Já escutei
muitíssimas vezes os incomodados com os jovens que desejam a grande Tradição da
Igreja e rejeitam o tanto de secularização e desmantelo em que nos encontramos,
particularmente no tocante à liturgia, à doutrina e à moral.
Irritados, rotulam esses jovens como alienados, clericais, reacionários,
autoritários… Ridicularizando, esses incomodados acusam esses jovens de terem
saudade do que não viveram…
Pois eu digo: há,
sim, alguns exageros e até algumas mentalidades patológicas, de reacionarismo
atávico; mas não é este o caso da grande maioria desses jovens: eles estão
mesmo é cansados de tanta secularização, de tanta ideologia liberal, de tanto
imanentismo preconceituoso, de tanto relativismo, de tantas arbitrariedades, de
tanta falta de piedade…
Eles não são
saudosistas patológicos: têm, sim, uma saudável nostalgia daquilo que está no
seu DNA: a verdadeira fé católica, o verdadeiro espírito católico, as
verdadeiras atitudes de um católico! Já Paulo VI constatava, com imensa
tristeza, que um tipo de mentalidade não católica havia entrado na Igreja
católica após o Vaticano II.
Somente quem
perdeu o sentido da Tradição e desconheça o que seja o sensus fidei (= o
sentido, o instinto da fé) ou o sensus fidelium (= o sentido de fé que os fieis
possuem por ação do Santo Espírito) pode apelar para um argumento tão raso
quanto este, de chamar saudosistas do que não viveram aos jovens que trazem no
seu DNA espiritual dois mil anos de vida cristã!
É bom que
estejamos bem atentos: se tantos jovens – padres e seminaristas ou leigos –
desejam mais retidão, coerência doutrinal, disciplina e seriedade nas coisas da
Igreja é porque a ideologia do "espírito do Concílio" (que pouco ou
nada tem a ver com a letra e a real intenção do Concílio!) fracassou e está
devastando a Igreja: ao invés de uma primavera, colocou-nos num triste e frio
inverno…
Mas, o Concílio
Vaticano II ainda será sim uma primavera na Igreja quando, levadas pelo vento,
as folhas secas do “espírito do Concílio” caírem todas e despontarem, como já
despontam, os brotos de uma equilibrada e fiel vivência do Vaticano II no sulco
da grande Tradição da Igreja!
Esses jovens incômodos e esses movimentos críticos da bagunça aí presente são sinais efetivos desse despertar!
Podem ocorrer exageros? Claro que podem!
Pode haver reações mesquinhas e pouco evangélicas? Sem dúvida alguma!
Podem existir pessoas desequilibradas e metidas a cruzados da Tradição, quando são somente apegadas a costumes, a tradições que não exprimem a grande Tradição? Certamente!
Mas, nada disso
justifica refutar ouvir, rejeitar pensar nas legítimas questões que tantos e
tantos jovens generosos, sinceramente católicos, colocam sobre os rumos que
muitos dão à Igreja, escudando-se numa interpretação unilateral do Concílio
Vaticano II!
Não aconteça que falemos tanto em acolher os jovens - jovens por nós idealizados! - e tratemos a pontapés os jovens reais, concretos, que, sedentos, procuram na Igreja e nos seus pastores quem lhes dê a Vida em Cristo Jesus!
Eis aí: o DNA
católico está vivo; por obra do Espírito do Ressuscitado, nunca morrerá! E
esses jovens - e tantos adultos - são prova disto!
Dom Henrique Soares da Costa
Bispo de Palmares, PE
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