Não
há dúvida de que ele (o cristão) deve agradecer Àquele que, como afirma Paulo, “me amou e se entregou por mim”. E por
trás desta auto-doação de Cristo pelo Pai em colaboração com o Espírito Santo.
A
gratidão do cristão é endereçada ao Pai no Cristo dado através do Espírito
Santo. Pela auto-doação de Cristo “se constrói” a Igreja com Seu “Corpo”, Sua
“esposa” e vaso onde derrama a Sua Plenitude (e que já faz parte de tal
Plenitude), Igreja a quem confiou a própria Palavra (a Escritura) e que
administra os Seus Sacramentos.
Esta
última coisa não é mais evidente aos olhos do homem moderno: a Bíblia lhe
parece um livro como milhões de outros, um livro que ele adquire na livraria e
que depois lhe pertence como qualquer outro volume comprado. E os Sacramentos
perderam em grande parte a sua evidência de “meios necessários para a
salvação”. Será que não podem ser substituídos por uma vida honesta,
responsável sob o aspecto moral, vivida a serviço do mundo e do próximo? Uma e
outra coisa são frutos de uma ilusão de ótica.
Todo
homem de alguma forma religioso é grato por toda a vida, não só aos pais, mas
também a Deus, que acima de todos os outros bens do mundo, como dom supremo e
primário, lhe deu a vida.
Notemos
um particular importante: as duas orientações da gratidão – para com os pais e
para com Deus – existem sem fazer concorrência, uma ao lado da outra, com a
outra e na outra, enquanto o homem reconhece que Deus delegou aos seres vivos
algo de Seu poder criador e capaz de produzir frutos.
Os
pais crentes sabem muito bem que sozinhos jamais podem ser o princípio completo
do nascimento de um indivíduo, honram a Deus e lhe agradecem pelo Filho que
lhes foi dado, assim como este se sente grato com relação aos pais e,
juntamente com eles, grato para com Deus.
Seria
algo muito impreciso dizer que os pais geram somente o corpo do filho e que
Deus acrescenta a alma (se a coisa fosse tão simples, os animais teriam uma capacidade
geradora superior à do homem).
Da
mesma forma, é um jogo perigoso distinguir entre alma-espírito (que derivaria
dos pais) e “pessoa” (que derivaria de Deus). O homem é uno e os pais e o
Criador, ao gerá-lo, agem juntos, de maneira insondável.
Devemos
ser gratos por aquilo que recebemos de presente. A geração do homem implica a
intenção de dar. Os pais eticamente sadios e responsáveis geram e põem no mundo
um filho, não primária e egoisticamente para si mesmos, ao contrário,
abandonam-se ao grande movimento da vida que se propaga e levam o recém-nascido
a tornar-se autônomo; eles aceitam que o filho “abandone o pai e a mãe e se uma a uma mulher” para tornar-se por
sua vez, um doador.
Quem
gera, gera um doador potencial: é o que está escrito na mais profunda intenção
criadora de Deus. Ele transmite sempre algo de Seu próprio poder criador, e a
justa gratidão do homem não se limita ao ato de ação de graças, cheio de
respeito, dirigido para o passado, mas mostra que compreendeu o gesto do Amor
Divino, enquanto o imita e se transforma ele mesmo em doador, e isso não só na
geração dos filhos, mas em qualquer forma de participação e fecundidade humana.
Pode-se
falar também da existência de grandes missões simplesmente destinadas à
dedicação acompanhadas ou não de graças extraordinárias de oração, que, embora
sem serem reconhecidas e canonizadas, produzem efeitos igualmente grandes,
contudo anônimos e ocultos na Igreja e no mundo.
Se
um São João da Cruz não tivesse escrito nada, talvez ninguém tivesse sabido
nada a seu respeito; a amplidão de sua eficácia interior não é de forma alguma
determinada pela força de seus escritos.
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O Culto a Maria Hoje
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