concebe a sociedade de modo completamente avesso à
verdade cristã” (Pio XI, Quadragesimo Anno, 116).
Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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