Em muitos lugares do Planeta, há guerras sangrentas que parecem
intermináveis, e atingem famílias, tribos e povos. A Glória, de 20 anos,
conta-nos: «Recebemos a notícia de que uma aldeia tinha sido queimada e muitas
pessoas tinham ficado sem nada. Com os meus amigos, iniciamos imediatamente uma
recolha de coisas indispensáveis: colchões, roupas, víveres… Partimos. Após
oito horas de viagem, encontramos pessoas completamente desoladas. Ouvimos os
seus lamentos, enxugamos as suas lágrimas, abraçamos, consolamos… Uma família
confidenciou-nos: “A nossa menina estava dentro da casa que nos queimaram e foi
como se morrêssemos com ela. Agora, no vosso amor, encontramos a força para
perdoar àqueles que nos fizeram isto!”».
Também o apóstolo Paulo fez uma
experiência semelhante: precisamente ele, o perseguidor dos cristãos (1),
encontrou no seu caminho, de maneira totalmente inesperada, o amor gratuito de
Deus. E Deus enviou-o como embaixador da reconciliação, em Seu nome (2).
Deste modo, ele tornou-se a
testemunha apaixonada e credível do mistério de Jesus, morto e ressuscitado.
Jesus que reconciliou em si o mundo, a fim de que todos pudessem conhecer e
experimentar a vida de comunhão com Ele e com os irmãos (3). E, mediante a ação
de Paulo, a mensagem evangélica propagou-se e fascinou os pagãos, considerados
os mais afastados da salvação: deixai-vos reconciliar com Deus!
Também nós, apesar dos erros que
nos desencorajam ou das falsas certezas que nos levam a crer que não precisamos
de nada, podemos permitir que a misericórdia de Deus – um amor exagerado! – nos
cure o coração e nos torne finalmente livres de partilhar este tesouro com os
outros. Contribuiremos assim para o projeto de paz, que Deus tem sobre toda a
humanidade e também sobre toda a Criação. Este projeto supera as contradições
da História, como sugere Chiara Lubich num seu escrito:
«(…) Sobre a cruz, na morte do
seu Filho, Deus deu-nos a prova suprema do seu amor. Por meio da cruz de Cristo,
Ele reconciliou-nos consigo. Esta verdade fundamental da nossa fé mantém ainda
hoje toda a sua atualidade. É a revelação que toda a humanidade esperava: sim,
Deus está próximo de todos com o seu amor e ama apaixonadamente cada um. O
mundo atual tem necessidade deste anúncio. Mas só o podemos fazer se antes o
anunciarmos, uma e muitas vezes, a nós próprios, de tal maneira que nos
sintamos circundados por este amor, mesmo quando tudo nos leve a pensar o
contrário. (…) Todo o nosso comportamento deveria tornar credível a verdade que
anunciamos. Jesus disse claramente que, antes de levarmos a oferta ao altar,
deveríamos reconciliar-nos com cada irmão ou irmã que tenha algo contra nós
(cf. Mt 5, 23-24) (…) Amemo-nos como Ele nos amou, sem reservas nem preconceitos.
Pelo contrário, estejamos abertos a aceitar e a apreciar os valores positivos
do nosso próximo, e prontos a dar a vida uns pelos outros. Este é o mandamento
por excelência de Jesus, o distintivo dos cristãos, tão válido hoje, como o foi
no tempo dos primeiros seguidores de Cristo. Viver esta Palavra significa
tornar-nos reconciliadores» (4).
Se vivermos assim,
enriqueceremos os nossos dias com gestos de amizade e de reconciliação, na
nossa família e entre as famílias, na nossa Igreja e entre as Igrejas, em cada
comunidade civil e religiosa a que pertencemos.
Letizia Magri
______________________________________
1) Cf.
At 22, 4ss.; 2) cf. 2 Cor 5, 20; 3) cf. Ef 2, 13ss.; 4) versão integral em Città
Nuova 1996/24, p. 37.
Por:
Movimento dos Focolares Portugal
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