Há pais que
deixam as crianças correrem pela igreja durante a missa e brincarem no meio dos
bancos. Para esses pais, é válida essa missa apesar da distração (que, aliás,
afeta a comunidade toda)?
A
participação das crianças na missa é uma questão delicada,
porque envolve muitos aspectos da vida eclesial. O sacramento da eucaristia
exige um singular respeito e uma participação plena e ativa dos batizados, como
o concílio nos recorda. O magistério apresenta a família como "igreja
doméstica" e defende o seu valor único para a sociedade civil.
Toda a
comunidade eclesial, na fidelidade às palavras de Jesus, é chamada a deixar que
“as crianças venham até ela”. Temos valores que não podem entrar em
contradição, mas as suas urgências acabam entrando. A pergunta do leitor nos
coloca diante de um dilema prático. Vamos olhar para alguns fatos da nossa
realidade: nas paróquias, é cada vez menor a presença de famílias jovens e,
portanto, de crianças pequenas.
A nossa liturgia não foi feita à medida da criança, não
se desenrola de acordo com uma comunicação e linguagem adequada para elas, nem
poderia. No entanto, a missa tem uma dimensão de mistério que envolve todos nós
como povo de Deus, arrebatando-nos da tentação do individualismo ou da
satisfação emocional: nela, nós vivemos um encontro da graça, oferecido a todo
batizado num momento comunitário. A teologia nos diz que, na celebração
eucarística, o Espírito Santo não transforma só o pão e o vinho no Corpo e
Sangue de Cristo, mas age na própria comunidade para torná-la cada vez mais o
Corpo no Senhor.
Se os pais
participassem da missa em horários diferentes, eles poderiam
cuidar das crianças por turnos em casa, mas será que é oportuno que as
famílias, especialmente as mais jovens, se dividam justamente na hora de
participar desse momento de fé comunitária? E as crianças levadas à missa podem
viver esse momento sempre de boca fechada e quietinhas? Eu acho que precisamos
procurar o equilíbrio, que só é possível caso por caso, comunidade por
comunidade, conforme as diversas circunstâncias concretas, a começar pela
estrutura de cada igreja.
Nem todas as
igrejas têm a mesma arquitetura. Em algumas, foi possível criar lugares para as crianças brincarem sob a vigilância dos pais, o
que, para muitos, foi a melhor solução. Em outras igrejas, não é possível criar
essas condições: nelas, os pais que levam os filhos à missa tentam fazer as
crianças se sentirem à vontade, o mais serenamente possível.
A igreja é a
casa de todos: temos que partir desta certeza. Então vamos deixar as crianças brincarem na igreja? Para a criança,
brincar não é só uma diversão, mas o principal modo de se comunicar com o mundo
e de, gradualmente, adquirir conhecimento. Brincando, as crianças aprendem
também a linguagem da fé. Se elas aprendem durante a celebração mantendo certo
silêncio, embora não o tempo todo, eu, pessoalmente, não me incomodo. Mas sei
que, para alguns outros sacerdotes, não é assim. E respeito a sua sensibilidade
litúrgica.
Quanto à
pergunta específica do nosso leitor, os pais,
de acordo com ele, se distrairiam com o comportamento dos filhos. E não só
eles, pode-se acrescentar. Eu não acho, porém, que a discussão deva girar em
torno da “validade jurídica” da participação na missa. Durante a celebração, as
crianças podem incomodar alguns, é verdade. Por outro lado, as nossas
comunidades eclesiais não deveriam favorecer ao máximo a presença completa das
famílias? E será que o mistério de Deus é tão distante assim da vida real dos
menorzinhos dentre os nossos irmãos? Talvez seja uma “deformação profissional”,
mas, quando a discussão se volta para a validade da celebração eucarística, eu
não consigo deixar de pensar nas palavras que o apóstolo Paulo dirigiu à
comunidade de Corinto: "A vossa ceia não é a ceia do Senhor" (1 Co
11,20), porque eles celebravam a eucaristia num contexto de profunda desigualdade,
com divisões cheias de invejas.
As nossas
celebrações eucarísticas são, em primeiro lugar, a reunião do
povo de Deus, chamado a ouvir a sua Palavra e a participar do seu Corpo
entregue por nós. Através dessa altíssima oração da Igreja, nós nos tornamos
cada vez mais uma coisa só no Espírito de Cristo. Vamos conservar na mente esse
dom original da graça: assim saberemos construir as melhores condições para
vivê-lo juntos.
Pe. Valerio
Mauro,
professor de Teologia Sacramental na Faculdade
Teológica da Itália Central.
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Aleteia
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