A Quaresma é para nós um tempo forte de conversão e renovação em
preparação à PÁSCOA. O grande tema que marca este Domingo é a ÁGUA, símbolo da
vida.
A 1ª leitura (Ex 17, 3-7) nos fala da água que brota da rocha golpeada
por Moisés para saciar a sede do povo no deserto. Moisés dá de beber a seu
povo. É imagem de Cristo, que no futuro dará a água da vida, que é o Espírito
Santo.
Em Rm 5, 1-2. 5-8, São Paulo faz uma releitura significativa: A rocha é
Cristo. Do Cristo morto e ressuscitado brota o Espírito como rio de água viva.
“O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito que nos foi
dado” (Rm 5, 5).
“O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é
proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os
homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para
a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos
«verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v.
23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza!
Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta
e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras
de Santo Agostinho” (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).
Deus está apaixonado pelo ser humano, tem sede do pobre amor dos nossos
corações. Nós pedimos de beber a alguém que afirma claramente que tem sede.
Essa sede de Deus por cada pessoa humana ficou claramente expressada naquele
grito que somente o evangelista João conservou no Evangelho: “Tenho sede” (Jo
19,28). Deus tem sede de que nós
tenhamos sede do seu Espírito, da sua vida, da sua graça, da sua glória. Ele
tem água abundante, mas tem sede de que nós a bebamos.
“Dá-me de beber” (Jo 4,7) é a expressão daquilo que todo ser humano tem:
sede de Deus, que pode ser saciada: aqui pela graça e no céu pela glória. André
Frossard no famoso relato da sua conversão, “Deus existe. Eu encontrei-o”,
terminava com essas palavras: “l’éternité sera courte” – a eternidade será
curta. Trata-se de uma maneira poética de afirmar que diante da grandeza de
Deus, a mesma eternidade –um presente sem começo nem fim– será “curta” para
deliciar-nos com a presença do Senhor.
Essa mulher desprezada, após escutar Jesus como Discípula, torna-se
MISSIONÁRIA de Cristo, antes mesmo dos apóstolos…
Jesus veio para salvar o que estava perdido! Não poupará nenhum esforço
para o conseguir. Eram proverbiais os ódios entre Judeus e Samaritanos; contudo,
Jesus Cristo não exclui ninguém, mas o Seu amor estende-se a todas as almas, e
por todas e cada uma vai derramar o Seu sangue.
A leitura atenta descobre facilmente a importância da água para S. João.
É somente nesse Evangelho que nós lemos o relato das bodas de Caná, onde Jesus
transforma a água em vinho (cfr. Jo 2,1-12); no capítulo seguinte encontramos
aquela afirmação que sempre nos comove: “quem não renascer da água e do
Espírito não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5); depois a passagem, que
acabamos de escutar, que nos relata o encontro de Jesus com a Samaritana (cfr.
Jo 4,1-42); era pelo movimento da água que os enfermos eram curados na piscina
de Betesda (cfr. Jo 5,1-18). De fato, o Catecismo da Igreja Católica afirma que
o simbolismo da água significa a ação do Espírito Santo, que brota do lado
aberto de Cristo crucificado (cfr. Cat 694).
É no Coração de Deus que nós encontramos o nosso descanso, a nossa paz,
os nossos prazeres, a nossa felicidade, a nossa bem-aventurança. Distanciar-nos
daí é sair do caminho da felicidade, é correr pelos prados da insensatez, é
viver uma vida que só pode levar à escuridão mais profunda e ao pior absurdo da
vida humana, não ser feliz. Façamos nosso o pedido da Samaritana: “Senhor,
dá-nos sempre dessa água!”.
Comentário dos textos bíblicos
Leituras: Ex 17,3-7; Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42
Meus caros irmãos e irmãs, para este domingo o
texto evangélico nos apresenta o encontro de Jesus com a samaritana. O diálogo
começa com o pedido de Jesus à mulher da Samaria: “Dá-me de beber” (Jo 4,5-7).
Com um simples pedido de um pouco de água, ao meio-dia, inicia-se um caminho
interior da samaritana, que irá culminar com a sua conversão.
O encontro de Jesus com a samaritana ocorre
junto ao poço de Jacó. Trata-se de um poço estreito, aberto na rocha calcária e
cuja profundidade ultrapassa os 30 metros. Segundo a tradição, teria sido
aberto pelo patriarca Jacó. Os dados
arqueológicos revelam que este poço de Jacó serviu aos samaritanos entre o ano
1000 a.C. e o ano 500 d.C.
Junto a esse “poço” movimentam-se os
personagens principais: Jesus e a samaritana.
A mulher aqui apresentada sem o nome próprio, pode estar se referindo à
Samaria, que procura desesperadamente a água que é capaz de matar a sua sede de
vida plena. A samaritana não tem nome,
mas certamente vários nomes lhe foram impostos por ter tido cinco maridos e
conviver com o sexto, que não é seu marido e, apesar disso, continuar com sede
da água que só Jesus, esposo da humanidade, pode dar. Ela se aproxima, em um dia ensolarado, para
buscar água. Ela não tem nome porque é a própria humanidade que está
procurando, no sufoco do calor, algo que sacie de uma vez por todas sua sede.
Quando Jesus diz: “Se tu conhecesses o dom de
Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele
te daria água viva” (Jo 4,10). Aquela mulher
começa a interessar-se por essa água misteriosa. Mas, inicialmente, ela fica
confusa. Parece disposta a remediar a situação de falência de felicidade que
caracteriza a sua vida, mas ainda não sabe bem como.
É aqui que entra a novidade de Jesus. Ele
senta-se “junto do poço”, como se pretendesse ocupar o seu lugar; e propõe à
samaritana uma “água viva”, que matará definitivamente a sua sede de vida
eterna (vv. 10-14). Jesus passa a ser o “novo poço”, onde todos os que têm sede
de vida plena encontrarão resposta para a sua sede. Sentando junto ao poço, Jesus se dá a
conhecer como a fonte da qual a humanidade inteira bebe. A partir de agora não
se deve mais beber água da Lei ou das instituições, porque foram superadas pela
fonte de água viva que é Jesus.
No Antigo Testamento a água da fonte, água
viva, simbolizava a vida espiritual que Deus dispensa (cf. Ez 47,1ss), mas
também simbolizava a Lei como fonte de vida (cf. Eclo 15,1-3). No Novo
Testamento o evangelista São João identifica a água com o dom do Espírito Santo
(cf. Jo 7,37-39). Em Cristo nós temos a
fonte de todos os dons que podemos esperar do Pai. Na cruz, Cristo jorrou
sangue e água no momento em que seu peito foi perfurado (cf. Jo 19,34). E Jesus
mesmo chegou a afirmar que aquele que nele crê, nele terá como beber, pois do
seio de Jesus sairão rios de água viva (cf. Jo 7,38).
Jesus está com sede, mas quem acaba pedindo
água é a mulher, pois ele tem a água capaz de saciar para sempre a sede de
todos: ‘Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’,
tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva. Quem beber da água que eu lhe darei, esse
nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água
que jorra para a vida eterna”(Jo Jo, 4,10.14).
A água que Jesus dá é o Espírito Santo, a
força que vem de dentro e jorra para a vida eterna. A mulher e a humanidade tem
sede dessa água e, por isso, pede: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não
tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la” (Jo 14,15).
A mulher da Samaria responde à proposta de
Jesus abandonando o cântaro, que passa a ser inútil, e correndo, vai anunciar
aos habitantes da cidade o desafio que Jesus lhe fez. Atentemos no pormenor do “cântaro” abandonado
pela samaritana, depois de se encontrar com Jesus. O “cântaro” significa e representa tudo
aquilo que nos dá acesso a essas propostas limitadas, falíveis e incompletas de
felicidade. O abandono do “cântaro” significa o romper com todos os esquemas de
procura de felicidade falsa, para abraçar a verdadeira e única proposta de vida
plena.
O vínculo com Jesus transforma completamente a
vida daquela mulher, que corre imediatamente a comunicar a boa nova ao povo da
aldeia vizinha: “Vinde ver um homem que me disse tudo quanto fiz. Não será ele
o Messias?” (Jo 4,29). A revelação de Jesus, acolhida com fé, torna-se palavra
proclamada ao próximo e testemunhada através das escolhas concretas de vida.
Eis a missão dos crentes, que nasce e se desenvolve a partir do encontro
pessoal com o Senhor.
A samaritana, depois de encontrar o Cristo que
lhe traz a água que mata a sua sede de felicidade, não limitou em guardar para
si a descoberta; mas partiu para a cidade, a propor aos seus concidadãos a
verdade que tinha encontrado. Por fim,
ela contou a todos a respeito de Jesus, o que resultou em um reavivamento
religioso junto aos samaritanos. Aquela mulher acreditou em Jesus. Encontrou a
água que mata a sede. E vai levá-la aos outros, aos seus conterrâneos.
No diálogo entre Jesus e a Samaritana vemos
traçado o percurso espiritual ao qual somos chamados a redescobrir e a
percorrer constantemente. Jesus quer nos levar, como fez com a Samaritana, a
professar a fé em sua pessoa e depois, anunciar e testemunhar aos nossos irmãos
a alegria desse encontro e as maravilhas que o seu amor realiza na nossa
existência. A fé nasce do encontro com Jesus, reconhecido e acolhido como o
Salvador. Quando o Senhor conquista o coração da samaritana, a sua existência
se transforma e ela vai imediatamente sem hesitações comunicar a boa nova ao
seu povo (cf. Jo 4,29). Quando
encontramos o Cristo sentimos necessidade e urgência de levá-lo também a todos
os que nos rodeiam.
Chama a nossa atenção o caminho de conversão
da samaritana. De pecadora a apóstola! Do fundo da miséria moral da sua vida,
ela subiu em poucos momentos para as alturas da fé e do zelo em propagar o nome
de Jesus. Afinal, ela entendera e
acolhera o dom de Deus. Seu coração se
abriu para as riquezas do Espírito Santo.
Que também nós possamos, a exemplo da samaritana, ser sinal do encontro
do homem sedento para com Deus, que tanto quer a nossa conversão.
Abramos também nós, o coração à escuta da
palavra de Deus para encontrar, como a samaritana, esse Jesus que nos revela
seu amor e a sua identidade. Que a Virgem de Nazaré interceda sempre por nós,
para que possamos obter este dom e sermos também anunciadores da boa nova que
Cristo trouxe ao mundo. Assim seja.
PARA REFLETIR
A Quaresma é tempo de caminho para a santa Páscoa, Páscoa de Cristo e nossa. Ora, é pelo Batismo e a Eucaristia que entramos misteriosamente na Páscoa do Senhor, no seu mistério de morte e ressurreição. Por isso celebramos a Noite Santa de Páscoa com o Batismo e a Eucaristia! Pois bem, o Evangelho de hoje é uma belíssima catequese batismal!
Acompanhemos passo a passo este texto belíssimo. “Chegou uma mulher da Samaria para buscar água”. Essa mulher, essa samaritana, essa pagã, representa os povos não-judeus, os que ainda não conheciam o Deus verdadeiro. Eles vêm, sedentos, procurando uma água que não sacia definitivamente; eles têm de voltar sempre ao poço, buscam saciar a sede de tantos modos, e continuam sempre com sede: “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo”. Consumismo, sexo, liberdade desenfreada, droga, poder, dinheiro, ciência sem ética nem limites, facilidades… nada disso sacia de modo definitivo o nosso coração! Jesus provoca a mulher:“Se conhecêsseis o dom de Deus e quem é que te pede ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”. Frase estupenda! O Dom de Deus é o Espírito Santo; é ele á água que jorra para a vida eterna. Em Jo 7,37, Jesus convidou: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba aquele que crê em mim”. E o Evangelista recorda que do seio do Messias sairão rios de água viva, o Espírito Santo (cf. Jo 7,38). E quem é que pede de beber? O Messias, isto é, o Ungido com o Espírito, o doador do Espírito, da água que nos sacia de vida eterna!
Diante disso, a Samaritana – e nós também – suplica: “Senhor, dá-me dessa água!” Esta água só pode ser recebida no sacramento do Batismo! Como aquele outro pedido: “Senhor, dá-nos deste pão” (Jo 6,34). Eis o Batismo; eis a Eucaristia! É assim que a vida de Jesus nos chega! Mas, não se pode receber o Batismo sem primeiro se reconhecer pecador, sem primeiro confessar seu pecado e buscar a remissão no Espírito Santo que Jesus dá! Quem não se humilha diante do Senhor, quem não se reconhece pecador, não beberá dessa água! Por isso, Jesus revela o pecado da mulher, toca seu ponto fraco, fá-la reconhecer-se indigna, não para envergonhá-la, mas para libertá-la com a verdade: “Vai chamar teu marido!” A mulher era adúltera, com vários maridos, como os pagãos, com seus vários deuses! Jesus, então, revela que os pagãos adoram o que não conhecem, porque “a salvação vem dos judeus!” Interessante o ecumenismo de Jesus: não mascara a verdade, não nega a verdadeira fé, em nome de um falso diálogo! A salvação vem dos judeus, porque é dos judeus que Cristo vem – ele, o único verdadeiro Salvador, fora do qual não há nem pode haver salvação alguma! Há tanto teólogo sabido esquecendo isso! Por outro lado, o judaísmo vai ser superado: “Está chegando a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e Verdade” e não mais em Jerusalém! Eis: quando Cristo der o seu Espírito, é nesse Espírito de Verdade, Espírito de Cristo, recebido nas águas do Batismo, que a humanidade encontrará a Deus! Esses são os adoradores que o Pai procura, pois a salvação definitiva vem de Cristo, presente nos sacramentos da sua Igreja católica, sobretudo no Batismo e na Eucaristia! É nele que judeus e pagãos são chamados a formar um só povo de verdadeiros adoradores!
Finalmente, o misterioso diálogo de Jesus com os apóstolos: “Tenho um alimento que não conheceis: o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”. O alimento de Jesus é levar o Reino do Pai a todos os povos, judeus e pagãos! É o que Jesus acabara de fazer com a Samaritana… e ela está chamando outros até Jesus. Por isso, Jesus diz: “Levantai os olhos e vede os campos: eles estão dourados para a colheita! O ceifeiro já está recebendo o salário e recolhe fruto para a vida eterna! Um é o que semeia, outro o que colhe!” O Senhor está semeando para que os Apóstolos colham depois da Páscoa! Mas, a conversão daqueles samaritanos é já um sinal e uma antecipação da colheita, da conversão dos pagãos.
Que dizer mais? Somos a colheita de Cristo! “Estamos em paz com Deus por Jesus Cristo”. Porque fomos batizados nele, vivemos na esperança, pois já experimentamos em nós a vida eterna, pois “o amor de Deus foi derramado como água em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” E tudo isso, graças ao que Cristo semeou com sua morte, tornando-se grão que dá fruto para a vida eterna! Eis que prova de amor tão grande o Pai nos deu! Eis em que consiste o Reino que Jesus veio anunciar e trazer! Eis a obra do Pai, que é o alimento de Jesus!
Eis! Na sede do nosso caminho de vida e de Quaresma, olhemos para Jesus, aproximemo-nos dele, o Rochedo que, ferido na cruz, de lado aberto, faz jorrar a água do Espírito para o seu povo peregrino e sedento. O mundo, tão sedento, procura matar a sede em tantas águas sujas, envenenadas, águas que matam! Que nós matemos nossa sede no Cristo, novo Rochedo, que jorra a água do Espírito, que dura para a vida eterna! Que ele alimente nosso caminho quaresmal até a Páscoa da glória! Amém.
Acompanhemos passo a passo este texto belíssimo. “Chegou uma mulher da Samaria para buscar água”. Essa mulher, essa samaritana, essa pagã, representa os povos não-judeus, os que ainda não conheciam o Deus verdadeiro. Eles vêm, sedentos, procurando uma água que não sacia definitivamente; eles têm de voltar sempre ao poço, buscam saciar a sede de tantos modos, e continuam sempre com sede: “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo”. Consumismo, sexo, liberdade desenfreada, droga, poder, dinheiro, ciência sem ética nem limites, facilidades… nada disso sacia de modo definitivo o nosso coração! Jesus provoca a mulher:“Se conhecêsseis o dom de Deus e quem é que te pede ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”. Frase estupenda! O Dom de Deus é o Espírito Santo; é ele á água que jorra para a vida eterna. Em Jo 7,37, Jesus convidou: “Se alguém tem sede, venha a mim, e beba aquele que crê em mim”. E o Evangelista recorda que do seio do Messias sairão rios de água viva, o Espírito Santo (cf. Jo 7,38). E quem é que pede de beber? O Messias, isto é, o Ungido com o Espírito, o doador do Espírito, da água que nos sacia de vida eterna!
Diante disso, a Samaritana – e nós também – suplica: “Senhor, dá-me dessa água!” Esta água só pode ser recebida no sacramento do Batismo! Como aquele outro pedido: “Senhor, dá-nos deste pão” (Jo 6,34). Eis o Batismo; eis a Eucaristia! É assim que a vida de Jesus nos chega! Mas, não se pode receber o Batismo sem primeiro se reconhecer pecador, sem primeiro confessar seu pecado e buscar a remissão no Espírito Santo que Jesus dá! Quem não se humilha diante do Senhor, quem não se reconhece pecador, não beberá dessa água! Por isso, Jesus revela o pecado da mulher, toca seu ponto fraco, fá-la reconhecer-se indigna, não para envergonhá-la, mas para libertá-la com a verdade: “Vai chamar teu marido!” A mulher era adúltera, com vários maridos, como os pagãos, com seus vários deuses! Jesus, então, revela que os pagãos adoram o que não conhecem, porque “a salvação vem dos judeus!” Interessante o ecumenismo de Jesus: não mascara a verdade, não nega a verdadeira fé, em nome de um falso diálogo! A salvação vem dos judeus, porque é dos judeus que Cristo vem – ele, o único verdadeiro Salvador, fora do qual não há nem pode haver salvação alguma! Há tanto teólogo sabido esquecendo isso! Por outro lado, o judaísmo vai ser superado: “Está chegando a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e Verdade” e não mais em Jerusalém! Eis: quando Cristo der o seu Espírito, é nesse Espírito de Verdade, Espírito de Cristo, recebido nas águas do Batismo, que a humanidade encontrará a Deus! Esses são os adoradores que o Pai procura, pois a salvação definitiva vem de Cristo, presente nos sacramentos da sua Igreja católica, sobretudo no Batismo e na Eucaristia! É nele que judeus e pagãos são chamados a formar um só povo de verdadeiros adoradores!
Finalmente, o misterioso diálogo de Jesus com os apóstolos: “Tenho um alimento que não conheceis: o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”. O alimento de Jesus é levar o Reino do Pai a todos os povos, judeus e pagãos! É o que Jesus acabara de fazer com a Samaritana… e ela está chamando outros até Jesus. Por isso, Jesus diz: “Levantai os olhos e vede os campos: eles estão dourados para a colheita! O ceifeiro já está recebendo o salário e recolhe fruto para a vida eterna! Um é o que semeia, outro o que colhe!” O Senhor está semeando para que os Apóstolos colham depois da Páscoa! Mas, a conversão daqueles samaritanos é já um sinal e uma antecipação da colheita, da conversão dos pagãos.
Que dizer mais? Somos a colheita de Cristo! “Estamos em paz com Deus por Jesus Cristo”. Porque fomos batizados nele, vivemos na esperança, pois já experimentamos em nós a vida eterna, pois “o amor de Deus foi derramado como água em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” E tudo isso, graças ao que Cristo semeou com sua morte, tornando-se grão que dá fruto para a vida eterna! Eis que prova de amor tão grande o Pai nos deu! Eis em que consiste o Reino que Jesus veio anunciar e trazer! Eis a obra do Pai, que é o alimento de Jesus!
Eis! Na sede do nosso caminho de vida e de Quaresma, olhemos para Jesus, aproximemo-nos dele, o Rochedo que, ferido na cruz, de lado aberto, faz jorrar a água do Espírito para o seu povo peregrino e sedento. O mundo, tão sedento, procura matar a sede em tantas águas sujas, envenenadas, águas que matam! Que nós matemos nossa sede no Cristo, novo Rochedo, que jorra a água do Espírito, que dura para a vida eterna! Que ele alimente nosso caminho quaresmal até a Páscoa da glória! Amém.
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