A sociedade ocidental está se decompondo,
desfigurando-se rapidamente. Sua matriz geradora foi a tradição judeu-cristã,
que pariu nossa cultura do Ocidente. Foi o cristianismo, com sua crença de que
cada indivíduo é imagem e semelhança de Deus em Cristo, quem possibilitou que essa
cultura desenvolvesse conceitos como pessoa, direitos humanos, democracia,
dignidade do indivíduo, etc. Foi o judeu-cristianismo, ao afirmar que a
história é aberta e caminha para uma plenitude e que o homem tem a função de
“dominar” a terra, quem inspirou e possibilitou o desenvolvimento tecnológico
que fez com que o Ocidente se afirmasse hegemonicamente frente a outras
culturas. Sem o cristianismo, o Ocidente não existiria. Até mesmo correntes de
pensamento que se mostraram visceralmente antirreligiosas e anticristãs,
beberam no cristianismo as bases de suas afirmações...
Desde o século XVIII, no entanto, com o
iluminismo racionalista, o homem ocidental deu as costas a Deus, a Cristo, à
Igreja e engendrou um projeto suicida: conservar e aprimorar os valores de
nossa sociedade negando Deus. Tal projeto continua de pé; vai de vento em popa:
a ilusão de um humanismo sem Deus e o Seu Cristo, um plano de fraternidade
universal escondendo Jesus Cristo, nosso Senhor... Só há um problema, grave,
urgente, inevitável: sem a sua seiva cristã, a grande árvore ocidental vai
murchar, morrer e secar. Renegando a cosmovisão cristã que os inspirou, nossa
sociedade não poderá conservar os valores admiráveis que construiu.
Atualmente, é moda criticar o cristianismo,
avacalhar a Igreja e seu passado, relativizar Cristo, destruir a moral cristã,
desfigurando-a. Fazem isso nas universidades, promovem isso nos meios de
comunicação, levam adiante essa política nos vários programas de governos... O
preço será alto, as consequências serão tremendas, porque o homem não pode
matar Deus e continuar sendo humano, vivendo uma vida humana. Seremos lobos de
nós mesmos, de nós mesmos desiludidos, por nós mesmos desgostosos. Exemplos
dessa necrose? A destruição do conceito de família e de sua realidade mesma, o
desencanto e falta de ideal de nossos jovens, a banalização e aviltamento da
sexualidade, a exaltação da homossexualidade como ideologia, a corrupção
deslavada na política, a violência nas suas mais diversas manifestações, a
droga e a guerrilha urbana nas nossas cidades, o desprezo pela vida: aborto,
experimentos imorais com embriões humanos, a promoção da eutanásia.
O Ocidente está matando Deus. O Ocidente, por
isso mesmo, morrerá! A continuar assim, nosso destino não muito distante serão
a barbárie e a tirania. Ao fim das contas, valem para toda a nossa sociedade as
palavras que o ateu Miguel de Unamuno dizia ao Deus em Quem não conseguia crer:
“Que pena que Tu não existas. Se existisses, eu também existiria de verdade”.
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares, PE
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