Caros fiéis,
Diante
da gravidade do momento político, social, econômico e moral que vivemos nos
últimos tempos e inspirados pelo testemunho do Evangelho, não podemos ficar
calados. No conturbado ano de 2016, o nosso país deparou-se com uma avalanche
de projetos e decisões do Congresso – alguns já implementados que claramente
trarão em curto e médio prazos consequências graves para toda a sociedade
brasileira, de modo especial para os trabalhadores e os pobres.
A
crise econômica é apresentada como a grande vilã do momento, pela qual se
justifica qualquer medida sócio-político-econômica. As medidas são impostas em
pacotes prontos e fechados. O Congresso e o Senado servem apenas como fachada
para dar legalidade ao que uma elite conservadora já decidiu de antemão:
privilegiar o sistema financeiro e defender os interesses do grande capital. O
preço é impor enormes sacrifícios aos mais pobres e desestruturar as condições
de sobrevivência das pequenas empresas e da própria economia familiar.
Como
a atenção da população está focada na crise econômica, é importante não nos
distrairmos em relação a outros setores da vida social, tais como:
*
a polêmica reforma do ensino médio,
* a redução da
maioridade penal com medidas duras de imputar penalmente os adolescentes,
* a reforma da
Previdência Social em tramitação no Congresso nestes dias, com consequências desastrosas
para os empobrecidos no próximo futuro, e
* as alterações em
leis trabalhistas conquistadas com luta e sangue de operários.
Infelizmente todas
essas medidas apontam para sérios retrocessos em diversas conquistas que
resultaram da mobilização de milhões de brasileiros e brasileiras desde tempos
passados, como o da Constituinte, até os nossos dias.
É
escandalosa a ascensão ao poder de pessoas de duvidosa reputação, sob suspeita
de corrupção ou em adiantado processo de investigação, para ocupar cargos de
alta responsabilidade no Legislativo, no Judiciário e no Executivo.
Assistimos
a um grande recuo de iniciativas que resgatem a dignidade popular. Até
propostas de lei de iniciativa popular, um grande avanço constitucional, são
barradas no Congresso. Vozes inconformadas e clamor popular que manifestam
insatisfação ou dissenso são apresentados pela mídia como elementos de estorvo
e distúrbio diante da perspectiva de constituir uma nova ordem para salvar o
país. Assim as leis e a governança não colocam a economia e a atividade
política a serviço da pessoa humana e das suas necessidades básicas, pelo
contrário a gestão da coisa pública e a aprovação de emendas parlamentares são
pensadas para salvar um projeto de economia neoliberal que impõe pesos
insuportáveis nos ombros dos mais pobres.
Outras
questões graves nos preocupam: vemos aprovadas leis, varadas na calada da noite
ou com canetadas do Judiciário, que desmantelam a família, negam dignidade ao
nascituro e descaracterizam a concepção da identidade sexual da pessoa humana,
ferindo profundamente a sensibilidade de grande maioria do povo brasileiro.
Assim o Estado se dissocia da sociedade civil como um todo e não interpreta os
seus anseios, pelo contrário é usado por grupos políticos e econômicos que dele
se apossaram para sujeitá-lo a seus interesses. Na nossa região as
consequências das medidas apresentadas são agravadas pela falência do Estado do
Rio de Janeiro e a total ineficiência dos órgãos governamentais que dificulta
possíveis parcerias com a iniciativa privada.
A
privatização da CEDAE é a expressão mais eloquente de um Estado que agoniza e
se submete às leis do mercado para poder de algum modo sobreviver. O que mais
preocupa a nossa população é:
*
o agravar-se da violência alimentada pelo tráfico,
* a falta de
perspectivas e de oportunidades para a juventude,
* o desemprego
generalizado que atinge as famílias e congela a economia,
* a precariedade da
saúde pública e
* o desmantelamento
do SUS de tal forma que os mais pobres, quando ficam doentes, são condenados a
sofrer uma lenta agonia, enfim
* o desespero da fome
que leva famílias inteiras a buscar alimento a qualquer custo, quando não podem
mais contar com a solidariedade dos bons.
Conclamamos todas as
pessoas de boa vontade, sensíveis aos valores da justiça e da solidariedade a
se juntarem e a se manifestarem contra as medidas que afetam o bem comum e a
vida dos mais pobres e indefesos. Esta é a hora em que cada de nós é chamado a
exercer a cidadania em relação aos deputados e senadores que pediram e ganharam
o nosso voto na época das eleições para cobrar deles postura digna e coerente
na hora de votar emendas parlamentares que podem prejudicar os seus eleitores.
O
Senhor nos chama a ser protagonistas da salvação como seus colaboradores na
construção do Reino. Ele nos convida à vivência da fé, ao exercício da
esperança e ao testemunho da caridade. Isso acontece de fato através de uma
ação firme e determinada em defesa da educação e saúde públicas de qualidade,
do direito ao trabalho digno, ao gozo da vida no tempo da justa aposentadoria,
do acesso ao lazer, à cultura e à moradia, ao direito a uma alimentação
saudável para saciar a fome e a sede para viver com dignidade cuidando da nossa
Casa Comum.
Vivemos
tempos difíceis! A nossa fé nos guie e nos fortaleça para podermos assumir a
missão de trabalhar para que todos tenham vida e vida plena.
Dom Francisco Biasin
Bispo de Volta Redonda (RJ)
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