Quem já me conhece (ainda que pelo blog ou
virtualmente), sabe que nem sempre fui católico, que tive meus problemas com a
religião, com o Papa e etc. Sabe também que isso mudou a partir de um momento
muito especial em minha vida, quando tive uma experiência pessoal com Cristo, e
a partir daí busquei cada vez mais me aprofundar sobre a Igreja Católica e como
ser um bom católico. Em verdade este aprofundamento é bom, como já defendi
várias vezes antes, mas tenho visto várias situações entre os católicos que me
assustam.
Este aprofundamento na fé e na Igreja eu defendo e
incentivo já faz algum tempo, e realmente acho necessário para evitar que
qualquer pessoa assuma a religião católica de forma superficial, mas tenho
visto pessoas que decidiram estudar, e estudar, e se aprofundar, e se tornaram
pessoas chatas, transmitindo aos outros um Deus de citações filosóficas e
teológicas, ou ainda, tornaram-se como animais irados que urram e cospem
(impondo) seus pensamentos aos demais.
Devo deixar claro que não sou versado em teologia,
filosofia, não li a Suma Teológica de São Tomás de Aquino, não conheço de cor e
salteado os pensamentos dos santos, Papas e documentos da Igreja, mas o pouco
que aprendi me fez amar a Deus, a Igreja e ao Papa.
Pelo que vejo muitos fazem questão de ler, decorar
e usar o que encontraram para fundamentar o que defendem. Não estão tentando um
aprofundamento na fé, mas sim fundamento para atacar "seus inimigos",
e hoje o principal tem sido o Papa Francisco.
Pois é, por mais estranho que possa parecer para
muita gente, existe um número considerável de católicos que atacam diariamente
o Papa Francisco, sendo que alguns já disseram que querem que ele morra logo.
Vejam, estamos falando de pessoas que batem no peito e gritam toda a sua
"catolicidade" ao mundo, colocam-se como piedosas quando falam de
experiência litúrgica e mística, mas já na frase seguinte (que pode ser em um
post do facebook) fazem duras críticas ao Santo Padre, chamando-o de hegere,
apóstata, etc., e desejando a sua morte.
Gosto muito de umas palavras de São Pio X (Alocução
aos Padres da Confraria "A União Apostólica" de 18 novembro 1912),
acerca de como se amar o Papa:
São Pio X |
(...) É por isso que, quando se ama ao Papa, não se
fica a discutir sobre o que ele manda ou exige, a procurar até onde vai o dever
rigoroso da obediência, e a marcar o limite desta obrigação. Quando se ama o
Papa, não se objeta que ele não falou muito claramente, como se ele estivesse
obrigado a repetir diretamente no ouvido de cada um sua vontade e de exprimi-la
não somente de viva voz, mas cada vez por cartas e outros documentos públicos. Não se põe em dúvida suas ordens, sob fácil
pretexto, para quem não quer obedecer, de que elas não dimanam diretamente
dele, mas dos que o rodeiam! Não se limita o campo onde ele pode e deve exercer
sua autoridade; não se opõe à autoridade do Papa a de outras pessoas, por muito
doutas que elas sejam, que diferem da opinião com o Papa. Por outro parte, seja
qual for sua ciência, falta-lhes santidade, pois não poderia haver santidade
onde há dissentimento com o Papa. (...)
Recentemente um rapaz me disse que estas palavras
foram direcionadas apenas aos padres da Confraria "A União
Apostólica", e portanto ele não estaria sujeito a este pensamento. Esta
ideia, para mim, é extremamente temerosa, pois eu não acredito que a
"regra de como amar o Papa" varie de acordo com cada indivíduo. Tenho
plena certeza de esta resposta me foi dada na intenção dele dizer que é livre
para falar o que quiser do Santo Padre, apenas porque não gosta do Papa
Francisco.
Chegamos ao ponto de escolher o que nos interessa
dentro do Magistério da Igreja, para "termos autorização" de atacar o
Papa. São pessoas que agem da mesma forma como dizem que os advogados agem (eu
sou advogado e não concordo com essa ideia, mas a comparação será útil),
procurando "lacunas ou interpretações" no Magistério para se dar
autorização de fazer ou dizer algo. Isso, em meu conceito, é má-fé religiosa.
O desejo de ir contra o Papa Francisco é tão
grande, que qualquer coisa que ele diga ou faça será alvo de ataques. Dou um
exemplo prático. No facebook eu fiz o seguinte comentário:
Vejam a resposta que me deram:
Ou seja, o Papa Francisco estava sendo criticado
por uma EVENTUAL (ainda que improvável) possibilidade, e a pessoa se achava em
pleno direito de ficar reclamando disso. Se eu pudesse criar um nome para isso,
eu diria que é "Síndrome de Peru Eventual", pois além de morrer na
véspera (assim como se matam os perus na véspera do Natal para ser assado),
sofre por algo que não existe nenhum indício de que aconteça. Tudo isso apenas
porque o Papa fez alguma coisa.
Este tipo de coisa está cada vez mais constante, e
quem faz isso são pessoas que se acham os mais inteligentes e justos no
catolicismo, são aqueles que não erram nunca, estão sempre certos em suas
interpretações do Magistério, ainda que muitos destes não passem de papagaios
de pirata, que ficam apenas repetindo o que outros lhe disseram.
Há pouco tempo tive a "experiência" de
ser chamado de herege modernista e de ter preguiça intelectual, apenas porque
disse que cansei de gente se dizendo fiel à Igreja e que fica metendo o pau no
Papa e defendendo que o Concílio Vaticano II é a praga na Igreja. Sinceramente,
prefiro ficar na minha preguiça intelectual do que ficar aguentando gente chata
que se acha a última coca-cola gelada católica super teológica e filosófica da
face da Terra.
Destes que se acham os santos de Deus, que se dizem
católicos seguidores da Igreja e do Papa, se espera uma postura como a de
Cristo, que acolheu e ensinou, e no máximo lamentou por aqueles que decidiram
não o seguir. Mas preferem criar o cisma dentro da Igreja e agem como aquele
que prefere a divisão, o demônio.
Concordo que o Papa Francisco não pode ser
comparado ao Papa Bento XVI em termos de teologia (se bem que para mim qualquer
comparação entre os papas é completamente errada), mas ele não é bobo, ele sabe o
que fala e diz de uma forma diferente e muito direta, sem florear. Isso causa
espanto, é claro, mas antes de saírem apedrejando deveriam parar e ler com
calma. Infelizmente muitos de nós estamos acostumados e gostamos da parte
legal, e ela é importante, mas ao nos grudarmos nela, esquecemos muitas vezes o
essencial.
E o amor de Deus? Sua misericórdia? Seu poder
transformador? Eu sou um caso que estou na Igreja por causa disso, porque foi
isso que me fez mudar de vida. Sim, o resto é importante e necessário, mas não
é o essencial. A luta contra o aborto, a defesa da família, tudo isso (e muito
mais) deve ser fruto de nossa batalha, do bom combate, mas antes disso tem este
Deus maravilhoso, suas graças, seu amor, sua misericórdia, seu poder. Não me
esqueço do Deus que é juiz, mas antes Ele é amor.
Também me assusto com o que o Papa Francisco diz,
mas toda vez penso: mais Jean Valjean e menos Javert. Mais misericórdia e menos
legalismo. Tento antes entender as palavras, digerir, e a partir daí me
posicionar. O problema é que muitos ainda não aceitaram esse Papa e vão ser
contra qualquer coisa que ele diga.
Sei que tem gente que logo vai dizer que isso é
relativizar a fé, isso é ser "cheerleader" do Papa, etc., mas isso é
ser fiel à Igreja e ao Papa. No Catecismo de São Pio X encontramos que:
(...) o Papa é infalível só quando, na sua
qualidade de Pastor e Mestre de todos os cristãos, em virtude de sua suprema
autoridade apostólica, define uma doutrina relativa à fé e aos costumes, que
deve ser seguida por toda a Igreja (...) (n. 198). Porém, mesmo quando não
emite um parecer definitivo sobre as coisas da fé: (...) todo o católico deve reconhecer o Papa
como Pai, Pastor e Mestre universal, e estar unido a ele de espírito e coração
(...) (n. 203)
Estes amargurados podem dizer o que quiser, mas eu
vou me manter com a Igreja e o Papa, seja ele Francisco, Bento XVI, Pio X, João
Paulo II, João XXIII ou Paulo VI. Quem fica a escolher qual Papa vai amar,
obedecer e seguir, não passa de um católico de ocasião que escolhe na Igreja o
que mais lhe for interessante, assim como faz no mercado.
Não vou ter faniquitos a cada entrevista dada pelo
Papa, não vou sair urrando contra o Santo Padre baseado em notícias ou
manchetes dadas pela mídia (que de forma geral distorce as palavras do Papa ao
que lhe interessa), não vou arrancar os cabelos a cada homilia feita. Vou antes
silenciar, ouvir, ler e digerir, e depois posso até me manifestar. Isso é
postura de quem ama o Papa.
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BRANDALISE,
André Luiz de Oliveira, Ser católico e amar o Papa, publicado em 09/10/13
no blog “André Brandalise”.
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