A
população brasileira tem conhecimento de fatos, antigos e recentes, referentes
à realidade dos presídios, nos diversos Estados, com números que chamam a
atenção, por sua peculiaridade, cujos custos sociais e financeiros são muito
grandes. Parece ser um problema sem solução e, de fato, o será até que se
busque a solução adequada. As intervenções do Poder Público costumam acontecer
“post factum” e de forma emergencial, em muitos casos, quando deveriam ser
implementadas, habitualmente, com medidas de natureza preventiva.
A crônica
diária da mídia reporta-se a casos de anormalidade nas prisões brasileiras. Um
dado generalizado é a superpopulação carcerária. Dados do IBGE revelam que, em
2014, a população carcerária tinha “622 mil detentos”. Hoje, obviamente, a
estatística apresenta um número muito mais elevado. O desconhecimento das
causas do aprisionamento, do número exato e da condição dos presidiários está
exigindo um censo da população carcerária no Brasil, a quarta do mundo, cujo
custo está estimado em R$ 18 mi (dezoito milhões de reais). Essa é a realidade:
um número muito elevado de presos e um custo muito elevado apenas para sua
identificação.
Enquanto
aumenta o número de presidiários, diminui o número de alunos em escolas
públicas de nível fundamental e médio e em universidades federais, estaduais e
privadas; torna-se muito precário o atendimento hospitalar; reduz-se a oferta
de serviços vitais. Nessa constatação, há, claramente, uma relação de causa e
efeito: na medida em que não se oferece uma educação de qualidade à população,
as consequências serão identificadas no dia a dia nas doenças físicas, mentais
e sociais. Como esse estado de coisas vem de longe, os problemas estão mais
relacionados com a falta de Políticas Públicas consistentes do que com a atual
crise econômica.
As
recentes rebeliões em presídios no Amazonas e em Roraima somam-se a tantas que
já ocorreram em presídios de outros Estados. Chamam a atenção do Brasil e do
mundo o número dos assassinatos, os grupos que promoveram as execuções - sua
forma bárbara e a ineficiência dos Poderes Públicos que têm atribuições
determinadas, constitucionalmente, nesse ponto extremamente nevrálgico da
segurança das pessoas. As rebeliões nos presídios são fatos inadmissíveis
porque poderiam ser evitadas mediante ações preventivas e por intervenções
logisticamente programadas.
Persistindo
o tratamento atual ao sistema carcerário, o problema tende a se agravar, cuja
consequência continuará sendo o assassinato nos presídios brasileiros,
previsivelmente, em número crescente. Os custos sociais são muito grandes
porque, de forma significativa, os jovens compõem a população carcerária
brasileira e milhares de famílias experimentam muito sofrimento, estão
desagregadas e sem garantia de sustentação; os custos financeiros com a
manutenção e a construção de presídios não têm modificado o perfil da população
carcerária. No Brasil, um presidiário custa mais para os cofres públicos do que
um universitário. Não há pessoa de bom senso que não constate nesse dado um
contrassenso das Políticas Públicas. Por sua vez, a terceirização em alguns presídios,
apesar de custar mais, não mudou o “status quo” dos problemas.
Muitos e
generosos animadores da Pastoral Carcerária, praticando uma das obras de
misericórdia corporal, acompanham a realidade desumana nos presídios, sabendo
que, em cada presidiário e em cada presidiária, encontram o próprio Jesus - “eu
estava nu e me vestistes; eu estava doente e cuidastes de mim; eu estava na
prisão e fostes me visitar” (Mt 25, 36). Muitos brasileiros, por miopia
espiritual ou por preconceito social, deixam de ver o Senhor nesses seus
discípulos e discípulas: “eu era estrangeiro e não me recebestes em casa; eu
estava nu e não me vestistes; eu estava doente e na prisão e não fostes me
visitar” (Mt 25, 43).
Dom Genival Saraiva
Administrador Apostólico da arquidiocese da Paraíba
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