Oi Povo
Católicooooooo!
Adivinha o que vamos fazer hoje? Desmentir a
imprensa sobre declarações do Papa!!!! Pois é… neste final de semana rolou nos
jornais a seguinte manchete: “Papa adverte contra o risco de buscar
‘salvador’ que propõe muro” (veja aqui),
anunciando uma contundente crítica do Papa a Donald Trump, inclusive
comparando-o a Hitler! Isso é verdade? Pra variar, não…
Francisco deu uma
longa entrevista ao jornal espanhol El País na qual falou, entre muitas outras
coisas, do governo Trump. Mas não foi da forma como espalharam não… veja só o
trecho completo (que os jornais deveriam mostrar e não mostram):
El País. Santidade, com
relação aos problemas do mundo que o senhor mencionava, exatamente neste
momento Donald Trump está tomando posse como presidente dos EUA. E o mundo vive
uma tensão por esse fato. Qual a sua consideração sobre isso?
Papa Francisco. Veremos o que
acontece. Mas me assustar ou me alegrar com o que possa acontecer, nisso acho
que podemos cair numa grande imprudência – sermos profetas ou de calamidades ou
de bem-estares que não vão acontecer, nem uma coisa nem outra. Veremos o que
ele faz e, a partir daí, avaliaremos. Sempre o concreto. O cristianismo, ou é
concreto ou não é cristianismo. É curioso: a primeira heresia da Igreja foi
logo depois da morte de Cristo. A heresia dos gnósticos, que o apóstolo João
condena. E era a religiosidade spray, como a chamo, do não concreto. Sim, eu,
sim, a espiritualidade, a lei… mas tudo spray. Não, não. Coisas concretas. E do
que é concreto tiramos as consequências. Nós perdemos muito o senso do
concreto. Outro dia, um pensador me dizia que este mundo está tão desorganizado
que falta um ponto fixo. E é justamente o concreto que nos dá pontos fixos. O
que você fez, o que disse, como age. Por isso eu, diante disso, espero e vejo.
O El País é um
jornal tradicionalmente de esquerda na Espanha. Temos certeza de que ele estão
apreensivos. Mas o Papa, que já tinha criticado abertamente os projetos de
Trump sobre imigração, prefere esperar antes de falar. Isso não me parece
uma acusação, mas prudência e temperança não dão manchete de jornal, né?
Aliás, nesta entrevista, Francisco
diz claramente o que pensa sobre imigração. Fala que receber os refugiados
é uma atitude pra ser tomada diante da emergência da situação e que eles
precisam ser integrados à sociedade, sem medo de se perder a identidade. Bem… o
problema talvez seja a falta de identidade europeia, não os refugiados. É só
ver o que aconteceu na França.
Mas definitivamente este não é o caso dos
EUA. Lá o problema maior é a ilegalidade e o terrorismo. O El País insiste e
Francisco fala finalmente sobre a construção do tal muro do Trump. Não de forma
direta, mas fala. Veja o trecho completo:
El País. Tanto na Europa
quanto na América, as consequências de uma crise que não acaba, o aumento da
desigualdade e a ausência de lideranças fortes estão dando lugar a formações
políticas que estão captando o mal-estar dos cidadãos. Algumas delas – que
costumam ser chamadas de antissistema ou populistas – aproveitam o medo das
pessoas de um futuro incerto para construírem uma mensagem de xenofobia, de
ódio em relação ao estrangeiro. O caso de Trump é o que mais chama a atenção,
mas também há os casos da Áustria e até da Suíça. O senhor está preocupado com
esse fenômeno?
Papa Francisco. É o que chamam de
populismo. Essa é uma palavra enganosa, porque na América Latina o populismo
tem outro significado. Lá significa o protagonismo dos povos, por exemplo, os
movimentos populares. Organizam-se entre eles… é outra coisa. Quando ouvia
falar em populismo aqui não entendia muito, ficava perdido, até que percebi que
eram significados diferentes dependendo dos lugares. Claro, as crises provocam
medos, alertas. Para mim, o mais típico exemplo dos populismos europeus é o
1933 alemão. Depois de [Paul von] Hindenburg, a crise de 1930, a Alemanha
estava destroçada, tentava se levantar, buscava sua identidade, estava à
procura de um líder, de alguém que devolvesse sua identidade, e havia um
rapazinho chamado Adolf Hitler que disse “eu posso, eu posso”. E toda a
Alemanha votou em Hitler. Hitler não roubou o poder, foi eleito por seu povo, e
depois destruiu seu povo. Esse é o perigo. Em momentos de crise, o
discernimento não funciona, e para mim é uma referência contínua. Busquemos um
salvador que nos devolva a identidade e defendamo-nos com muros, com arames
farpados, com qualquer coisa, dos outros povos que podem nos tirar a
identidade. E isso é muito grave. Por isso sempre procuro dizer: dialoguem
entre vocês, dialoguem entre vocês. Mas o caso da Alemanha de 1933 é típico, um
povo que estava naquela crise, que procurava sua identidade, e então apareceu
esse líder carismático que prometeu dar-lhes uma identidade, e deu-lhes uma
identidade distorcida e sabemos o que aconteceu. Onde não há diálogo… As fronteiras
podem ser controladas? Sim, cada país tem o direito de controlar suas
fronteiras, quem entra e quem sai, e os países que estão em perigo – de
terrorismo ou coisas desse tipo – têm mais direito de controlar mais, mas
nenhum país tem o direito de privar seus cidadãos do diálogo com os vizinhos.
Repare que a crítica
não é à construção do muro, mas ao fechamento da sociedade ao diálogo! São
coisas completamente diferentes. Ah… e você deve ter reparado também que o Papa
cita o contexto da Alemanha de 1933 para ilustrar o anseio do povo por uma
política nacionalista. Não está realmente comparando Trump a Hitler, como os
jornais alardearam. Ele até defende o controle das fronteiras por conta do
terrorismo!
Depois que a mídia comprou a ideia de
oferecer “narrativas” aos seus leitores e espectadores, precisamos desconfiar
de absolutamente tudo. Cada um escolhe seus trechos preferidos para
validar seus pensamentos. É por isso que é essencial ler a entrevista completa.
Ah… pra lhe dar mais um incentivo a ler,
saiba que nesta entrevista o Papa fala sobre as negociações que a Igreja mantém
com a China para estabelecer um relacionamento mais próximo (isso será uma
graça imensa para os católicos de lá) e revela o que pensa da Teologia da
Libertação!!!
“A Teologia da Libertação
teve aspectos positivos e também teve desvios,
sobretudo na parte da análise
marxista da realidade.”
Papa Francisco em
entrevista ao El País (21/01/2017)
Opa… gostou? Então clique aqui e leia a matéria completa!
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O Catequista
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