segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Homilética: 3º Domingo do Tempo Comum - Ano A: "Discipulado: esforço contínuo para configurar-se a Jesus de Nazaré"


Jesus, depois de ter deixado Nazaré e de ter sido batizado no Jordão, vai a Cafarnaum para iniciar o seu ministério público.

Ele é apresentado como grande luz (cf. Mt 4, 12-23) de que fala o Profeta Isaías (Is 9, 1-4).

No caminho do mar, junto ao lago, que Jesus começa a pregar e a dizer: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus” ( Mt 4, 17). Da pregação em geral, Jesus passa ao convite pessoal: “Segui-Me e Eu vos farei pescadores de homens. Eles deixaram imediatamente as redes e O seguiram”.

O Evangelho nos apresenta o chamamento dos primeiros Apóstolos: “Ele chamou enquanto caminhava junto ao mar da Galiléia. Estes homens experimentaram o fascínio da luz secreta que emanava dEle e seguiram-na sem demora para que iluminasse com o seu fulgor o caminho das suas vidas. Mas essa luz de Jesus resplandece para todos.

Jesus Cristo, luz do mundo, chamou primeiro uns homens simples da Galiléia, iluminou as suas vidas, ganhou-os para a sua causa e pediu-lhes uma entrega sem condições. Aqueles pescadores da Galiléia saíram da penumbra de uma vida sem relevo nem horizonte para seguirem o Mestre, tal como outros o fariam logo após, e depois já não cessariam de fazê-lo inúmeros homens e mulheres ao longo dos séculos. Seguiram-no até darem a vida por Ele. Nós também O seguimos!

O Senhor chama-nos agora para que O sigamos e para que iluminemos a vida dos homens e as suas atividades nobres com a luz da fé; sabemos bem que o remédio para tantos males que afetam a humanidade é a fé em Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor, razão de ser de nossa existência; sem Ele, os homens caminham às escuras e por isso tropeçam e caem. E a fé que devemos comunicar é luz na inteligência, uma luz incomparável: fora da fé estão as trevas, a escuridão natural diante da verdade sobrenatural…”

Jesus inicia o seu ministério e prega a conversão: “Convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo” (Mt 4, 17).

A mensagem de Cristo sempre entrará em choque com uma sociedade contagiada pelo materialismo e por uma atitude conformista e aburguesada perante a vida.

Todo cristão tem a vocação que lhe foi concedida por graça no momento do batismo: todos nós fomos chamados à santidade e ao apostolado. Com o passar do tempo, na escola de Jesus, essa vocação poderia receber uma nova especificação, por exemplo, no caso daqueles que são chamados ao sacerdócio ministerial. No entanto, a vocação à santidade e ao apostolado é igual para padres, para leigos e para religiosos. Todos devem ser santos, todos devem evangelizar. Por quê? Porque foram batizados. Além do mais, não existe uma santidade maior para os padres e uma santidade menor para os leigos, mas todos estão chamados à plenitude da vida cristã, à santidade. Com outras palavras: o padre não é mais santo porque é padre, nem o leigo é menos santo pelo fato de ser leigo. Não! A santidade é medida pela caridade e todos podem chegar ao auge do amor.

Pedro e André, os futuros São Pedro e Santo André, compreenderam isso. Eles seguiram ao Senhor Jesus, andaram com ele, permaneceram sempre perto de Jesus, atenderam os seus apelos de evangelização, fizeram a vontade do seu Mestre e… são santos. Aprenderam a estar com Jesus e a pescar homens. Aprenderam a ser apóstolos.


Deus chama-nos a todos para que sejamos luz do mundo, e essa luz não pode ficar escondida: “Somos lâmpadas que foram acesas com a luz da verdade” (Santo Agostinho).

Comentário dos textos bíblicos

Leituras: Is 8,23b – 9,3; Sl 26; 1Cor 1,10-13.17; Mt 4,12-23

Na Liturgia da Palavra deste domingo o evangelista São Mateus nos apresenta o início da missão pública de Cristo, que tem início nas cidades e aldeias da Galileia. Neste ambiente simples, tido como uma região pagã e excluída da salvação, que Jesus começa ensinando que ninguém está excluído da salvação de Deus. O profeta Isaías já havia prenunciado que nesta terra, destinada às tribos de Zabulão e de Neftali, teria conhecido um futuro glorioso: o povo imerso nas trevas teria visto uma grande luz (cf. Is 8,23-9,1), a luz de Cristo e do seu Evangelho (cf. Mt 4, 12-16).

A pregação de Jesus vai consistir essencialmente no anúncio do Reino de Deus e na cura dos doentes. Literalmente, “evangelho” significa “boa mensagem”, “boa notícia” ou “boa nova”, derivando da palavra grega ευαγγέλιον. A “boa nova” que Jesus proclama resume-se nestas palavras: “O reino de Deus está próximo” (Mt 4,17). Esta expressão não indica um reino terreno delimitado no espaço e no tempo, mas anuncia que é Deus quem reina, que é Deus o Senhor e o seu senhorio está presente, é atual, está a realizar-se.

A novidade da mensagem de Cristo é, portanto, que Deus em sua pessoa se fez próximo, já reina entre nós, como demonstram os milagres e as curas que Ele realiza. Deus reina no mundo mediante o seu Filho feito homem e com a força do Espírito Santo. Aonde chega Jesus, o Espírito criador leva vida e os homens são curados das doenças do corpo e do espírito. O senhorio de Deus manifesta-se então na cura integral do homem. Com isto Jesus quer revelar o rosto do verdadeiro Deus, o Deus próximo, cheio de misericórdia por todos os seres humanos. O reino de Deus é, portanto, a vida que se afirma sobre a morte, a luz da verdade que dissipa as trevas da ignorância e da mentira.

Falamos que o Evangelho é a “boa nova” porque a sua exortação é sempre atual. Todos os dias somos chamados à conversão a Cristo e este é o caminho que nos conduz a Deus. E a Liturgia da Palavra deste domingo ressalta o projeto de salvação que Deus tem para oferecer à humanidade. Já na primeira leitura (cf. Is 8,23-9,3), o profeta Isaías anuncia uma luz que Deus irá fazer brilhar e que colocará fim às trevas que submergem todos aqueles que estão prisioneiros da morte, da injustiça e do sofrimento.

A imagem da luz torna-se sinal da esperança messiânica: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz,uma luz raiou para os que habitavam uma terra sombria como a morte” (Is 9,1). No contexto do sofrimento e da dor, a imagem da luz vislumbra em sinal de alegria e paz. O profeta Isaías “uma luz” que começará a brilhar em cima dos montes da Galiléia e que irá iluminar toda a terra. Essa luz eliminará “as trevas” que mantinham o Povo sem esperança e inaugurará um novo dia, onde passa a ser uma realidade.

Jesus tem consciência de que a chegada desse novo tempo está ligada à sua pessoa. Mas o seu primeiro anúncio resume-se, para o Evangelista Mateus, no convite à conversão, porque o Reino de Deus está para chegar (v. 17). O convite à conversão é um apelo a uma mudança radical na maneira de pensar, nos valores e nas atitudes. Corresponde, fundamentalmente, a um reorientar a vida para Deus, a um reequacionar a vida, de modo a que Deus e os seus valores passam a estar no centro da existência da nossa existência.

E o Evangelho descreve o chamamento dos primeiros discípulos (vv. 18-22). Através da resposta de Pedro e André, Tiago e João, Jesus propõe esta atitude destes primeiros discípulos como um exemplo da conversão e da adesão às suas exigências. O relato sublinha uma diferença fundamental entre os chamados por Jesus e os discípulos que se juntavam à volta dos mestres do judaísmo: não são os discípulos que escolhem o mestre e pedem para entrar no seu grupo, como acontecia com os discípulos dos rabinos; mas a iniciativa é de Jesus, que chama os discípulos que Ele próprio escolheu e os convida a segui-lo para uma missão.

A resposta dos quatro primeiros discípulos ao chamado de Jesus é imediata: renunciam à família, ao trabalho, às seguranças instituídas e seguem Jesus sem questionar. Esta ruptura indicia uma opção radical pelo Cristo e pelo seu Evangelho. Eles deixam um atividade para assumir uma outra: eles serão pescadores de homens. O mar, na cultura judaica, é o lugar dos demônios, das forças da morte que se opõem à vida e à felicidade dos homens. No mar havia os monstros e nele até os mais hábeis marinheiros não se sentiam em segurança. O mar, na cultura de então, era tido como a morada do demônio, das doenças e de todas as forças inimigas da vida.

A tarefa dos discípulos de Jesus será, portanto, arrancar os homens dos tentáculos do mal que, nestas águas impetuosas, os dominam, os arrastam, os submerge. Cabe a eles libertar os homens dessa realidade de morte e de escravidão em que eles estão mergulhados, e os conduzir à liberdade e à plena realização. Nisto consiste a missão de pescadores de homens. Nestes quatro discípulos: Pedro, André, Tiago e João, estão representados o grupo dos discípulos, de todos os tempos e lugares. Eles não podem ter medo das ondas do mar, mesmo quando elas estão violentas. Não podem desistir de salvar aqueles que necessitam de uma vida nova.

Para que o Reino de Deus possa ser instaurado, Jesus pede a “conversão”. Esta conversão é, antes de mais, um refazer a existência, de forma a que só Deus ocupe o primeiro lugar na vida do homem. Implica, portanto, despir-se do egoísmo que o impede de estar atento às necessidades do próximo, dos que necessitam do nosso auxilio e da nossa atenção.

O tema da luz, relacionado à pregação do Evangelho, indica que a salvação há de ser difundida largamente ao alcance de todos. À imagem da luz, pelo seu fenômeno de irradiação, torna-se, a grande força expressiva do Evangelho a ser dilatado entre as nações e para todos os homens. Entretanto, a riqueza da imagem nos remete também ao fato da luz possibilitar a visão (cf. Mt 6,22-23) e aquecer os ambientes.

É frequente na Sagrada Escritura a imagem da luz como expressão da ação de Deus Salvador. O Velho Simeão, por exemplo, no Templo, se referiu ao Menino Jesus como “luz que veio para iluminar as nações” (Lc 2,32). Em São João essa idéia aparece inúmeras vezes. Assim no prólogo do seu Evangelho, Jesus é apresentado como a “luz verdadeira que vindo ao mundo e ilumina a todo homem” (Jo 1,9). O juízo de condenação do mundo acontece porque “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz” (Jo 3,19). E sobre todas essas reflexões paira a solene palavra de Jesus: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue, não caminha nas trevas, mas tem a luz da vida” (Jo 8,12). Não sem misterioso significado, na hora da morte de Jesus no Calvário “estenderam-se as trevas sobre toda a terra” (Mt 27,45). Com Cristo, a luz. Sem Cristo, a escuridão.

Mas nós também somos chamados a irradiar a luz. Os textos bíblicos apresentados para este domingo indicam que Deus veio ao mundo como luz, para iluminar o nosso caminho de trevas. Quantos homens e mulheres andam à procura de sentido e procuram o seu caminho na noite. Hoje também o Senhor nos chama para que o sigamos e para que iluminemos a vida dos homens e as suas atividades com a luz da fé. Sem a fé em Jesus Cristo os homens caminham às escuras e, por isso, podem tropeçar e cair. O Senhor nos chama a ser luz do mundo. Cabe a cada um de nós ser portador e reflexo desta luz. Que o nosso coração possa estar aberto para acolher esta luz “que te ilumina e salva” (Sl 26).


Peçamos uma vez mais a Maria, a Virgem de Nazaré, a quem também invocamos com o título de Nossa Senhora da Luz, que ela possa interceder por nós, para que possamos cumprir com fidelidade os ensinamentos de seu filho Jesus e que possamos ser uma luz a iluminar os caminhos daqueles que estão nas trevas. Assim seja.

PARA REFLETIR


A primeira leitura da Missa de hoje é, em parte, a mesma da Noite do Natal: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu! Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade! Todos se regozijam em tua presença”. Irmãos, esta luz que ilumina as trevas, que dissipa as sombras da morte, que traz a felicidade, é Jesus. O texto do Evangelho que escutamos no-lo confirma: Jesus é a bendita luz de Deus que brilhou neste mundo! Ele mesmo afirmou: “Eu sou a luz do mundo! Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida!” (Jo 8,12). Já escutamos tanto tais afirmações, que corremos o risco de não perceber o quanto são revolucionárias, o quanto nos comprometem, o quanto são capazes de transformar a nossa vida!

A Palavra de Deus nos ensina que o mundo é marcado pelas trevas: trevas na natureza (tais como a tragédia do tsunami), trevas na história, trevas no coração da humanidade e de cada um de nós. Olhemos em volta! O mundo não é bonzinho: há forças destrutivas, caóticas, desagregadoras, forças diabólicas, que destroem a alegria de viver e ameaçam devorar o sentido da nossa existência… Hoje, tantos e tantos julgam que podem passar sem Deus, que a religião é uma bobagem e uma humilhação para o homem… Há tantos que zombam de Deus, do Cristo Jesus, da Igreja… O que vale no mundo atual? O que é importante? O que conta realmente? O sucesso, os bens materiais, o prazer e a curtição da vida ao máximo, sem limites, sem peias… Será que não nos damos conta ainda que vivemos num mundo novamente pagão, novamente bárbaro, novamente entregue ao seu próprio pensar tenebroso? Será que não percebemos que o que vemos e lemos e ouvimos dos meios de comunicação é a defesa de uma humanidade sem Deus e sem fé, de uma humanidade que tenha somente a si própria como deus? Num mundo assim, Jesus nos diz: “Eu sou a Luz!” A luz não está nas universidades, a luz não está nos famosos deste mundo, a luz não está nos que têm o poder político, econômico ou social! A Luz é Cristo! Só ele nos ilumina, só ele nos revela o sentido da existência, só ele nos mostra o caminho por onde caminhar! Ser cristão é crer nisso, é viver disso!

Pois, esse Jesus, hoje, no Evangelho, nos convida a convertermo-nos a ele, a segui-lo de verdade, a colocar os passos de nossa vida no seu caminho: “Convertei-vos! O Reino dos céus está próximo!” Eis o apelo que Jesus nos faz – far-nos-á sempre! Converter-se significa mudar totalmente o rumo de nossa existência, alicerçando-a nele e não em nós, abraçando o seu modo de pensar e deixando o nosso, seguindo sua Palavra e não nossa razão, nossas idéias, nossa cabeça dura, nosso entendimento curto! Quem vai arriscar? Quem vai caminhar com ele? Quem vai abraçar sua Palavra, tão diferente do que o mundo quer, do que o mundo prega, do que o mundo valoriza? “Convertei-vos!” Jesus nos exorta porque sabe que também nós andamos em trevas, também nós, simplesmente entregues à nossa vontade e aos nossos pensamentos, jamais poderemos acolher o Reino dos céus! Não nos iludamos! Não pensemos que somos sábios, centrados e imunes! Somos, nós também, cegos, curtos de entendimento, pecadores duros e teimosos! Nosso coração é embotado por tantas paixões e por tantas cegueiras! “Convertei-vos!” O Governo Lula, neste carnaval, vai convidar tantos e tantos brasileiros a vestir-se de camisinha; o Senhor pede a todos que se vistam dele: “Revesti-vos de Cristo e não satisfareis os desejos da carne!” (Rm 13,14) Compreendem, irmãos e irmãs? O mundo vai para um lado; Jesus nos convida a ir para o outro! Converter-se é pensar diferente de nós mesmos e do mundo; é andar na contramão para caminhar com Cristo! Converter-se é deixar-se, como Pedro e André, Tiago e João que, “imediatamente deixaram as redes… deixaram a barca e o pai” e seguiram o Senhor!

Caríssimos, como não recordar a exortação do Apóstolo? “Não andeis como andam os pagãos, na futilidade de seus pensamentos, com entendimento entenebrecido, alienados da vida de Deus!” (Ef 4,17). Quando aceitamos esse desafio, esse convite, o sentido de nossa existência muda, porque começamos a enxergar e avaliar as coisas de um modo novo, um modo diferente: o modo de Cristo Jesus! Aí se realiza em nós a palavra da Escritura: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor! Andai como filhos da luz!” (Ef 5,8).

Caríssimos, deixar-se iluminar pelo Senhor, permitir que ele dissipe nossas trevas, é um trabalho, um processo que dura todo o nosso caminho neste mundo. Jamais estaremos totalmente convertidos, totalmente iluminados. Na segunda leitura da Missa, São Paulo convidava os cristãos de Corinto à conversão para uma vida de união e de amor. É assim: a Igreja toda inteira e cada um de nós pessoalmente, seremos sempre chamados a essa mudança, a esse deixar que a luz de Cristo invada a nossa existência tenebrosa! Nunca esqueçais, caríssimos, porque é verdade: “Outrora, sem Cristo, éreis trevas, mas, agora, sois luz no Senhor! Andai, pois, como filhos da luz!” Seja esse o nosso trabalho, seja essa a nossa identidade, seja essa a nossa herança, seja essa a nossa recompensa! E que o Senhor nos socorra com a força da sua graça, ele que é fiel e bendito para sempre! Amém.

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