Uma mulher de 61 anos, testemunha de Jeová, faleceu a alguns anos em Sevilha (Espanha),
após ter sofrido um acidente de carro, porque em um documento de vontades
antecipadas, rejeitava receber qualquer tipo de transfusão sanguínea devido às
suas convicções religiosas.
Está baseada na Bíblia a proibição de comer ou receber sangue, inclusive
por transfusão, ou de qualquer outra forma? A esta questão responde nesta
análise Vicente Jara Vera, membro da Rede Ibero-americana de Estudo das Seitas
(RIES), diretor do programa “Conheça as seitas”, emitido quinzenalmente pela
Rádio Maria na Espanha.
* * *
O problema
São numerosas as notícias sobre negativas de
membros da seita das Testemunhas de Jeová para realizar transfusões de sangue,
e de complicações, às vezes com o falecimento do paciente, ao não poder
atendê-los devidamente em um hospital diante de uma cirurgia ou um transplante
de órgão. Muitos destes acontecimentos podem ser conhecidos na documentação da
Rede Ibero-americana de Estudo das Seitas (RIES), especialmente no boletim
eletrônico Info-RIES.
Sobre a seita das Testemunhas de Jeová
Recordemos que as Testemunhas de Jeová não são
cristãs. São uma seita, já que se fazem passar pelo que não são, por cristãos.
E não podem ser uma igreja cristã porque não acreditam no dogma da Trindade e
na divindade de Jesus como Filho de Deus encarnado, a quem consideram como
criatura excelsa, primeira no plano de Deus, que para eles é similar ao arcanjo
Miguel.
As Testemunhas de Jeová mudaram várias
passagens da Bíblia para adaptá-las às suas próprias ideias, que nenhum
estudioso, crente ou não, poderia encontrar nos textos originais. Portanto, são
um grupo com expressões e formas religiosas parecidas com as cristãs, mas que
tentam fazer-se passar por uma igreja cristã sem sê-lo. Em definitivo, são uma
seita, que pretende ter mais e mais adeptos e mais e mais dinheiro deles e,
assim, maior influência.
Em que as Testemunhas de Jeová baseiam sua
negativa de receber sangue?
Os textos que eles utilizam para negar-se a
receber sangue são os seguintes, principalmente do Antigo Testamento, e um do
Novo Testamento – este último analisaremos posteriormente em outra parte; vamos
agora aos textos do Antigo Testamento:
Gênesis 9, 3-6: “Tudo o que se move e
possui vida vos servirá de alimento, tudo isso eu vos dou, como vos dei a
verdura das plantas. Mas não comereis a carne com sua alma, isto é, o sangue.
Pedirei contas, porém, do sangue de cada um de vós. Pedirei contas a todos os
animais e ao homem, aos homens entre si, eu pedirei contas da alma do homem.
Quem derrama o sangue do homem, pelo homem terá seu sangue derramado. Pois à
imagem de Deus o homem foi feito”.
Levítico 3, 17: “É para todos os vossos descendentes uma lei perpétua, em qualquer
lugar onde habitardes: não comereis gordura nem sangue”.
Levítico 17, 10: “Todo homem da casa de Israel ou estrangeiro residente entre vós, que
comer sangue, qualquer que seja a espécie de sangue, voltar-me-ei contra esse
que comeu sangue e o exterminarei do meio do seu povo”.
Levítico 17, 13-14: “Qualquer pessoa, filho de Israel ou estrangeiro residente entre vós,
que caçar um animal ou ave que é permitido comer, deverá derramar o seu sangue
e recobri-lo com terra. Pois a vida de toda carne é o sangue, e eu disse aos
israelitas: ‘Não comereis o sangue de carne alguma, pois a vida de toda carne é
o sangue, e todo aquele que o comer será exterminado’”.
Deuteronômio 12, 23: “Sê firme, contudo, para não comeres o sangue, porque o sangue é a
vida. Portanto, não comas a vida com a carne”.
Todos estes textos são claros e rotundos em
sua proibição: não é lícito comer sangue animal porque é comer a vida.
Analisaremos a seguir seu sentido e os situaremos em seu contexto, deixando
para mais adiante o texto do Novo Testamento, que também utilizam para apoiar
suas ideias.
O significado do sangue para os povos semíticos
Nos povos semitas do Oriente, o sangue era
visto como o elemento onde residia a vida, o elemento vital e vitalizante dos
seres vivos. Ao matar um animal, na morte de qualquer pessoa ou em um
sacrifício, o sangue vertido indicava claramente que a vida ia embora conforme
o sangue ia saindo.
A perda de sangue era também sintoma de
fraqueza, de perda de vitalidade, de vida. Para os antigos, o sangue brotava do
coração e a parada cardíaca indicava a morte da pessoa. Recordemos, além disso,
como a mitologia da Mesopotâmia conta que o deus Marduk (deidade babilônica), o
principal dos deuses, propôs-se a criar os homens para que adorassem as
divindades; para isso, amassou argila com o sangue de um deus rebelde –
posteriormente considerado um demônio – de nome Kingu.
Com este transfundo mesopotâmico, fica claro
que nos antigos sacrifícios animais do povo de Israel se oferecia a vida a Deus
e isso significava derramar o sangue do animal sacrificado. O sangue era a vida
e ela era propriedade de Deus; daí que não se podia tomar o que pertencia a
Deus. O pecado, a infração, estava, portanto, em tomar pelo homem o que não lhe
correspondia, o que é de Deus.
Esta visão do sangue como vida é também a
razão pela qual do mais terrível dos demônios mesopotâmicos, Lilitu ou Labartu
– que no Poema de Gilgamesh se denomina como Lillake – se dizia que matava as
crianças e bebia o sangue delas, isto é, seu pecado era arrancar-lhes a vida,
propriedade de Deus, sendo por isso a primeira figura vampírica conhecida da
história.
E não nos esqueçamos como, “na noite em que
foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e
disse: ‘Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isso em memória de mim’. Do
mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a Nova
Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de
mim’”. (1 Cor 11,24-25).
Recordemos que, na Antiga Aliança, o pão e o
vinho eram oferecidos como sacrifício entre as primícias da terra, em sinal de
oferenda a Deus. Também o sacerdote Melquisedeque, figura de Cristo, ofereceu
pão e vinho (Gn 14, 18). Junto a isso, a saída de Israel do Egito e o contexto
do Êxodo dão ao vinho – no qual nos centramos – um caráter festivo no final do
banquete judaico e uma dimensão escatológica de espera messiânica. O vinho é
“verdadeira bebida” e bebê-lo é “ter a vida em Cristo, que é Deus, e permanecer
n’Ele” (cf. Jo 6, 53-56).
Na antropologia semita, o princípio vital do
sangue se relaciona com o suspiro ou a respiração, é o “ser vivente”, a vida, e
se designa como nefesh. A nefesh ainda permanece na carne morta, no cadáver –
daí que se possa tomar essa vitalidade quando se toma o sangue do animal ou da
pessoa morta. Uma coisa diferente ocorre com seu espírito, o ruaj que, ao
morrer o homem, vai para o além ou sheol. Daí que na antropologia semítica
exista tanta unidade entre a carne (basar) e o princípio vital ou nefesh, mas é
a ausência da ruaj que, ao não estar presente após a morte do ser humano,
torna-o não-vivo.
Por outro lado, os animais não têm ruaj, mas
basar e nefesh. Recordemos que os gregos traduziram nefesh como psykhé e este
termo passou ao latim como anima, que é a nossa “alma”, ainda que é mais
correto dizer que a alma está na ruaj (que se transformou em “espírito”) e não
no psíquico, no nefesh que, como dizemos, ainda permanece no cadáver.
O sangue em si mesmo
Ainda sendo um assunto muito conhecido em sua
existência, somente nos séculos XIX e XX conseguiu-se entender o seu verdadeiro
significado fisiológico, sendo o que mais motivou a inventiva e o que maior
impacto teve no pensamento popular, mítico e religioso durante todas as épocas
e culturas ao longo do mundo.
Como qualquer povo, o povo de Israel se
desenvolveu sob uma influência e uma cultura centralizadas nas civilizações do
Oriente Médio, o que levou a assumir muitas ideias pré-científicas próprias do
seu entorno. As leis sobre o sangue se enquadram em uma época determinada, uma
cultura, uma mentalidade; e assim ocorreu com os demais povos e civilizações.
Plínio o Velho contava que por volta de 100 da
nossa era, no circo as pessoas eram lançadas à arena para beber o sangue dos
gladiadores ainda moribundos e assim poder adquirir sua força e valentia.
Outros grupos étnicos da Ásia e da América Central e do Canadá tinham por
costume, há dois milênios, tomar o sangue dos seus inimigos e de animais para
fortalecer-se e adquirir as propriedades dos animais.
Pesquisadores e cientistas do século XVII que
começaram a realizar as primeiras transfusões sanguíneas às vezes davam sangue
animal a pessoas com o fim de variar o caráter do receptor, havendo inclusive
histórias de uma mulher que, tendo recebido sangue de gato, miava às noites
sobre o telhado de sua casa.
Deixando de lado aspectos insustentáveis,
temos de dizer que até pouco tempo atrás era considerada pela ciência, em seu
desconhecimento do sangue, sua função, utilidade e variedade em tipos, que
verdadeiramente de alguma forma possuía em si mesmo a propriedade daquele de
quem provinha, o que se confirma nos dois casos anteriormente comentados,
muitos próximos no tempo da nossa atualidade, o que deve nos levar a não cair
na rápida crítica histórica, anacrônica e injusta, portanto, das leis do Antigo
Testamento referentes ao uso de sangue animal, por considerar-se como sede da
vida, do vital, a alma do animal. Achar que no sangue residia a vida, a psykhé
do seu proprietário foi algo suposto até 300 anos atrás por homens de ciência
na Europa.
A Bíblia não é um livro científico, nem de medicina, nem de astronomia,
nem de matemática e nem de biologia
Como disse o Concílio Vaticano II em sua
constituição dogmática Dei Verbum, em seus números 11 e 12, “os livros da
Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro a verdade que Deus, para
nossa salvação. (…) Importa, além disso, que o intérprete busque o sentido que
o hagiógrafo em determinadas circunstâncias, segundo as condições do seu tempo
e da sua cultura, pretendeu exprimir e de fato exprimiu servindo se os gêneros
literários então usados. Com efeito, para entender retamente o que autor
sagrado quis afirmar, deve atender-se convenientemente, quer aos modos nativos
de sentir, dizer ou narrar em uso nos tempos do hagiógrafo, quer àqueles que
costumavam empregar-se frequentemente nas relações entre os homens de então”.
A Bíblia não deve ser lida como um livro de
ciência e seus textos não devem ser lidos fora do contexto cultural de sua
época. Como disse Santo Agostinho no século V, “a Bíblia não nos ensina como
vai o céu, e sim como se vai ao céu”.
O Antigo Testamento à luz do Novo Testamento
Ler o Antigo Testamento deve levar a ler o
Novo. A Bíblia (Antigo e Novo Testamentos) é o livro do Povo de Deus, o meio
pelo qual Deus foi educando e continua educando seus filhos. A salvação se
desenvolve no tempo e foi sendo revelada na história. Como diz a Carta aos
Hebreus em seu início, “Muitas vezes e de modos diversos falou Deus, outrora,
aos pais pelos profetas; agora, nestes dias que são os últimos, falou-nos por
meio do Filho” (Hb 1,1-2).
O Concílio Vaticano II, na Dei Verbum, dirá
que “Foi por isso que Deus, inspirador e autor dos livros dos dois Testamentos,
dispôs tão sabiamente as coisas, que o Novo Testamento está latente no Antigo,
e o Antigo está patente no Novo. Pois, apesar de Cristo ter alicerçado à nova
Aliança no seu sangue, os livros do Antigo Testamento, ao serem integralmente
assumidos na pregação evangélica adquirem e manifestam a sua plena significação
no Novo Testamento, que por sua vez iluminam e explicam” (DV cap. 4. 16).
Além disso, justamente antes, explicou que “a
‘economia’ do Antigo Testamento destinava-se sobretudo a preparar, a anunciar
profèticamente e a simbolizar com várias figuras o advento de Cristo, redentor
universal, e o do reino messiânico. Mas os livros do Antigo Testamento, segundo
a condição do gênero humano antes do tempo da salvação estabelecida por Cristo,
manifestam a todos o conhecimento de Deus e do homem, e o modo com que Deus
justo e misericordioso trata os homens. Tais livros, apesar de conterem também
coisas imperfeitas e transitórias, revelam, contudo, a verdadeira pedagogia
divina” (DV cap. 4. 15).
A leitura, portanto, das passagens do Antigo
Testamento deve ser feita sempre, especialmente nas passagens que revestem um
ponto de vista dogmático ou moral, sob a luz do Novo Testamento, já que a
perfeição chegou com Cristo. Fica claro que a leitura da Bíblia deve ser feita
a partir de sua totalidade.
Algumas passagens pertinentes do Novo Testamento
Já o apóstolo São Paulo deixou claro na Carta
aos Gálatas que, “antes que chegasse a fé, nós éramos guardados sob a tutela da
Lei para a fé que havia de se revelar. Assim a Lei se tornou nosso pedagogo até
Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Chegada, porém, a fé, não
estamos mais sob pedagogo” (Gl 3, 23-25).
Um texto similar da Carta aos Hebreus recorda
a inutilidade dos sacrifícios animais diante do único e somente válido
sacrifício de Cristo na Cruz: “Possuindo apenas a sombra dos bens futuros, e
não a expressão própria das realidades, a lei é totalmente incapaz, apesar dos
mesmos sacrifícios sempre repetidos, oferecidos sem fim a cada ano, de levar à
perfeição aqueles que se aproximam de Deus. (…) Mas, ao contrário é por meio
destes sacrifícios que, anualmente se renova a lembrança dos pecados. Além do
mais, é impossível que o sangue de touros e de bodes elimine os pecados.” (Hb
10, 1.3-4).
Jesus dá perfeito cumprimento às leis de
Moisés, à Lei em seu conjunto, à Torá, porque, como nos recorda o evangelista
Mateus, “Digo-vos que aqui está algo maior do que o Templo. (…) Pois o Filho do
Homem é senhor do sábado” (Mt 12, 6.8)
O texto do Novo Testamento que as Testemunhas de Jeová citam a seu favor
Anteriormente, deixamos para mais adiante uma
passagem do Novo Testamento que avalizava a teoria das Testemunhas de Jeová.
Agora é um momento de considerá-la, levando em consideração o que foi comentado
nas seções anteriores.
Só existe uma passagem onde expressamente se
menciona o uso do sangue no Novo Testamento, e é o relato do Concílio de
Jerusalém, no qual, após a discussão dos diversos pontos de vista entre as
facções ou comunidades cristãs de Pedro, Paulo e Tiago em referência ao
comportamento imposto aos gentios e aos cristãos provenientes do judaísmo – é a
abertura da evangelização muito além dos limites judaicos e o reconhecer que
práticas do judaísmo podiam permanecer e quais se manteriam frente à irrupção
que a mensagem e a pessoa de Jesus Cristo supôs – chega-se à conclusão
seguinte, após a fala do representante das comunidades mais próximas do
judaísmo, Tiago: “De fato, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor
nenhum outro peso além destas coisas necessárias: que vos abstenhais das carnes
imoladas aos ídolos, do sangue, das carnes sufocadas e das uniões ilegítimas”
(Atos 15, 28-29).
Para compreender este texto, analisemos outro
que dará luz ao que ocorreu aqui:
Posteriormente, Pedro e Paulo se encontram em
Antioquia e Pedro, que seguia as normas das refeições dos gentios, aos chegarem
membros das comunidades cristãs de Tiago, deixará de comer com eles e se
sentará à mesa dos cristãos provenientes do judaísmo. Diante disto, Paulo
jogará na cara de Pedro seu comportamento e lhe dirá que a justificação se dá
pela fé e não pelas obras da lei (de Moisés) (Gl 2, 11-21). Certamente, aqui
não se menciona o sangue nem de que preceitos alimentares estavam falando,
ainda que se pode supor que alguns membros voltavam a comportar-se como antes,
sem levar em conta o que foi dito no Concílio de Jerusalém.
Na Carta aos Romanos, (Rm 14, 1-23), Paulo
oferece uma solução conciliadora para que os costumes alimentares dos gentios
não “entristeçam” (Rm 14, 15) os cristãos vindos do judaísmo, pedindo-lhes que
não escandalizem os “fracos na fé” (Rm 14, 1): “Acolhei o fraco na fé sem
querer discutir suas opiniões. Um acha que pode comer de tudo, ao passo que o
fraco só come verdura. (…) Se por causa de um alimento teu irmão fica
contristado, já não procedes com amor. (…) Porque o Reino de Deus não consiste
em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo”.
E já em uma carta pastoral como a de Timóteo,
ainda que em um contexto contra as ideias dos gnósticos, podemos ler que “tudo
o que Deus criou é bom, e nada é desprezível (os alimentos que Deus criou), se
tomado com ação de graças, porque é santificado pela Palavra de Deus e pela
oração” (1 Tm 4, 4-5).
As transfusões de sangue
Sobre as transfusões sanguíneas, que não
existiam na época do Antigo e do Novo Testamentos, não se diz nada na Bíblia.
No entanto, como o sangue era considerado como sede da vida e algo ligado à
própria pessoa em sua cultura semítica, poderíamos pensar que a transfusão de sangue
deveria ser negada por igual princípio: não seria permitido colocar sangue de
uma pessoa em outra, não se poderia colocar o nefesh, a psykhé de uma pessoa em
outra, é algo óbvio.
Pessoalmente, não concordo com considerar que,
como a Bíblia não fala de transfusões, estas são permitidas por ela. E mais
ainda, acabamos de dizer, que tivessem existido transfusões naquela época,
também teriam sido negadas. Mas não é este o critério de leitura e
interpretação bíblica, e sim a busca do sentido da proibição mosaica, que
reside, como dissemos, na crença científica errônea – hoje sabemos disso – da
residência do vital do ser humano ou do animal no sangue. Portanto, esta lei
moral e alimentar está baseada em uma concepção científica errônea, que
inclusive no século XVII vimos com um exemplo, era considerada pela própria
ciência médica hematológica.
A leitura correta da Bíblia diante das
transfusões é que é uma prática puramente médica diante da qual a Bíblia e a
Igreja não têm nada a dizer, ao não ir contra a moral natural nem a lei
positiva de Deus, sendo, em todo caso, uma prática adequada e necessária frente
à qual a Igreja se pronunciou favoravelmente, uma vez que se estabeleceu
cientificamente no século XX quais eram suas classes, com a descoberta dos
tipos A, B, O e AB, e começou-se a compreender a ciência das transfusões.
Conclusão
Usar o sangue (como bebida ou de qualquer
outra forma) está ligado absolutamente à alimentação das partes animais,
criaturas de Deus e abençoadas por Deus em todas as suas partes, e não ao uso
da vitalidade ou da alma (animal), ou à suposta aquisição de propriedades
animais. Qualquer crença em sentido contrário se baseia em um conhecimento
científico inadequado do tecido sanguíneo, que hoje em dia não podemos manter.
Devemos entender que alguns preceitos da
antiguidade têm seu sentido somente no contexto de sua época e se baseiam em
concepções pré-científicas. Se é este o caso, como mostramos, não podemos
manter sua extensão à atualidade como fazendo parte da lei divina. Foram leis
que tiveram sua vigência em certos momentos para o povo de Israel, mas que hoje
não têm, dado que temos um conhecimento maior da realidade criada.
Por outro lado, a transfusão sanguínea é um
método da ciência de extraordinária ajuda para a vida do receptor em inúmeras
situações médicas orientadas sempre à vida e nunca contra o doador. É por isso
que neste ponto citamos as palavras de Cristo em referência ao valor da vida
frente a qualquer prescrição da Lei:
“Partindo dali, entrou na sinagoga deles. Ora,
ali estava um homem com a mão atrofiada. Então perguntaram-lhe, a fim de
acusá-lo: ‘É lícito curar aos sábados?’ Jesus respondeu: ‘Quem haverá dentre
vós que, tendo uma só ovelha e caindo ela numa cova em dia de sábado, não vai
apanhá-la e tirá-la dali? Ora, um homem vale muito mais do que uma ovelha!
Logo, é lícito fazer o bem aos sábados’.” (Mt 12, 9-12).
É por tudo isso que a negativa da seita das
Testemunhas de Jeová de usar o sangue, seja como comida, bebida ou de qualquer
outra forma, ou negar-se a receber transfusões de sangue por ser um mandato
divino pela vitalidade supostamente residir no sangue, a parte anímica do ser
vivo, é um erro.
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Comunidade
Shalom
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