Os
valores podem ser definidos como horizontes de referência. O horizonte é como
uma linha imaginária que nunca se toca e que se afasta na medida em que nos
aproximamos dela. Tem momentos que a linha do horizonte é nítida e próxima; em
outros momentos parece embaçada, fora de foco. O mesmo ocorre com os valores
que em determinados momentos intuímos com clareza e em outros momentos não
ficam tão nítidos. Não são uma ilusão por influenciarem diretamente no
cotidiano.
Um
exercício interessante a ser feito é tentar hierarquizar nossos valores. Tentar
fazer a nossa pirâmide de valores dando a eles um ordenamento, do menos
significativo ao mais importante. Talvez este exercício possa trazer surpresas.
O ordenamento feito, através do exercício de discernimento, talvez revele uma
realidade diferente daquela que achamos que era. Porém, torna-se um momento de
tomada de consciência.
Os
valores pessoais, muitas vezes, não correspondem e nem vão ao encontro dos
valores sociais em se vive. O medo de sermos marginalizados ou excluídos faz
com que frequentemente nossas prioridades não estejam tão claras. Outras vezes,
não se vive de acordo com as convicções, gerando tensão e incoerência na vida
pessoal.
Os
valores não são objetos a serem possuídos, mas fazem parte da natureza mais
íntima da pessoa, fazem parte da essência. O nosso estilo de vida é uma
manifestação externa das convicções interiores. É sinal de autodeterminação
agir segundo os próprios valores e tê-los presente ao tomarmos decisões,
principalmente num ambiente externo desfavorável.
O
indivíduo e seus valores formam uma unidade tão compacta que quando se vê
obrigado a negá-los ou até mesmo a traí-los sente-se profundamente agredido, se
sente mal, como se negasse a si mesmo. Os valores gritam, são como vozes que
nos impelem a viver de determinada maneira, a sermos coerentes com uma
filosofia de vida.
As
necessidades vitais, como a fome, a sede, o agasalho, são motores de ação
humana para a sobrevivência. Os valores, quando arraigados se transformam em
necessidades, não de ordem física, mas de ordem espiritual e transcendente. Vão
fazer parte da essência. São como que tatuados na alma. Não serão acessórios
usados de acordo com a conveniência ou a necessidade. Vão impulsionar o agir
humano, como a fome ou a sede.
O valor
da solidariedade nos permite ir além de uma necessidade física para dar
resposta às necessidade primárias do outro. Quando um valor nos impele
intensamente, as necessidades primárias ficam em segundo plano. Nesses momentos
percebemos que o ser humano é capaz de superar sua natureza instintiva e
transcendê-la.
O
encontro com o outro é a ocasião para os valores tornarem-se visíveis. É a
circunstância propícia que permite o pleno desvelamento dos valores e
contrastá-los com os dos outros. É a oportunidade de apropriarmos de nossos
valores. A riqueza imaterial de uma pessoa, de uma instituição ou de um país é
o conjunto de seus valores, suas crenças e ideais. É o chamado capital
espiritual. São eles que dão credibilidade, estabelecem laços e relações
afetuosas e fraternas.
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo
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