Os Estados Unidos abordam o tema da laicidade do
Estado de uma maneira bastante diferente do Brasil e de outros países. É
tradição que, por exemplo, a cerimônia de posse de um novo presidente tenha um
momento de oração, guiado por algum líder religioso. Na posse de Donald Trump,
o 45º presidente dos Estados Unidos, não foi diferente, mas o número de líderes
proferindo orações surpreendeu: foram seis – cinco cristãos e um judeu.
Todos eles evitaram expressões que pudessem ser
creditadas a uma orientação política específica. Antes do juramento de Trump,
três líderes fizeram suas leituras bíblicas e orações. O cardeal Timothy Dolan,
arcebispo de Nova York, leu um trecho do Livro da Sabedoria. Por sua vez, o
reverendo Samuel Rodriguez, da Conferência Nacional Hispânica de Liderança
Cristã, leu o capítulo 5 do Evangelho de Mateus, que inclui as bem-aventuranças.
Já a pastora Paula White, que dirige o New Destiny Christian Center e é a orientadora espiritual pessoal
de Trump, fez uma oração com suas próprias palavras. White é uma televangelista
da linha da teologia da prosperidade que foi designada pelo novo presidente
como chefe do Conselho Evangélico de sua administração. Ela já foi investigada
pelo congresso norte-americano a respeito das finanças de sua igreja.
Depois do juramento, tiveram a palavra o rabino Marvin
Hier, o reverendo Franklin Graham, filho do famoso evangelista Billy Graham, e
o bispo Wayne T. Jackson, do Great
Faith Ministries International. “A riqueza de uma nação é medida pelos
seus valores, não por seus cofres”, disse o rabino, um dos mais influentes dos
Estados Unidos e dono de dois Oscars como coprodutor de documentários sobre o
holocausto.
Já Graham apontou que a chuva, na Bíblia, é um sinal
da bênção de Deus e disse a Trump: “Quando você chegou ao palco, começou a
chover”. Ele leu um trecho do capítulo 2 da Primeira Carta de Paulo a Timóteo.
Jackson apostou na concórdia: “Não somos inimigos, mas irmãos e irmãs”, disse
ele.
Na posse de Barack Obama, em 2009, o pastor Rick
Warren fez uma oração e Joseph Lowery, da Igreja Metodista Unida, deu uma
bênção. A presença de Warren despertou atenção, devido a suas posturas
consideradas conservadoras em relação ao aborto, ao casamento entre pessoas de
mesmo sexo e o uso de preservativos. Em 2013, a oração foi feita pela ativista
Myrlie Evers-William.
Juramento sobre a Bíblia
Além disso, durante o seu juramento, o novo presidente
põe a mão sobre uma Bíblia. Trump, aliás, jurou sobre duas: uma que pertenceu a
Abraham Lincoln – presidente de 1861 a 1865 – e outra que ele mesmo ganhou de
sua mãe em 1955, em sua confirmação na Igreja Presbiteriana. Quem segura a
Bíblia para o juramento é, segundo o costume, a primeira-dama – no caso, a
ex-modelo eslovena Melania Trump.
A Bíblia de Lincoln é a mesma sobre a qual Obama jurou
na posse de seu primeiro mandato. Já no segundo mandato, cuja cerimônia de
posse caiu no dia comemorativo a Martin Luther King, Obama jurou sobre uma
Bíblia que pertenceu ao ativista.
Telegrama do papa
O papa Francisco enviou um telegrama a Trump
congratulando-o pela posse. “Que, sob a sua liderança, a grandeza dos Estados
Unidos possa ser medida sobretudo pela sua preocupação com os pobres, os
marginalizados e os necessitados que, como Lázaro, estão à nossa porta”,
escreveu o papa, que assegurou ao presidente as suas orações. João Paulo II, em
2001, e Bento XVI, em 2009, também enviaram telegramas, respectivamente, a
George W. Bush e Barack Obama.
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