DECLARAÇÃO DA CNBB SOBRE O MOMENTO NACIONAL
“Quem pratica a verdade aproxima-se da luz” (Jo 3,21).
Nós,
bispos católicos do Brasil, reunidos em Aparecida, na 54ª Assembleia Geral da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), frente à profunda crise
ética, política, econômica e institucional pela qual passa o país, trazemos, em
nossas reflexões, orações e preocupações de pastores, todo o povo brasileiro,
pois, “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e
mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são
também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos
de Cristo” (Gaudium et Spes, 1).
Depois de
vinte anos de regime de exceção, o Brasil retomou a experiência de um Estado
democrático de direito. Os movimentos populares, organizações estudantis,
operárias, camponesas, artísticas, religiosas, dentre outras, tiveram
participação determinante nessa conquista. Desde então, o país vive um dos mais
longos períodos democráticos da sua história republicana, no qual muitos
acontecimentos ajudaram no fortalecimento da democracia brasileira. Entre eles,
o movimento “Diretas Já!”, a elaboração da Carta Cidadã, a experiência das
primeiras eleições diretas e outras mobilizações pacíficas.
Neste
momento, mais uma vez, o Brasil se defronta com uma conjuntura desafiadora. Vêm
à tona escândalos de corrupção sem precedentes na história do país. É verdade
que escândalos dessa natureza não tiveram início agora; entretanto, o que se
revela no quadro atual tem conotações próprias e impacto devastador. São cifras
que fogem à compreensão da maioria da população. Empresários, políticos,
agentes públicos estão envolvidos num esquema que, além de imoral e criminoso,
cobra seu preço.
Quem paga
pela corrupção? Certamente são os pobres, “os mártires da corrupção” (Papa
Francisco). Como pastores, solidarizamo-nos com os sofrimentos do povo. As
suspeitas de corrupção devem continuar sendo rigorosamente apuradas. Os
acusados sejam julgados pelas instâncias competentes, respeitado o seu direito
de defesa; os culpados, punidos e os danos, devidamente reparados, a fim de que
sejam garantidas a transparência, a recuperação da credibilidade das
instituições e restabelecida a justiça.
A forma
como se realizam as campanhas eleitorais favorece um fisiologismo que contribui
fortemente para crises como a que o país está enfrentando neste momento.
Uma das
manifestações mais evidentes da crise atual é o processo de impeachment da
Presidente da República. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil acompanha
atentamente esse processo e espera o correto procedimento das instâncias
competentes, respeitado o ordenamento jurídico do Estado democrático de
direito.
A crise
atual evidencia a necessidade de uma autêntica e profunda reforma política, que
assegure efetiva participação popular, favoreça a autonomia dos Poderes da
República, restaure a credibilidade das instituições, assegure a
governabilidade e garanta os direitos sociais.
De acordo
com a Constituição Federal, os três Poderes da República cumpram integralmente
suas responsabilidades. O bem da nação requer de todos a superação de
interesses pessoais, partidários e corporativistas. A polarização de posições
ideológicas, em clima fortemente emocional, gera a perda de objetividade e pode
levar a divisões e violências que ameaçam a paz social.
Conclamamos
o povo brasileiro a preservar os altos valores da convivência democrática, do
respeito ao próximo, da tolerância e do sadio pluralismo, promovendo o debate
político com serenidade. Manifestações populares pacíficas contribuem para o
fortalecimento da democracia. Os meios de comunicação social têm o importante
papel de informar e formar a opinião pública com fidelidade aos fatos e
respeito à verdade.
Acreditamos
no diálogo, na sabedoria do povo brasileiro e no discernimento das lideranças
na busca de caminhos que garantam a superação da atual crise e a preservação da
paz em nosso país. “Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a se
preocupar com a construção de um mundo melhor” (Papa Francisco).
Pedimos a
oração de todos pela nossa Pátria. Do Santuário de Nossa Senhora Aparecida,
invocamos a bênção e a proteção de Deus sobre toda a nação brasileira.
Aparecida
- SP, 13 de abril de 2016.
Dom
Sergio da Rocha
Arcebispo
de Brasília
Presidente da CNBB
|
Dom Murilo Sebastião Ramos
Krieger, SCJ
Arcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente
da CNBB
|
Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB
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