Todos sabemos
que o amado povo do Rio de Janeiro tem uma bela devoção a São Jorge, o assim
chamado “santo guerreiro”. Isso eu aprendi logo no primeiro ano que assumi a
missão de servir a esta Igreja nesta cidade. Damos graças a Deus por esta
devoção! Temos poucas informações sobre a vida de São Jorge. O carinho de seus
devotos acrescentou elogios em sua vida, dando algumas características daquilo
que o coração fala e admira, embora nem sempre corresponda a fatos
históricos.
Temos na
antiguidade vários santos mártires que foram soldados: São Sebastião, nosso
padroeiro, Santo Expedito, celebrado no dia 19 de abril, e São Jorge, que
comemoramos dia 23 de abril.
Trago aqui
alguns poucos fatos que são de domínio público em livros e na internet: a vida
de São Jorge se dá no século III, quando Diocleciano era imperador de Roma:
havia nos domínios do seu vasto Império um jovem soldado chamado Jorge de
Anicii. Filho de pais cristãos, converteu-se a Cristo ainda na infância, quando
passou a temer a Deus e a crer em Jesus como seu único e suficiente salvador
pessoal. Nascido na antiga Capadócia, região que atualmente pertence à Turquia,
Jorge mudou-se para a Palestina com sua mãe, após a morte de seu pai. Tendo
ingressado para o serviço militar, distinguiu-se por sua inteligência, coragem,
capacidade organizativa, força física e porte nobre.
Foi promovido a
capitão do exército romano devido à sua dedicação e habilidade. Tantas
qualidades chamaram a atenção do próprio Imperador, que decidiu lhe conferir o
título de Conde. Com a idade de 23 anos, passou a residir na corte imperial em
Roma, exercendo altas funções. Nessa mesma época, o Imperador Diocleciano
traçou planos para exterminar os cristãos. No dia marcado para o senado
confirmar o decreto imperial, Jorge levantou-se no meio da reunião,
declarando-se espantado com aquela decisão, e afirmou que os ídolos adorados
nos templos pagãos eram falsos deuses.
São Jorge foi um
grande defensor e testemunha da fé cristã. Com grande coragem e sua fé em
Jesus Cristo como Senhor e salvador dos homens. Indagado por um cônsul sobre a
origem desta ousadia, Jorge prontamente respondeu-lhe que era por causa da
verdade. O tal cônsul, não satisfeito, quis saber: "o que é a
verdade?". Jorge respondeu: "A verdade é meu Senhor Jesus Cristo, a
quem vós perseguis, e eu sou servo de meu redentor Jesus Cristo, e n’Ele
confiado me pus no meio de vós para dar testemunho da Verdade." Como Jorge
mantinha-se fiel a Jesus, o Imperador tentou fazê-lo desistir da fé, torturando-o
de vários modos. E, após cada tortura, era levado perante o Imperador, que lhe
perguntava se renegaria a Jesus para adorar os ídolos.
A fé deste servo
de Deus era tamanha que muitas pessoas passaram a crer em Jesus e confessá-Lo
como Senhor, por intermédio do testemunho e da pregação do jovem soldado
romano. Conta-se que seu testemunho de fidelidade e amor a Deus arrebatou uma
geração de incrédulos da época. Por fim, Diocleciano mandou degolar o jovem e
fiel discípulo de Jesus, em 23 de abril de 303. Logo, a devoção a “São” Jorge
tornou-se popular. Celebrações e petições a imagens que o representavam se
espalharam pelo Oriente e, depois das Cruzadas, tiveram grande entrada no
Ocidente.
O início de sua
popularidade ocorreu no auge da perseguição aos cristãos pelo imperador romano
Deocleciano – final do século III, quando o ousado guerreiro passou a defender
com muita fé o cristianismo. A imagem de São Jorge é representada por um jovem
vestido com uma armadura, sentado em um cavalo branco com uma lança
atravessando o dragão, pois o santo é imortalizado no “conto” em que mata um
dragão. No tema deste ano em nossa Arquidiocese para essa festa, “Cavaleiro da
Misericórdia”, nós recordamos os vários dragões que hoje existem e que é
necessário, como Igreja, a empunharmos a espada da Palavra de Deus para
eliminar do meio de nossa sociedade.
São Jorge, que é
santo da Igreja Católica, traz, porém, um apreço de inúmeras pessoas e grupos
que o têm em grande consideração. São Jorge é patrono da Inglaterra, Portugal,
Geórgia, Catalunha, Aragão, Lituânia, da cidade de Moscou e de muitos outros
locais e entidades. Quando recebi neste ano a visita do Patriarca de Moscou,
Kiril, o presente que lhe dei foi justamente uma imagem de São Jorge, patrono
de sua cidade. Muito venerado também em outros lugares, inclusive em todo o
nosso Estado. Seu culto na Igreja, mesmo com poucos dados históricos, e mesmo
com as dificuldades encontradas na comprovação das atas de seu sofrimento,
remonta ao século V, e com as "cruzadas", através da "legenda
dourada", o fizeram popular no Ocidente.
Os restos
mortais de São Jorge foram transladados para Lida (ou Lod, antiga Dióspolis),
que é uma cidade da região da atual Israel e foi onde teria residido sua mãe.
Aí ele foi sepultado, e mais tarde o imperador cristão Constantino mandou
erguer um suntuoso oratório aberto aos fiéis, para que a devoção ao santo fosse
espalhada por todo o Oriente. Dessa maneira foi propagada a sua devoção por
meio do seu belo testemunho de seguidor de Jesus e homem que deu a sua própria
vida por Aquele que é a Suprema Verdade.
Neste dia em que
milhares de pessoas se deslocam até as igrejas, capelas e oratórios de São
Jorge para manifestar seu carinho e a busca de ver nesse homem de Deus um
grande exemplo de vida e um intercessor junto a Deus, contemplemos a todos com
os olhos da fé e oremos para que todos busquem a vida nova em Cristo.
Ao olhar para
São Jorge possamos, a exemplo dele, lutar contra o dragão do mal para sermos
vencedores nesta batalha contra os questionamentos da nossa fé. Que com a mesma
coragem professemos esta nossa fé neste tempo de tantas questões e problemas, e
que, com o coração aberto, vivamos como irmãos e irmãs que em Cristo se
amam.
No seu dia, com
grande devoção, quero pedir pela paz em nossa amada cidade de São Sebastião do
Rio de Janeiro e em nosso Estado. Que São Jorge nos ensine a dialogar
permanentemente na defesa de nossa fé e na construção da paz. E que, pela
intercessão de São Jorge, possam descer sobre as nossas vidas muitas bênçãos de
Deus!
Cardeal
Orani João Tempesta, O.Cist.
Arcebispo
do Rio de Janeiro (RJ)
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