Deus se revela por meio da
palavra profética. Na primeira leitura, Ezequiel anuncia vida nova para os que
se encontram sem esperança, no túmulo do exílio da Babilônia. Deus ama
prioritariamente o povo em situação de sofrimento. Está junto aos exilados e
promete-lhes a volta à terra de Israel, devolvendo-lhes a liberdade. O dom do
Espírito de Deus revigora o coração do povo e lhe suscita vida (I leitura). A
revelação plena de Deus se dá na pessoa de seu Filho, Jesus que se apresenta como o Senhor da Vida (evangelho). A
doença e a morte do amigo Lázaro constituem ótima oportunidade para uma
profissão de fé em Jesus Cristo, que se apresenta como a Ressurreição e a Vida.
Entre as ressurreições operadas por Cristo, a de Lázaro tem uma importância
fundamental, pois se trata de um morto que está no sepulcro há quatro dias. A
resposta dada por Jesus àqueles que Lhe anunciam a doença de Lázaro: “Essa
doença não leva à morte; é antes para a glória de Deus” (Jo 11,4).
Na realidade, esta página do Evangelho mostra Jesus como verdadeiro Homem e verdadeiro Deus. Em primeiro lugar, o evangelista João insiste sobre a sua amizade com Lázaro e com as irmãs Maria e Marta. Ele ressalta o fato de que “Jesus era muito amigo” deles ( Jo11, 5 ), e por isso quis realizar o grande prodígio. “O nosso amigo Lázaro dorme, mas Eu vou acordá-lo” ( Jo11,11 ) – assim disse aos discípulos, expressando com a metáfora do sono o ponto de vista de Deus sobre a morte física: Deus vê-a precisamente como um sono, do qual nos pode despertar. Jesus demonstrou um poder absoluto em relação a esta morte: vê-se isto, quando restitui a vida ao filho da viúva de Nain ( Lc 7, 11-17 ) e à menina de doze anos ( Mc 5, 35-43 ). Precisamente dela, disse: “A menina não morreu, ela dorme” ( Mc 5, 39 ), atraindo sobre si o escárnio dos presentes. Mas, na verdade é exatamente assim: a morte do corpo é um sono do qual Deus pode acordar-nos em qualquer momento.
Este senhorio sobre a morte não impediu que Jesus sentisse compaixão pela dor da separação. Ao ver Marta e Maria chorando e quantos tinham vindo para as consolar, também Jesus “suspirou profundamente e comoveu-se” ( Jo 11, 33.35 ). O Coração de Cristo é divino-humano: nele, Deus e Homem encontraram-se perfeitamente, sem separação nem confusão. Ele é a imagem, aliás, a Encarnação do Deus que é amor, misericórdia e ternura paterna e materna, do Deus que é Vida. Por isso, declarou solenemente a Marta: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá para sempre” Depois, acrescentou: “Crês nisto?” ( Jo11, 25-26 ). É uma pergunta que Jesus dirige a cada um de nós; uma interrogação que certamente supera, ultrapassa a nossa capacidade de compreender e exige que confiemos n’Ele, como Ele se confiou ao Pai. A resposta de Marta é exemplar: “Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo” ( Jo 11, 27 ). Sim, ó Senhor! Também nós acreditamos, não obstante as nossas dúvidas e as nossas obscuridades; cremos em Ti, porque Tu tens palavras de vida eterna; desejamos acreditar em Ti, que nos infundes uma confiável esperança de vida para além da vida, de vida autêntica e repleta no teu Reino de luz e de paz.
Deus se revela também por meio do testemunho dos seguidores de
Jesus, como o de Paulo. Escrevendo aos romanos, orienta-os para uma vida nova
proveniente da fé em Jesus Cristo. É a vida no Espírito. Ele habita em cada
pessoa e suscita vida aos corpos mortais (II leitura). Os três textos enfatizam
a vitória da vida sobre a morte como dom de Deus. O seu Espírito nos faz novas
criaturas: transforma, reanima, fortalece, ressuscita…
É encantador o diálogo entre Jesus e Marta: “Disse
Marta a Jesus: Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas,
mesmo assim eu sei que o que pedires a Deus, Ele te concederá. Segundo Santo
Agostinho, o pedido de Marta é um exemplo de oração confiante e de abandono nas
mãos do Senhor que sabe melhor que nós o que nos convém. Por isso, “não Lhe
disse: Rogo-Te agora que ressuscites meu irmão (…) Somente disse: Sei que tudo
podes e fazes tudo o que queres; mas fazê-lo fica ao Teu juízo, não aos meus
desejos.” “Eu sou a Ressurreição e a Vida …” (Jo 11, 25).
Este senhorio sobre a morte não impediu que Jesus sentisse compaixão pela dor da separação. Ao ver Marta e Maria chorando e quantos tinham vindo para as consolar, também Jesus “suspirou profundamente e comoveu-se” ( Jo 11, 33.35 ). O Coração de Cristo é divino-humano: nele, Deus e Homem encontraram-se perfeitamente, sem separação nem confusão. Ele é a imagem, aliás, a Encarnação do Deus que é amor, misericórdia e ternura paterna e materna, do Deus que é Vida. Por isso, declarou solenemente a Marta: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá para sempre” Depois, acrescentou: “Crês nisto?” ( Jo11, 25-26 ). É uma pergunta que Jesus dirige a cada um de nós; uma interrogação que certamente supera, ultrapassa a nossa capacidade de compreender e exige que confiemos n’Ele, como Ele se confiou ao Pai. A resposta de Marta é exemplar: “Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és Cristo, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo” ( Jo 11, 27 ). Sim, ó Senhor! Também nós acreditamos, não obstante as nossas dúvidas e as nossas obscuridades; cremos em Ti, porque Tu tens palavras de vida eterna; desejamos acreditar em Ti, que nos infundes uma confiável esperança de vida para além da vida, de vida autêntica e repleta no teu Reino de luz e de paz.
Comentário
dos textos bíblicos
Leituras: Ez 37,12-14; Rm 8,8-11; Jo 11,1-45
Caríssimos irmãos e irmãs, estamos nos aproximando da Semana Santa e os temas quaresmais cada vez mais nos preparam para viver o mistério pascal de Cristo, que muito em breve celebraremos. O primeiro milagre realizado por Jesus, como nos narra o Evangelho de São João, foi a mudança da água em vinho, nas bodas de Caná da Galiléia (cf. Jo 2,1-11). O último milagre, já a caminho da Paixão, foi a ressurreição de Lázaro, texto que a Igreja nos apresenta para este domingo. O fato ocorre em Betânia, uma aldeia que fica nas proximidades de Jerusalém. É neste local que Jesus confirma o seu poder de dar a vida, ressuscitando Lázaro.
O texto do evangelho começa dizendo que Lázaro estava doente e suas irmãs, Marta e Maria, mostrando preocupação e solidariedade, mandam avisar a Jesus. Os mensageiros usam uma linguagem delicada, que revela o afeto entre Jesus e Lázaro: “Senhor, aquele que amas está doente!” (v. 3). Ouvindo isto, Jesus disse: “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (v. 4). Jesus era amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro, que parecem ser os únicos membros dessa família. O evangelista São João insiste no grau de parentesco que une os três: são irmãos.
Podemos observar no texto os sinais da solidariedade diante da morte, manifestada pela ação dos amigos e vizinhos, que vão à casa das irmãs para apresentar os sentimentos e fazer lamentações, símbolo do desespero e da angústia pela perda de um membro da família. Temos também a solidariedade de Jesus, que expressa afeto sincero para com o amigo falecido e uma comoção profunda revelada pelas suas lágrimas, sinal de identificação com a dor de Marta, de Maria e dos amigos de Lázaro, como nos relata o texto bíblico: “Quando Jesus a viu chorar, e também os que estavam com ela, estremeceu interiormente, ficou profundamente comovido, e perguntou: ‘Onde o colocastes?’ Responderam: ‘Vem ver, Senhor’. E Jesus chorou” (Jo 11,33-35).
Este vínculo de amizade de Jesus com Lázaro e suas irmãs é reiteradamente recordado em toda a narrativa. O próprio Jesus afirma: “O nosso amigo Lázaro dorme. Mas eu vou acordá-lo” (Jo 11,11). O sepultamento já havia ocorrido há quatro dias. Na mentalidade judaica, a morte era considerada definitiva a partir do terceiro dia. Quando Jesus chega, a morte de Lázaro está, portanto, consumada. Marta manifesta sua falta de esperança ao dizer que teria sido necessária a presença física de Jesus para evitar a morte de Lázaro: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido” (v. 21). Em conformidade com a crença daquele tempo, Marta acreditava que seu irmão iria ressuscitar no último dia: “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia” (v. 24).
Por outro lado, esse diálogo revela também o convite que Jesus faz a Marta para que ela possa crescer na fé. Ela precisa deixar suas crenças anteriores sobre a ressurreição para aderir à novidade que Jesus lhe apresenta: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?” (v.25s). Jesus se apresenta de uma maneira nova para Marta. Não é preciso esperar até o fim dos tempos para ressuscitar, Jesus é a Ressurreição! E todo aquele que nele crer também ressuscita. O novo passo na fé de Marta é aderir a Jesus. E ela o faz: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo” (v. 27). A certeza de sua fé foi tão forte, que logo buscou a sua irmã, para que ela também conhecesse a novidade que Jesus trazia.
E Jesus se dirige em seguida ao local onde está Lázaro sepultado e suas irmãs vão com ele, seguidos pelo povo que ali estava. Mas Jesus ainda precisa insistir, pois Marta reluta na hora de retirar a pedra do túmulo: “Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias” (v. 39). Ao que Ele responde: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” (v. 40). Em seguida, em oração, Jesus se dirige a Deus Pai.
O momento da oração explícita de Jesus ao Pai diante do túmulo constitui a conclusão natural de toda a vicissitude: “Pai, eu te dou graças, porque me ouviste!” (Jo 11,41). Esta frase mostra um vínculo contínuo de comunhão entre Jesus com Deus Pai. Jesus pronuncia a oração, enquanto retiram a pedra da entrada do túmulo de Lázaro. E a sua oração se desenvolve: “Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste” (Jo 11,42).
Mediante esta prece, Jesus quer conduzir os seus discípulos à fé e mostrar a todos que Deus amou de tal modo o homem que enviou o seu único Filho para dar a vida a todos (cf. Jo 3,16). A oração de Jesus constitui um testemunho vivo da presença de Deus no mundo através do Cristo Senhor, que se manifesta pela sua solidariedade a todos os que sofrem e ao mesmo tempo, se identifica com a Ressurreição e a Vida. Ele mesmo disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (vv. 25-26). É Deus quem dá a vida, e a oferece a aqueles que acreditam em seu Filho, Jesus Cristo. E logo depois, diante do túmulo, Jesus grita com voz forte: “Lázaro, vem para fora!” (v. 43). O morto saiu, atado de mãos e pés, com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano (cf. v. 44).
Uma lição que o evangelho deste domingo nos deixa é que Jesus não elimina a morte física, mas mostra o seu domínio sobre ela. Para quem é amigo de Jesus, a morte física não é mais do que um sono, do qual se acorda para descobrir a vida definitiva. Usando uma linguagem humana, Jesus compara a morte ao sono (v. 11) e afirma que veio ao mundo para despertar a criatura humana desse sono. Lázaro, então, se torna o símbolo dos que morrem na amizade de Deus, sempre que o elo dessa amizade seja Jesus, porque só Ele, nos faz passar da morte à vida. Os amigos de Jesus experimentam a morte física como uma passagem para a vida eterna, junto de Deus. O relato da ressurreição de Lázaro pretende também trazer essa realidade.
Jesus também hoje diz a cada um de nós: “Vem para fora” (v. 43), para que possamos ter vida em abundância (cf. Jo 10,10). Ele nos ordena a sair do túmulo, a sair da escuridão, do lugar que os nossos pecados nos fizeram cair. Mas é o próprio Jesus que nos convida a uma vida nova. A nossa ressurreição começa quando decidimos obedecer este chamado do Senhor que nos exorta a sair das trevas, para encontrarmos a Luz, que é o próprio Cristo Senhor. E a Quaresma é este tempo favorável para a conversão, para sairmos da morte para a vida, ressurgir dos nossos pecados, para estarmos com Deus.
Dando continuidade ao nosso percurso quaresmal, possamos também crescer na fé e repetir como Marta: “Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és Cristo, o Filho de Deus” (Jo 11,27). Que saibamos reconhecer esta verdade, fortalecidos na esperança, revigorada a cada dia, especialmente nos momentos mais difíceis e de maior provação. Assim seja.
O texto do evangelho começa dizendo que Lázaro estava doente e suas irmãs, Marta e Maria, mostrando preocupação e solidariedade, mandam avisar a Jesus. Os mensageiros usam uma linguagem delicada, que revela o afeto entre Jesus e Lázaro: “Senhor, aquele que amas está doente!” (v. 3). Ouvindo isto, Jesus disse: “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (v. 4). Jesus era amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro, que parecem ser os únicos membros dessa família. O evangelista São João insiste no grau de parentesco que une os três: são irmãos.
Podemos observar no texto os sinais da solidariedade diante da morte, manifestada pela ação dos amigos e vizinhos, que vão à casa das irmãs para apresentar os sentimentos e fazer lamentações, símbolo do desespero e da angústia pela perda de um membro da família. Temos também a solidariedade de Jesus, que expressa afeto sincero para com o amigo falecido e uma comoção profunda revelada pelas suas lágrimas, sinal de identificação com a dor de Marta, de Maria e dos amigos de Lázaro, como nos relata o texto bíblico: “Quando Jesus a viu chorar, e também os que estavam com ela, estremeceu interiormente, ficou profundamente comovido, e perguntou: ‘Onde o colocastes?’ Responderam: ‘Vem ver, Senhor’. E Jesus chorou” (Jo 11,33-35).
Este vínculo de amizade de Jesus com Lázaro e suas irmãs é reiteradamente recordado em toda a narrativa. O próprio Jesus afirma: “O nosso amigo Lázaro dorme. Mas eu vou acordá-lo” (Jo 11,11). O sepultamento já havia ocorrido há quatro dias. Na mentalidade judaica, a morte era considerada definitiva a partir do terceiro dia. Quando Jesus chega, a morte de Lázaro está, portanto, consumada. Marta manifesta sua falta de esperança ao dizer que teria sido necessária a presença física de Jesus para evitar a morte de Lázaro: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido” (v. 21). Em conformidade com a crença daquele tempo, Marta acreditava que seu irmão iria ressuscitar no último dia: “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia” (v. 24).
Por outro lado, esse diálogo revela também o convite que Jesus faz a Marta para que ela possa crescer na fé. Ela precisa deixar suas crenças anteriores sobre a ressurreição para aderir à novidade que Jesus lhe apresenta: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?” (v.25s). Jesus se apresenta de uma maneira nova para Marta. Não é preciso esperar até o fim dos tempos para ressuscitar, Jesus é a Ressurreição! E todo aquele que nele crer também ressuscita. O novo passo na fé de Marta é aderir a Jesus. E ela o faz: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo” (v. 27). A certeza de sua fé foi tão forte, que logo buscou a sua irmã, para que ela também conhecesse a novidade que Jesus trazia.
E Jesus se dirige em seguida ao local onde está Lázaro sepultado e suas irmãs vão com ele, seguidos pelo povo que ali estava. Mas Jesus ainda precisa insistir, pois Marta reluta na hora de retirar a pedra do túmulo: “Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias” (v. 39). Ao que Ele responde: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” (v. 40). Em seguida, em oração, Jesus se dirige a Deus Pai.
O momento da oração explícita de Jesus ao Pai diante do túmulo constitui a conclusão natural de toda a vicissitude: “Pai, eu te dou graças, porque me ouviste!” (Jo 11,41). Esta frase mostra um vínculo contínuo de comunhão entre Jesus com Deus Pai. Jesus pronuncia a oração, enquanto retiram a pedra da entrada do túmulo de Lázaro. E a sua oração se desenvolve: “Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste” (Jo 11,42).
Mediante esta prece, Jesus quer conduzir os seus discípulos à fé e mostrar a todos que Deus amou de tal modo o homem que enviou o seu único Filho para dar a vida a todos (cf. Jo 3,16). A oração de Jesus constitui um testemunho vivo da presença de Deus no mundo através do Cristo Senhor, que se manifesta pela sua solidariedade a todos os que sofrem e ao mesmo tempo, se identifica com a Ressurreição e a Vida. Ele mesmo disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (vv. 25-26). É Deus quem dá a vida, e a oferece a aqueles que acreditam em seu Filho, Jesus Cristo. E logo depois, diante do túmulo, Jesus grita com voz forte: “Lázaro, vem para fora!” (v. 43). O morto saiu, atado de mãos e pés, com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano (cf. v. 44).
Uma lição que o evangelho deste domingo nos deixa é que Jesus não elimina a morte física, mas mostra o seu domínio sobre ela. Para quem é amigo de Jesus, a morte física não é mais do que um sono, do qual se acorda para descobrir a vida definitiva. Usando uma linguagem humana, Jesus compara a morte ao sono (v. 11) e afirma que veio ao mundo para despertar a criatura humana desse sono. Lázaro, então, se torna o símbolo dos que morrem na amizade de Deus, sempre que o elo dessa amizade seja Jesus, porque só Ele, nos faz passar da morte à vida. Os amigos de Jesus experimentam a morte física como uma passagem para a vida eterna, junto de Deus. O relato da ressurreição de Lázaro pretende também trazer essa realidade.
Jesus também hoje diz a cada um de nós: “Vem para fora” (v. 43), para que possamos ter vida em abundância (cf. Jo 10,10). Ele nos ordena a sair do túmulo, a sair da escuridão, do lugar que os nossos pecados nos fizeram cair. Mas é o próprio Jesus que nos convida a uma vida nova. A nossa ressurreição começa quando decidimos obedecer este chamado do Senhor que nos exorta a sair das trevas, para encontrarmos a Luz, que é o próprio Cristo Senhor. E a Quaresma é este tempo favorável para a conversão, para sairmos da morte para a vida, ressurgir dos nossos pecados, para estarmos com Deus.
Dando continuidade ao nosso percurso quaresmal, possamos também crescer na fé e repetir como Marta: “Sim, ó Senhor; eu creio que Tu és Cristo, o Filho de Deus” (Jo 11,27). Que saibamos reconhecer esta verdade, fortalecidos na esperança, revigorada a cada dia, especialmente nos momentos mais difíceis e de maior provação. Assim seja.
PARA REFLETIR
De hoje a oito estaremos entrando na Semana
Santa, com a solenidade dos Ramos e da Paixão do Senhor. Agora, neste último
Domingo antes dessa Grande Semana, a Liturgia nos apresenta o Senhor Jesus como
nossa Ressurreição e nossa Vida. Aqui, não estamos falando de modo figurado,
metafóricos! Jesus é realmente, propriamente, a nossa Vida, a nossa
Ressurreição! Ele é o cumprimento do sonho de vida e felicidade que o Pai,
desde o início, tem para nós: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e
conduzir-vos para a terra de Israel. Porei em vós o meu Espírito, para que
vivais!” É em Jesus que esta promessa se cumpre, é nele que somos arrancados
das sepulturas da vida e da sepultura da morte; é no seu Espírito Santo,
derramado sobre nós, que o Pai nos vivifica!
Caríssimos, Jesus é a própria Ressurreição;
ele é a própria Vida, Vida plena, Vida divina, Vida eterna! Jesus é a plenitude
da vida, da nossa existência: nele, o nosso caminho termina não no Nada do
absurdo, do vazio, mas na plenitude da Glória. Sem ele, seríamos nada, sem ele,
tudo quanto vivemos terminaria no aniquilamento: “De que nos valeria ter
nascido, se não nos redimisse em seu amor?” – é o que vai perguntar a liturgia
da Igreja daqui a poucos dias, na noite da Páscoa. Num mundo que procura desesperadamente
a vida, a felicidade; numa época como a nossa, em que se tem sede de um motivo
para viver, de um sentido para a existência, Jesus se nos apresenta como a
própria vida!
Mas, escutemo-lo falar, ele mesmo nos
Evangelho deste Domingo. Deixemos que ele nos fale da vida, que ele mesmo nos
ensine a viver!
Lázaro estava doente, sofrendo; depois,
morreu. Suas irmãs estavam sofridas, angustiadas, imploraram tanto pela vinda
do Senhor para curar o irmão… E Jesus não vai; Jesus demora-se. Quantas vezes
fazemos, nós também, esta mesma experiência em nossa vida. “Esta doença não
leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja
glorificado por ela!” E, pensemos bem: “Jesus era muito amigo de Marta, de sua
irmã Maria e de Lázaro. Quando ouviu que estava doente, Jesus ficou ainda dois
dias no lugar em que se encontrava”… Os caminhos de Deus não são os nossos
caminhos, os nossos tempos e modos não são os dele. “Senhor, se estivesses
estado aqui, meu irmão não teria morrido…” Jesus sentiu a morte de Lázaro,
Jesus“ficou profundamente comovido” e chorou por Lázaro, mas não impediu sua
doença e sua morte! Vede, irmãos: nosso Deus não é tapa-buracos; jamais
compreenderemos seu modo de agir! Ele nos ama, ele é fiel, ele se preocupa
conosco, ele conhece nossas dores. Mas, jamais compreenderemos seu modo de agir
no mundo e na nossa vida! Uma coisa é certa: se crermos, veremos sempre a
glória de Deus, em tudo no mundo e em tudo na nossa vida Deus será glorificado!
Então, Jesus consola Marta e Maria. Jesus lhes
promete a Ressurreição. Como todo judeu, as irmãs esperam a Ressurreição no
Último Dia, no final dos tempos. Jesus, então, faz uma das revelações mais
impressionantes de todo o Evangelho: “Eu sou a Ressurreição! Eu sou a Vida!”
Atenção! Levemos a sério esta afirmação! Detenhamo-nos diante dela, admirados!
A Ressurreição que os judeus esperavam chegou: é Jesus! A Ressurreição não é
uma coisa, uma realidade impessoal! Não! A Ressurreição é uma pessoa: ela tem
coração, rosto, voz e amor sem fim! A Ressurreição é Jesus em pessoa: “Eu sou a
Ressurreição e a Vida! Quem crê em mim, mesmo que esteja morto, viverá!” É ele
quem vem nos buscar, é na força dele que seremos erguidos da morte, é nele que
nossa vida é salva do Absurdo, do Nada, do Vazio: “quem vive e crê em mim, não
morrerá para sempre!” Nunca será demais a surpresa, a admiração, a grandeza
dessas palavras! Caríssimos, “Deus nos deu a Vida eterna, e essa Vida está no
seu Filho” (1Jo 5,11), esta Vida é o seu Filho!
Caríssimos, estamos para celebrar a Páscoa.
Não esqueçamos que é para que tenhamos a vida que o nosso Jesus se entregou por
nós: morto na carne foi vivificado no Espírito Santo pela sua ressurreição (cf.
1Pd 3,18). Ressuscitado, plenificado no Espírito Santo, derramou sobre nós esse
Espírito de vida, dando-nos, assim, a semente de Vida eterna: “Se o Espírito do
Pai que ressuscitou Jesus dentre os mortos já habita em vós, então o Pai que
ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos
mortais por meio do Espírito que habita em vós!”
É esta
a nossa esperança: a Ressurreição! Por ela vivemos, dela temos certeza! E já
possuímos, como primícias, como garantia o Espírito Santo de ressurreição.
Então, vivamos uma vida nova, uma vida de ressuscitados em Cristo Jesus: “Os
que vivem segundo a carne, segundo o pecado, não podem agradar a Deus! Vós não
viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito” do Cristo Jesus! Então, vida
nova! Deixemo-nos guiar pelo Espírito! Renovemo-nos! Convertamo-nos! Que as
observâncias da santa Quaresma, o combate aos vícios, a abstinência dos
alimentos e a confissão dos pecados nos preparem para celebrar de coração
renovado a Santa Páscoa – esta de agora, e aquela da Vida eterna! Amém.
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