No homem atual, assim como no de outros
momentos históricos, se encontra a pergunta sobre a relação entre a fé e a
razão. Estes dois conceitos seriam contraditórios (ou eu acredito, ou eu
compreendo) ou seriam correspondentes (eu creio, por isso compreendo e eu
compreendo, por isso creio)? A resposta da fé católica a esta pergunta é clara:
“Crer é um ato da inteligência humana que assente à verdade divina a mando da
vontade movida por Deus através da graça” (Santo Tomás de Aquino – S. Th.
II-II,2.9). O nosso ato de resposta a Deus, longe de excluir a inteligência,
faz dela uma instância de tal resposta. Desta forma, nós podemos afirmar uma
relação positiva entre fé e razão: “Mas, ainda que a fé esteja acima da razão,
jamais pode haver verdadeira desarmonia entre uma e outra, porque o mesmo Deus
que revelou os mistérios e infunde a fé, dotou o espírito humano da luz da
razão, e Deus não pode negar-se a si mesmo, nem a verdade jamais contradizer a
verdade” (Concílio Vaticano I – Dei Filius – DS 3017).
Historicamente, nós encontramos três tipos de
resposta à pergunta da relação fé e razão. Destas repostas, duas a Igreja
considera insuficiente. A primeira resposta insuficiente é o fideísmo. Este
pode ser entendido como a aceitação dos mistérios revelados por Deus sem o
auxílio da razão. De maneira geral, podemos exemplificá-lo da seguinte maneira:
“Eu creio porque Deus disse! Eu creio porque está na Bíblia! Eu creio porque
para Deus tudo é possível!”. Esta postura carrega de positivo a abertura para a
Revelação Divina. Todavia, não leva a sério o fato de que o conteúdo da
Revelação foi dirigido para nós, homens. Nós fomos criados por Deus capazes não
só de aceitar as verdades de Fé, mas também de entendê-las, de aprofundá-las,
de retirar conclusões delas. Sem esta faculdade crítica, nós seríamos levados
por todo vento de doutrina sem critérios para nos guiar.
A segunda resposta insuficiente é o
racionalismo. Este pode ser entendido como o esforço do homem em “crer” só
naquilo que ele pode explicar cientificamente. De maneira geral, podemos
exemplifica-lo da seguinte maneira: “Eu creio porque a ciência provou que isto
é verdade!”. Esta postura carrega de positivo uma tentativa do homem de
conhecer a verdade. Todavia, embora Deus tenha nos criado com a faculdade da
razão, esta é limitadíssima quando seu objeto de conhecimento é o próprio Deus
e sua verdade revelada. Se o homem acreditar apenas no que sua razão conseguir
comprovar cientificamente, viverá uma fé bem reduzida. De maneira geral, esta
visão critica muito os milagres, as profecias, a Ressurreição de Cristo, a
realidade sobrenatural da Igreja, a vida da graça, os novíssimos (purgatório,
inferno e céu). A razão sozinha pode até conhecer a Deus, mas a revelação é
quem a ilumina no conhecimento das realidades divinas.
Podemos perceber como o fideísmo e o
racionalismo são posturas extremadas. A nossa Igreja acredita numa relação
positiva entre fé e razão. De maneira geral, podemos exemplificar da seguinte
maneira: “Eu creio porque Deus revelou e isto se harmoniza com a razão, tenho
motivos de credibilidade”. A postura da Igreja valoriza o homem, criatura de
Deus e dotado de inteligência, e a graça. O ato de crer não é movimento cego do
homem.
A definição do ato de Crer dada por Santo
Tomás de Aquino acima nos mostra exatamente o que entendemos por este ato:
Deus através da graça move a vontade humana –
A fé é dom de Deus. É Ele que com o dom da sabedoria infunde um conhecimento de
si no homem.
A vontade direciona a inteligência – Uma vez
recebido o dom da fé, a vontade inclina a inteligência humana a buscar
assentir, ou seja, a inteligência quer conhecer a Deus e os seus
mistérios.
Crer é um ato da inteligência humana que
assente a verdade divina – a inteligência humana compreende, em sua condição, a
verdade revelada por Deus e encontra credibilidade nela.
Pelo que vimos nesta catequese, a fé cristã
católica acredita na relação harmônica entre a fé e a razão. Nossa postura é
equilibrada, salvaguardando tanto a dimensão da fé (Deus que revela a si mesmo
e a sua vontade) e a dimensão da inteligência da fé (o homem é chamado a
responder a Deus tendo razões críveis para o ato de fé). Assim, não vivemos nem
o fideísmo (a fé pela fé) nem o racionalismo (a fé só naquilo que a ciência
pode provar). A razão iluminada pela fé pode confiar plenamente em Deus e
acolher a sua verdade sem ficar constrangida.
Para aprofundar convidamos a leitura do
Catecismo da Igreja Católica, parágrafos de 154 a 160; do Compêndio do
Catecismo, perguntas 28 e 29; do Youcat, pergunta 23; a Dei Verbum, número 2, 5
e 6; e, Gaudium et Spes, números 14-17; 53-62.
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Arquidiocese do Rio de Janeiro/ Jornal Testemunho de Fé
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