O Arcebispo de Colônia (Alemanha), Cardeal
Reiner Maria Woelki, alertou os bispos alemães reunidos em sessão plenária, na
manhã de 24 de setembro, que devem "levar o Papa muito a sério" e,
sob sua liderança e a da Igreja universal, revisar seus planos sinodais
polêmicos.
“Levemos o Papa muito a sério!”, disse o
Cardeal Woelki, enquanto pedia que fossem feitas mudanças importantes nos
planos do sínodo para alinhá-los às recomendações de Francisco.
O Purpurado lembrou que o Papa Francisco lhes
havia oferecido um "conselho paternal" essencial em sua carta de
junho à Igreja na Alemanha.
Os bispos alemães se reúnem na cidade de
Fulda, de 23 a 25 de setembro. Nesta quarta-feira, 25 de setembro, espera-se
que votem para escolher o esboço com os estatutos do “processo sinodal
vinculante” anunciado pelo presidente da Conferência Episcopal da Alemanha,
Cardeal Reinhard Marx, no início de 2019.
Em meados de setembro, o Cardeal respondeu ao
Vaticano, através de uma carta, afirmando que o polêmico processo sinodal
alemão continuará como planejado, apesar das críticas da Santa Sé e do Papa
Francisco, e discutirá questões que têm a ver com o ensinamento universal da
Igreja e sua disciplina.
A missiva se refere ao "processo
sinodal", no qual os bispos planejam criar uma assembleia sinodal na qual
seriam uma minoria com 69 membros entre 200, para discutir temas como a separação
de poderes na Igreja, a vida sacerdotal, o acesso das mulheres a diversas
funções na Igreja e a moral sexual.
Durante a sessão da assembleia plenária de
terça-feira, 24, o Cardeal Woelki se referiu a vários temas-chave da carta do
Papa que, segundo ele, os bispos devem honrar, especialmente seu chamado para
se centrar na evangelização e comunhão com a Igreja em geral.
A Igreja na Alemanha deve começar por
"re-evangelizar a si mesma", é um "pré-requisito
indispensável" para sua missão mais ampla, disse o Purpurado,
acrescentando que a carta de Francisco deixou claro que os bispos devem
permanecer enraizados na unidade essencial da fé, em Cristo e com toda a Igreja
universal.
“Este é o sinal indispensável para o nosso
caminho sinodal, que precisa correr como um fio através dele, para que o
caminho sinodal possa dar frutos verdadeiros. A carta do Papa não deixa dúvidas
sobre isso”, disse o Cardeal Woelki.
A carta do Papa se tornou um ponto importante
para o debate, à medida que os bispos alemães continuam suas deliberações sobre
a criação de uma Assembleia Sinodal em associação com o Comitê Central dos
Católicos Alemães.
Em 23 de setembro, o Núncio Apostólico na
Alemanha, Dom Nikola Eterovic, escreveu aos bispos alemães para recordar que,
com a carta de junho, é a primeira vez que um Papa escreve a todos os fiéis
alemães desde o surgimento do nazismo, e que é essencial que escutem o Santo
Padre.
O Cardeal Woelki assegurou que a advertência
do Papa contra um sínodo inspirado em um "novo pelagianismo", centrado
na reforma estrutural e em colocar a Igreja em conformidade com o espírito da
época, é uma exortação importante.
"Não é casualidade que o Santo Padre
advirta contra uma tendência que parece típica da Alemanha", disse o
Cardeal Woelki, citando o Papa, ao descrever "essa antiga e sempre nova
tentação dos promotores do gnosticismo que, querendo fazer seu próprio nome e
expandir sua doutrina e fama, procuraram dizer algo sempre novo e diferente do
que a Palavra de Deus lhes presenteava”.
O Purpurado disse que, embora seja importante
permitir a ampla participação dos fiéis na vida da Igreja, isso não pode ser
confundido com a autoridade legítima de ensinamento e governo dos bispos
"garantia da apostolicidade e da catolicidade".
Referindo-se à recente avaliação do Vaticano
sobre o esboço com os estatutos da Assembleia do Sínodo, o Cardeal lembrou aos
bispos que existe uma diferença crucial entre um enfoque
"parlamentar" para o governo da Igreja e o papel adequado da
discussão e consulta antes do exercício da autoridade legítima para a tomada de
decisões.
“O caminho sinodal não deve ser percorrido sem
a Igreja universal. A carta (do Papa) exorta essa perspectiva quando diz:
‘Trata-se de viver e de sentir com a Igreja e na Igreja (...). A Igreja
universal vive nas e das Igrejas particulares, assim como as Igrejas
particulares vivem e florescem na e da Igreja universal, e se são separadas de
todo o corpo eclesial, enfraquecem, murcham e morrem".
Os planos sinodais alemães incluem a formação
de vários grupos de trabalho formados em associação com o Comitê Central dos
Católicos Alemães. Estes já começaram a trabalhar e se espera que apresentem
propostas em desacordo com o ensinamento universal da Igreja, algo que o
Cardeal Woelki disse que iria contra as claras instruções do Papa.
“O Papa Francisco lembra que a fé das Igrejas
particulares sempre se encontra na fé de toda a Igreja e deve ser encontrada
lá. Em longo prazo, não pode e não deve haver maneiras diferentes de lidar com
questões fundamentais de fé e moralidade que não apenas colocariam em perigo,
mas possivelmente violariam, o alto bem da unidade que professamos no Credo
como um atributo da Igreja”, afirmou.
“As estipulações da fé, que pertencem à
existência imutável da doutrina da Igreja, não podem e, portanto, não devem ser
objeto de debate no caminho sinodal. A impressão não deve ser transmitida de
que haveria uma votação quase parlamentar sobre a fé”, insistiu o Arcebispo de
Colônia.
As críticas do Vaticano aos planos alemães,
apresentadas em uma carta datada de 4 de setembro ao Cardeal Reinhard Marx pelo
Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos, levantaram uma
série de preocupações. A principal delas é o plano de conceder à Assembleia
Sinodal “poder deliberativo” para aprovar resoluções sobre questões que afetam
o ensinamento e o governo da Igreja.
O Cardeal Woelki também disse que escutar as
instruções do Papa não significa interromper o processo sinodal.
"A carta do Papa enfatiza que isso não
significa ‘não caminhar, avançar, mudar e inclusive não debater e discordar’.
Mas isso deve ser feito com a consciência, como diz o Papa, de ‘que somos
essencialmente parte de um corpo maior que nos exige, espera e precisa e que
também nós exigimos, esperamos e precisamos’".
O Cardeal concluiu exortando os outros bispos
alemães a fazer as mudanças necessárias nas estruturas e temas sinodais para
consideração, assinalando a versão alternativa que apresentou em agosto, na
qual explicitou que o corpo sinodal tinha um papel estritamente consultivo e
sugeriu temas alternativos centrados na evangelização.
“Junto com o Santo Padre, novamente advirto
contra seguir um caminho substancial e formal que nos retiraria do corpo
universal de Cristo. Nossa participação na fé da Igreja universal, cuja
integridade servimos nada menos que no ministério episcopal, exclui qualquer
negociação ou votação sobre assuntos de fé. Isso também se aplica à disciplina
eclesiástica, na medida em que está inserida no contexto geral da Igreja”,
afirmou.
“Levemos o Papa realmente a sério. Não
precisamos de um ativismo agitado, mas da serenidade de todos os que estão
totalmente comprometidos com Cristo. É crucial que a Igreja na Alemanha mostre
com palavras e ações como é belo viver na presença do Senhor, saber que Ele nos
acompanha e nos rodeia: porque a alegria do Senhor é a nossa força”, concluiu o
Cardeal Woelki.
A grave crise da Igreja na Alemanha
Nos primeiros dias deste mês de setembro, o
Cardeal Marx disse que "pode-se chegar à conclusão de que faz sentido, sob
certas condições e em certas regiões, permitir sacerdotes casados".
O Cardeal também fez outras declarações
contrárias à doutrina da Igreja, nas quais encorajou o acesso à comunhão dos
divorciados em nova união, promoveu que os sacerdotes católicos concedam a
bênção a casais homossexuais e sugeriu que os leigos pregassem na Missa.
Além disso, e no âmbito do Sínodo dos Bispos
para a Amazônia que será realizado em outubro, em uma entrevista em 2018, o
vice-presidente da Conferência Episcopal Alemã, Dom Franz-Josef Bode, disse
que, se a ordenação de sacerdotes casados na Amazônia for
autorizada, os bispos alemães insistirão em ter a mesma permissão.
Em janeiro desse ano, ele também disse que era
a favor de abençoar casais homossexuais.
Da mesma forma, Dom Franz-Josef Overbeck,
Bispo de Essen e presidente da Adveniat, instituição de ajuda da Igreja na
Alemanha para a América Latina, disse que o Sínodo da Amazônia "é um ponto
sem retorno" para a Igreja e que "nada será como antes” depois deste
encontro.
O Prelado também apoiou publicamente a “greve
das mulheres” contra a Igreja na Alemanha, convocada por um grupo de católicas
após o não do Papa Francisco à ordenação de diaconisas.
Em meados de julho deste ano, a Conferência
Episcopal da Alemanha divulgou algumas estatísticas do ano de 2018, entre as
quais destaca que, no período, mais de 216 mil fiéis decidiram abandonar a
Igreja Católica.
Além disso, dos 23 milhões de batizados no
país, de uma população total de 83 milhões, a porcentagem daqueles que participam
da Missa Dominical é de 9,3%, ou seja, cerca de 2,1 milhões.
No caso dos sacerdotes que servem nas dioceses
do país, o número caiu para 1.161 em 2018, quando havia mais de 17.000 no ano
2000.
As estatísticas também indicam que no ano 2000
havia 13.241 paróquias na Alemanha. Em 2018, caíram para 10.045.
As estatísticas de 2018 não fornecem nenhuma
informação sobre o sacramento da Reconciliação ou da Confissão, uma prática que
parece ter sido quase completamente abandonada pelos católicos do país,
incluindo os sacerdotes.
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ACI Digital
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