No processo de
Impeachment da presidente Dilma Rousseff, após a votação de domingo passado,
acrescentou-se mais um tema nos debates da atual crise. Na hora da votação,
cada deputado federal, quando foi votar, também justificou as razões do seu sim
ou não. As justificativas geraram as mais diferentes reações nos brasileiros:
perplexidade, decepção, desânimo, inquietações, insatisfação, etc. Faço a minha
reflexão sobre o uso do nome de Deus, que foi invocado 59 vezes pelos
deputados.
Na tradição
judaico-cristã o uso do nome de Deus está incluído nos mandamentos: “Não
pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão” (Ex 20, 7). Isso significa
respeitar o nome de Deus pelo fato do nome pertencer a ordem da confiança e da
intimidade. O nome do Senhor é santo, por isso merece reverência, e o seu
uso se fará somente para louvá-lo, bendizê-lo e glorificá-lo.
O segundo
mandamento proíbe o abuso do nome de Deus, isto é, o seu uso inconveniente, em
situações que possam gerar várias interpretações e para coisas fúteis.
Apelando-se para o nome de Deus para dar credibilidade aquilo que é dito ou à
posição tomada, na verdade está-se empenhando a honra, a fidelidade, a
veracidade e a autoridade divinas. Ao invocar o nome de Deus, Ele está sendo
colocando como testemunha. Ser infiel ao que foi dito é abusar do nome de Deus,
e de certo modo, fazer de Dele um mentiroso.
Jesus, logo após
proferir as Bem-aventuranças (Mt 5,1-12), retoma ensinamentos do Antigo
Testamento. Em Mateus, capítulo 5, versículos 33 a 37, Ele fala explicitamente
sobre a veracidade da fala e dos argumentos. Orienta a não apelar ao juramento,
mas que, simplesmente, “seja o vosso sim, sim e o vosso não, não. O que passa
disso vem do Maligno”. A discrição em recorrer a Deus na linguagem caminha de
mãos dadas com a atenção respeitosa à sua presença, testemunhada, ou
desprezada, em cada uma das nossas afirmações. Viver na verdade, no
discernimento e na justiça é o sinal mais evidente que se está em sintonia com
o nome de Deus.
Passando do nome
de Deus para o nosso nome. O nome de todo ser humano é sagrado. O nome é a
imagem da pessoa. Exige respeito, em sinal da dignidade de quem o leva. Ninguém
admite ou tolera que o seu nome seja usado de forma indevida, principalmente
quando é usado como argumento para justificar algo que não concordamos ou a
ausência de autorização. De forma análoga, o nome de Deus não pode ser usado em
vão, ou seja, para votar basta simplesmente dizer: sim ou não. Que o sim ou o
não sejam fruto maduro da verdade, da justiça e do discernimento.
Dom Rodolfo Luis Weber
Arcebispo de Passo Fundo
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