VIAGEM
APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO
A MOÇAMBIQUE, MADAGASCAR E MAURÍCIO
(4 - 10
DE SETEMBRO DE 2019)
DISCURSO
DO SANTO PADRE
Akamasoa,
Madagascar
Domingo,
8 de setembro de 2019
Queridos amigos de Akamasoa!
É uma grande alegria para mim encontrar-me
convosco nesta grande obra. Akamasoa é a expressão da presença de Deus no meio
do seu povo pobre; não uma presença esporádica, casual: é a presença de um Deus
que decidiu viver e permanecer sempre no meio do seu povo.
Nesta tarde, encontrais-vos em grande número
no próprio coração desta «Cidade da Amizade», que construístes e – não tenho
dúvida – continuareis a construir com as vossas mãos, para que muitas famílias
possam viver com dignidade. Vendo os vossos rostos radiantes, dou graças ao
Senhor que ouviu o clamor dos pobres e manifestou o seu amor através de sinais
palpáveis como a criação desta aldeia. Os vossos clamores nascidos do facto de
não poderdes mais viver sem um teto, de verdes os vossos filhos crescer
malnutridos, de não terdes trabalho, nascidos do olhar indiferente – para não
dizer desdenhoso – de muitos, transformaram-se em cânticos de esperança para
vós e quantos vos contemplam. Cada recanto destes bairros, cada escola ou
dispensário é um cântico de esperança que recusa e faz calar toda a fatalidade.
Digamo-lo com força: a pobreza não é uma fatalidade.
De fato, esta aldeia encerra uma longa
história de coragem e ajuda mútua. Esta cidade é o resultado de muitos anos de
trabalho duro. Na base, encontramos uma fé viva que se traduziu em ações
concretas, capazes de «mover montanhas» (cf. Mc 11, 23). Uma fé que permitiu
ver uma chance onde era visível apenas a precariedade, ver a esperança onde só
era visível a fatalidade, ver a vida onde muitos anunciavam morte e destruição.
Lembrai-vos daquilo que escrevia o apóstolo São Tiago a propósito da fé: «se
ela não tiver obras, está completamente morta» (2, 17). Os alicerces do
trabalho feito em comum, do sentido de família e comunidade consentiram
restaurar, de forma artesanal e paciente, a confiança não só dentro de vós, mas
entre vós, dando-vos a possibilidade de ser os protagonistas e os artífices
desta história. Uma educação para os valores, através da qual as primeiras
famílias que iniciaram a aventura com o padre Opeka puderam transmitir o enorme
tesouro de compromisso, disciplina, honestidade, respeito por si mesmo e pelos
outros. E pudestes compreender que faz parte do sonho de Deus não apenas o
progresso pessoal, mas sobretudo o progresso comunitário, já que não há
escravidão pior – como nos lembrou o padre Pedro – do que viver cada um só para
si.
Queridos jovens de Akamasoa, gostaria de vos
dirigir uma mensagem particular: Nunca desistais perante os efeitos nefastos da
pobreza, nunca sucumbais às tentações da vida fácil ou do retraimento em vós
mesmos. Obrigado, Fanny, pelo belo testemunho que nos deste em nome dos jovens
desta aldeia. Queridos jovens, cabe a vós continuar o trabalho feito pelos mais
velhos. A força para realizar tudo isto, encontrá-la-eis na vossa fé e no
testemunho vivo que foi plasmado na vossa vida. Deixai desenvolver-se em vós os
dons que o Senhor vos concedeu. Pedi-Lhe para vos ajudar a servir generosamente
os vossos irmãos e irmãs. Assim, Akamasoa não será apenas um exemplo para as
gerações futuras, mas sobretudo o ponto de partida duma obra inspirada por
Deus, que encontrará o seu pleno desenvolvimento continuando a testemunhar o
seu amor às gerações presentes e futuras.
Rezemos para que se difunda, por Madagascar
inteiro e em outras partes do mundo, o esplendor desta luz e possamos alcançar
modelos de desenvolvimento que privilegiem a luta contra a pobreza e a exclusão
social a partir da confiança, da educação, do trabalho e do empenho que são
sempre indispensáveis para a dignidade da pessoa humana.
Queridos amigos de Akamasoa, querido padre
Pedro e colaboradores, obrigado uma vez mais pelo vosso testemunho profético e
gerador de esperança. Que Deus continue a abençoar-vos.
Peço-vos, por favor, que não vos esqueçais de
rezar por mim.
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ACI Digital
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