O Núncio Apostólico na Alemanha, Dom Nikola
Eterovic, escreveu uma carta aos bispos do país europeu, na qual lhes pediu
para serem fiéis ao Papa Francisco e compartilhou a recente carta do Santo
Padre com uma encíclica do Papa Pio XI escrita no tempo dos nazistas.
Em sua carta enviada aos bispos alemães
reunidos em assembleia plenária, o Núncio recordou o chamado do Papa Francisco
à Igreja na Alemanha para que se centre na evangelização e mantenha a unidade
com a Igreja universal durante seu “processo sinodal” vinculante.
No dia 29 de junho, Solenidade de São Pedro e
São Paulo, o Papa Francisco escreveu uma carta à Igreja na Alemanha na qual
ofereceu suas prioridades e metodologias para o processo sinodal, cujos
primeiros trabalhos já começaram no país. Durante sua assembleia plenária, os
bispos votarão os estatutos do processo sinodal para a criação da chamada
assembleia sinodal.
Na assembleia sinodal, os bispos seria uma
minoria com 69 membros entre 200, para debater temas como a separação de
poderes na Igreja, a vida sacerdotal, o acesso de mulheres a diversas funções
na Igreja e a moral sexual.
O Núncio ressaltou em sua missiva que “a carta
do Santo Padre merece especial atenção. De fato, é a primeira vez desde a
encíclica de Pio XI, Mit brennender sorge – Com profunda preocupação –, que um
Papa dedicou uma carta aos membros da Igreja Católica na Alemanha.
Dom Eterovic explicou que a “encíclica de 14
de março de 1937 denuncia as inadmissíveis intervenções do regime nacional
socialista nos assuntos da Igreja Católica, mas a carta atual se refere a
assuntos internos da Igreja”.
“Como representante do Santo Padre na
Alemanha, alegra-me que os conteúdos da carta papal sejam objeto de estudo
durante a assembleia. Não duvido de que a carta do Papa influenciará
positivamente o chamado processo sinodal”, escreveu o Arcebispo de origem
croata.
O Núncio ressaltou a importância da unidade,
como ressalta o Papa Francisco. “A unidade entre a Igreja universal e as
igrejas particulares é essencial para a efetividade da evangelização”,
escreveu.
“É assim especialmente nestes tempos de forte
fragmentação e polarização, para assegurar que o Sensus Ecclesiae realmente
esteja em toda decisão que tomemos e que nutra e cubra todos os níveis”,
acrescentou.
O Núncio explicou que o Papa quis recordar aos
bispos alemães que a comunhão “nos ajuda a superar o medo que nos isola em nós
mesmos e nossas particularidades, para que possamos olhar nos olhos e escutar
os que estão ali, ou para que possamos renunciar a necessidades e assim
acompanhar quem ficou no caminho”.
Finalmente, o Arcebispo advertiu os bispos
alemães de qualquer tentação de buscar soluções fáceis diante da crise de fé no
país.
Citando Dietrich Bonhoeffer, um teólogo
protestante assassinado pelos nazistas, Dom Eterovic disse que confiar na
“graça barata” não pode ser a base da renovação, pois é “o inimigo moral de
nossa Igreja”. Ao contrário, incentivou os bispos a “lutar” pela “graça cara”
que se encontra centrando-se na evangelização, como o Papa incentiva.
Para concluir, o Núncio Apostólica na Alemanha
sublinhou que, “como uma comunidade de fiéis, como comunhão de esperança vivida
e pregada, como comunidade de amor fraterno, a Igreja tem que escutar de si
mesma o que deve crer e as razões de sua esperança, e o que é o novo mandamento
do amor”.
A grave crise da Igreja na Alemanha
A carta do Núncio Apostólico chega aos bispos
em um momento em que a Igreja no país vive uma grave crise.
Nos primeiros dias deste mês de setembro, o
Cardeal Marx disse que "pode-se chegar à conclusão de que faz sentido, sob
certas condições e em certas regiões, permitir sacerdotes casados".
O Cardeal também fez outras declarações
contrárias à doutrina da Igreja, nas quais encorajou o acesso à comunhão dos
divorciados em nova união, promoveu que os sacerdotes católicos concedam a
bênção a casais homossexuais e sugeriu que os leigos pregassem na Missa.
Além disso, e no âmbito do Sínodo dos Bispos
para a Amazônia que será realizado em outubro, em uma entrevista em 2018, o
vice-presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Franz-Josef Bode, disse
que, se a ordenação de sacerdotes casados na Amazônia for
autorizada, os bispos alemães insistirão em ter a mesma permissão.
Em janeiro desse ano, ele também disse que era
a favor de abençoar casais homossexuais.
Da mesma forma, Dom Franz-Josef Overbeck,
Bispo de Essen e presidente da Adveniat, instituição de ajuda da Igreja na
Alemanha para a América Latina, disse que o Sínodo da Amazônia "é um ponto
sem retorno" para a Igreja e que "nada será como antes” depois deste
encontro.
O Prelado também apoiou publicamente a “greve
das mulheres” contra a Igreja na Alemanha, convocada por um grupo de católicas
após o não do Papa Francisco à ordenação de diaconisas.
Em meados de julho deste ano, a Conferência
Episcopal da Alemanha divulgou algumas estatísticas do ano de 2018, entre as
quais destaca que, no período, mais de 216 mil fiéis decidiram abandonar a
Igreja Católica.
Além disso, dos 23 milhões de batizados no
país, de uma população total de 83 milhões, a porcentagem daqueles que
participam da Missa Dominical é de 9,3%, ou seja, cerca de 2,1 milhões.
No caso dos sacerdotes que servem nas dioceses
do país, o número caiu para 1.161 em 2018, quando havia mais de 17.000 no ano
2000.
As estatísticas também indicam que no ano 2000
havia 13.241 paróquias na Alemanha. Em 2018, caíram para 10.045.
As estatísticas de 2018 não fornecem nenhuma
informação sobre o sacramento da Reconciliação ou da Confissão, uma prática que
parece ter sido quase completamente abandonada pelos católicos do país,
incluindo os sacerdotes.
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ACI Digital
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