Os jornalistas
estrangeiros estão querendo entender o que aconteceu no Brasil, com a recente
condenação da Presidente da República pela Câmara dos Deputados. Não é fácil
dar uma explicação cabal e satisfatória.
É o típico
episódio que nos deixa perguntando a quantas andamos na construção de nossa
nacionalidade. E aí as perguntas aumentam o leque das causas que estão por trás
dos acontecimentos.
É sintomático,
por exemplo, que ninguém se deu conta que a data, 17 de abril, recordava o
massacre de Eldorado dos Carajás. Certamente porque aquele episódio ainda
incomoda, e deveria ser colocado no esquecimento. Em todo o caso, foi nítida a
tendência de transformar uma votação carregada de consequências, em simples
espetáculo a divertir uma plateia de dimensões nacionais.
Assim, para
muitos, o domingo à tarde teve uma opção diferente de passar o tempo, para
retomar na segunda-feira a faina de sempre.
O difícil é ler
os acontecimentos, e perceber o que eles nos revelam sobre a situação do país.
Pensar o país, eis o desafio. Superar a dimensão de espetáculo que diverte,
para assumirmos a postura de quem se pergunta como viabilizar um projeto de
país, que seja abrangente e adequado às circunstâncias que a realidade e a
história nos proporcionam.
Pensar é
laborioso. E muitos preferem deixar esta tarefa para outros. Ao passo que a
primeira condição para construirmos um país é a participação consciente
dos cidadãos, que precisa começar pela definição de um projeto que contemple
todas as dimensões da convivência social.
Foi sintomático
o que aconteceu na última assembleia da CNBB. Foi apresentado um subsídio,
denso e consistente, com a finalidade de estimular a reflexão sobre o país, com
o título: “Pensando o Brasil”. A reação dos bispos mostrou que a maioria
rejeitava o texto, não porque discordasse do conteúdo, mas porque ele exigia um
esforço de leitura e de reflexão. Quando se prefere não pensar, a
situação fica perigosa, pois cedemos o espaço para quem pensa, rapidamente, na
defesa dos próprios interesses, e não olha o bem comum.
Anos atrás a
CNBB empreendeu um amplo processo de reflexão sobre “O Brasil que nós
queremos”, ou “O Brasil que a gente quer”. Em termos de princípios, deu para
chegar a uma definição abrangente, de um Brasil “politicamente democrático,
economicamente justo, socialmente solidário, culturalmente plural,
regionalmente diversificado, ecologicamente sustentável, e religiosamente
ecumênico”.
Nas utopias é
fácil ter consenso. O desafio é passar das utopias para a realidade. Aí se
exige um trabalho atento, consciente, persistente, incansável, a partir da
própria cidadania, para tornar possível algumas mudanças que são urgentes e
estratégicas. A começar, finalmente, pela reforma política, onde deve ser
proibida a doação de empresas para candidatos. Pois estas doações se tornaram
em fonte principal do desvio de recursos públicos para interesses particulares.
Em todo o caso,
cabe agora a cada um de nós, fazer do episódio de domingo um estimulo para
continuar “pensando o Brasil”, e agindo de acordo com nossas convicções, que
precisam ser partilhadas, em vista de chegarmos a grandes consensos, que são
indispensáveis para o enfrentamento democrático dos graves problemas que
ameaçam inviabilizar “o Brasil que nós queremos”.
A importância de
um candidato não se mede pelo dinheiro que usa para fazer sua campanha. Mas sim
pela consistência de suas propostas, e pelo testemunho de vida que ele
apresenta.
Dom Demétrio Valentini
Bispo Emérito de Jales
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News.Va
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