Durante a assembleia plenária realizada nesta
semana, os bispos da Alemanha aprovaram os estatutos da polêmica assembleia
sinodal, na qual serão minoria.
Os estatutos foram aprovados, em 25 de
setembro, por 51 votos contra 12 e uma abstenção. A votação foi realizada após
várias horas de debate sobre as mudanças realizadas depois de considerar
algumas precisões do Vaticano que indicaram que o planejado "não era
eclesiologicamente válido".
Fontes da Conferência Episcopal indicaram à
CNA – agência em inglês do Grupo ACI – que foram adotadas “algumas pequenas
mudanças” no texto aprovado pelos bispos, que incluem algumas referências ao
que o Papa Francisco indica em sua carta à Igreja na Alemanha do mês de junho,
como uma referência específica ao "primado da evangelização, o Sensus
ecclesiae e a consideração da unidade da Igreja universal".
Contudo, as mesmas fontes indicaram a CNA que
os temas dos fóruns sinodais ou grupos de trabalho serão os mesmos já
anunciados anteriormente: a revisão do ensinamento moral da Igreja; o papel da
mulher nos ministérios e na administração da Igreja; a vida e a disciplina
sacerdotais; e a separação de poderes no governo da Igreja.
O Bispo de Ratisbona, Dom Rudolph Voderholzer,
explicou em uma declaração: "votei contra os estatutos" porque,
"embora várias melhorias tenham sido alcançadas nas várias horas de
debate, deixei claro várias vezes que a orientação temática dos fóruns
(sinodais) parece ir além da realidade da crise de fé no país”.
O Prelado destacou que está comprometido com a
sinodalidade encorajada pelo Papa, mas quer deixar claro que "há pelo
menos uma minoria de bispos que estão preocupados com os verdadeiros problemas
e que não podem ser respondidos" com os estatutos aprovados.
Dom Volderholzer disse que, embora tenha sido
aprovado um novo preâmbulo, não haverá um fórum sinodal sobre a evangelização,
tema fundamental destacado pelo Santo Padre em sua carta de junho.
Em agosto, o comitê executivo da Conferência
Episcopal rejeitou uma proposta sinodal alternativa, cujo esboço foi redigido
pelo Bispo de Ratisbona e pelo Cardeal Rainer Maria Woelki, Arcebispo de
Colônia. Esse texto respondia à carta enviada pelo Papa à Igreja na Alemanha e
teria focado os fóruns sinodais nos temas da evangelização, formação dos leigos,
catequese e vocações.
Referindo-se à pressão de alguns participantes
da assembleia sinodal que insistem na ordenação de mulheres e outras reformas
contrárias à doutrina da Igreja, Dom Volderholzer disse que, "ao gerar
certas expectativas e esperanças, gera-se apenas mais frustração".
“Também acredito - e sempre disse isso – que
há certa desonestidade no processo sinodal. Não é possível concluir a partir
dos casos de abusos sexuais que a renovação (na Igreja) tem a ver com temas
como celibato sacerdotal, abuso de poder, mulheres na Igreja e moral sexual,
dada a falta de estudos científicos em outras instituições”, destacou o bispo
alemão.
Dom Volderholzer indicou que, apesar de se
opor ao processo sinodal, participará dele, pois "não será acusado de se
negar ao diálogo que o Papa Francisco nos encorajou". No entanto,
"não espero muito, porque não vejo como as condições para um verdadeiro
'diálogo' possam ser atendidas".
Os estatutos têm como objetivo principal a
criação de uma assembleia junto ao Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK),
cujos líderes têm insistido abertamente em colocar fim ao celibato sacerdotal,
a ordenação de diaconisas e eventualmente sacerdotisas, assim como a bênção de
casais do mesmo sexo nas igrejas.
O ZdK já deixou claro que sua participação no
processo sinodal está condicionada ao fato de serem aprovadas resoluções
"vinculantes" na assembleia, embora não esteja claro se os estatutos
aprovados deram à assembleia um poder "deliberativo".
Na parte final de sua declaração, o bispo de
Ratisbona enfatizou que, como bispo e teólogo, jurou proclamar e defender a fé
católica. "Eu permaneço firme nisso, mas vejo que essa promessa está sendo
particularmente desafiada no momento", comentou.
"Espero e rezo para que o processo
sinodal, apesar do que acredito estar errado, ajude a gerar uma verdadeira
renovação da Igreja", concluiu.
A grave crise da Igreja na Alemanha
Nos primeiros dias de setembro, o Cardeal
Reinhard Marx, presidente da Conferência Episcopal Alemã, disse que
"pode-se chegar à conclusão de que faz sentido, sob certas condições e em
certas regiões, permitir sacerdotes casados". Essas declarações se tornam
mais importantes, uma vez que o Cardeal participará de 6 a 27 de outubro, no
Vaticano do Sínodo da Amazônia, cujo documento de trabalho coloca a
possibilidade de ordenar padres a homens casados.
O Cardeal também fez outras declarações
contrárias à doutrina da Igreja, nas quais encorajou o acesso à comunhão dos
divorciados em nova união, promoveu que os sacerdotes católicos concedam a
bênção a casais homossexuais e sugeriu que os leigos pregassem na Missa.
Além disso, e no âmbito do Sínodo dos Bispos
para a Amazônia que será realizado em outubro, em uma entrevista em 2018, o
vice-presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Franz-Josef Bode, disse
que, se a ordenação de sacerdotes casados na Amazônia for
autorizada, os bispos alemães insistirão em ter a mesma permissão.
Em janeiro desse ano, ele também disse que era
a favor de abençoar casais homossexuais.
Da mesma forma, Dom Franz-Josef Overbeck,
Bispo de Essen e presidente da Adveniat, instituição de ajuda da Igreja na
Alemanha para a América Latina, disse que o Sínodo da Amazônia "é um ponto
sem retorno" para a Igreja e que "nada será como antes” depois deste
encontro.
O Prelado também apoiou publicamente a “greve
das mulheres” contra a Igreja na Alemanha, convocada por um grupo de católicas
após o não do Papa Francisco à ordenação de diaconisas.
Em meados de julho deste ano, a Conferência Episcopal
da Alemanha divulgou algumas estatísticas do ano de 2018, entre as quais
destaca que, no período, mais de 216 mil fiéis decidiram abandonar a Igreja
Católica.
Além disso, dos 23 milhões de batizados no
país, de uma população total de 83 milhões, a porcentagem daqueles que
participam da Missa Dominical é de 9,3%, ou seja, cerca de 2,1 milhões.
No caso dos sacerdotes que servem nas dioceses
do país, o número caiu para 1.161 em 2018, quando havia mais de 17.000 no ano
2000.
As estatísticas também indicam que no ano 2000
havia 13.241 paróquias na Alemanha. Em 2018, caíram para 10.045.
As estatísticas de 2018 não fornecem nenhuma
informação sobre o sacramento da Reconciliação ou da Confissão, uma prática que
parece ter sido quase completamente abandonada pelos católicos do país,
incluindo os sacerdotes.
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ACI Digital
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