No início de um novo ano muitas vezes somos relembrados de que devemos
adequar ou, até mesmo, readequar nossas expectativas; o ideal, dizem, é que
tenhamos nossos corações e mentes tomados pela plenitude da esperança. Não há
como discordar dessas palavras. No entanto, faz-se necessário refletir que não
existimos sozinhos. Nossas esperanças e expectativas não devem ser pensadas e
construídas sem a presença do outro que nos acompanha na história de nossas
vidas. Todo ano-novo também deveria ser um novo ano para a comunidade da qual
fazemos parte. Quando nos pensamos de forma plural, estamos dizendo aos outros
que também eles fazem parte das nossas esperanças e expectativas e que o novo
ano que se apresenta não poderá ser construído sem ou até mesmo contra eles.
Pensar nos outros é sair de nós mesmos e romper as estruturas que criamos ao
nosso redor e que nos impedem de conhecer novas pessoas e com elas interagir.
Quando caminhamos em direção aos outros, não somente conhecemos novas pessoas,
mas, principalmente, passamos a conhecer melhor a nós mesmos.
Maria Santíssima é uma boa mãe que em tudo procura a honra do Filho.
Nunca foi, nem será a intenção de Maria roubar glória a Deus. Ela sempre foi a
serva fiel que apontou o caminho de Deus a tantas pessoas, e seguirá realizando
esse trabalho. Ela é estrela da evangelização!
A Escritura diz que “Maria conservava todas estas palavras, meditando-as
no seu coração” (Lc 2,19) e que “sua mãe guardava todas estas coisas no seu
coração” (Lc 2,51). Maria, Mãe de Deus – porque Jesus é Deus – pensava e
repensava nos acontecimentos da história da salvação, da qual o seu Filho é o
centro e ela está profundamente inserida. A meditação de Maria é uma meditação
de Mãe, ela pensa no seu Filho continuamente. E como bem se sabe, as mães tem
uma espécie de sexto sentido.
As mães intuem, sabem, tem o sentido mais profundo da realidade. Nossa
Senhora é especializada na vida de Jesus. Ela é mãe. Peçamos a ela que nos
ensine através do rosário, que é meditação do que aconteceu com o Filho de Deus
e Filho de Maria.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS
BÍBLICOS
Leituras: Nm 6,22-27; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21
Começamos, hoje, novo ano e guia-nos pela mão
a esperança cristã; iniciamo-lo invocando a bênção divina e implorando, por
intercessão de Maria, Mãe de Deus. O dom da paz: para as nossas famílias, para
as nossas cidades, para o mundo inteiro. No primeiro dia do Ano Novo, temos a
alegria e a graça de celebrar a Santíssima Mãe de Deus e, ao mesmo tempo, o Dia
Mundial da Paz. Em ambas as comemorações celebramos Cristo, Filho de Deus que
nasceu de Maria, Virgem e nossa verdadeira paz! A todos repito as palavras da
antiga bênção: “ O Senhor dirija o seu rosto para vós e vos conceda a paz” (
cf. Nm 6, 26 ). O tempo transcorre e a sua passagem inexorável leva-nos a
dirigir o olhar com íntimo reconhecimento Àquele que é o eterno – ao Senhor do
tempo.
Ao iniciar mais um ano, vale refletir que o
Verbo Eterno entrou no tempo, veio nos visitar por meio de Maria. Recorda-o o
Apóstolo Paulo, afirmando que Jesus nasceu “de uma mulher”: “Quando se
completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de uma mulher” ( Gl
4, 4 ). Nesta “mulher”, a Igreja contempla os lineamentos de Maria de Nazaré,
mulher singular porque é chamada a cumprir uma missão que a coloca numa relação
profundamente estreita com Cristo: aliás, uma relação absolutamente única,
porque Maria é a Mãe do Salvador. No entanto, com igual evidência, podemos e
devemos afirmar que ela é também a nossa Mãe porque, vivendo a sua
singularíssima relação materna com o Filho, compartilhou a sua missão por nós e
pela salvação de todos os homens. Contemplando-a, a Igreja vislumbra nela os
traços da sua própria fisionomia: Maria vive a fé e a caridade; Maria é uma
criatura, também ela salva pelo único Salvador; Maria colabora na iniciativa de
salvação de toda a humanidade. Deste modo, Maria constitui para a Igreja a sua
imagem mais genuína: aquela em quem a comunidade eclesial deve descobrir
continuamente o sentido autêntico da sua vocação e do seu próprio Mistério.
Na liturgia de hoje sobressai a figura de
Maria, verdadeira Mãe de Jesus, Homem-Deus. Portanto, a Solenidade não celebra
uma ideia abstrata, mas um Mistério e um acontecimento histórico: Jesus Cristo,
Pessoa Divina, nasceu da Virgem Maria, a qual é, no sentido mais verdadeiro,
sua mãe. Maria é Mãe espiritual de toda a humanidade, porque Jesus derramou o
seu Sangue na Cruz por todos, e a todos confiou da Cruz à sua solicitude
materna.
Olhando para Maria, iniciemos, portanto, este
novo ano, que recebemos das mãos de Deus como um “talento” precioso para
fazermos frutificar, como uma ocasião providencial para contribuir para a
realização do Reino de Deus. Neste clima de oração e de gratidão ao Senhor pelo
dom de um novo ano que participamos da liturgia de hoje.
A piedade cristã plasmou de mil formas
diferentes a festa da Mãe de Deus que celebramos hoje! Um exemplo disso é que
inúmeras são as imagens de Maria com o Menino nos braços. A Maternidade de
Maria é o fato central que ilumina toda a vida da Virgem e é o fundamento dos
outros privilégios com que Deus quis adorná-la.
Maria é a Senhora, cheia de graça e de
virtudes, concebida sem pecado, que é Mãe de Deus e Mãe nossa, e está nos céus
em corpo e alma. A Bíblia fala-nos dela como a mais excelsa de todas as
criaturas, a bendita, a mais louvada entre as mulheres, a cheia de graça (Lc
1,28), Aquela que todas as gerações chamarão bem-aventurada (Lc 1,48).
A Igreja ensina-nos que Maria ocupa, depois de
Cristo, o lugar mais alto e o mais próximo de nós, em função da sua maternidade
divina. Diz o Concilio Vaticano II, na Lumen Gentium, 63: “Ela, pela graça de
Deus, depois do seu Filho, foi exaltada sobre todos os anjos e todos os
homens.”
Ensina S. Paulo: “Quando, porém, veio a
plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei…” (Gl 4,4). Orígenes comenta: “Observa bem, que não disse: nascido através
de uma mulher, mas sim: nascido de uma mulher”. Esta observação perspicaz do
grande exegeta e escritor eclesiástico é importante: com efeito, se o Filho de
Deus tivesse nascido somente “através” de uma mulher, na realidade não teria
assumido a nossa humanidade, o que, contudo, fez, tomando a carne “de” Maria.
Portanto, a maternidade de Maria é verdadeira e plenamente humana.
Na expressão “Deus enviou o seu Filho, nascido
de mulher”, encontra-se resumida a verdade fundamental sobre Jesus como Pessoa
divina, que assumiu completamente a nossa natureza humana. Ele é o Filho de
Deus, é gerado por Ele e, ao mesmo tempo, é Filho de uma mulher, Maria. Ele
provém dela. É de Deus e de Maria. Este título, que em grego se diz Theotókos, aparece
talvez pela primeira vez precisamente na área de Alexandria do Egito onde, na
primeira metade do século lll viveu o próprio Orígenes. Contudo, ele foi
definido dogmaticamente só dois séculos mais tarde, em 431, pelo Concílio de
Éfeso.
Jesus não apareceu de repente na terra vindo
do céu, mas fez-se realmente homem, como nós, tomando a nossa natureza humana
nas entranhas puríssimas da Virgem Maria. Enquanto Deus, é eternamente gerado,
não feito, por Deus Pai. Enquanto homem, nasceu, “foi feito”, de Santa Maria.
“Muito me admira – diz por isso São Cirilo – que haja alguém que tenha alguma
dúvida de que a Santíssima Virgem deve ser chamada Mãe de Deus. Se Nosso Senhor
Jesus Cristo é Deus, por que a Santíssima Virgem, que O deu à luz, não há de
ser chamada Mãe de Deus? Esta é a fé que os discípulos do Senhor nos
transmitiram, ainda que não tenham empregado essa expressão. Assim nos
ensinaram os Santos Padres”.
“Quando a Virgem respondeu livremente Sim
àqueles desígnios que o Criador lhe revelava, o Verbo divino assumiu a natureza
humana: a alma racional e o corpo formado no seio puríssimo de Maria. A
natureza divina e a natureza humana uniam-se numa única Pessoa: Jesus Cristo,
verdadeiro Deus e, desde então, verdadeiro Homem; Unigênito eterno do Pai e, a
partir daquele momento, como Homem, filho verdadeiro de Maria. Por isso Nossa
Senhora é Mãe do Verbo encarnado, da segunda pessoa da Santíssima Trindade que
uniu a si para sempre – sem confusão – a natureza humana. Podemos dizer bem
alto à Virgem Santa, como o melhor dos louvores, estas palavras que expressam a
sua mais alta dignidade: Mãe de Deus” (São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus,
n. 274).
“Concebendo Cristo, gerando-o, alimentando-o,
apresentando-o ao Pai no templo, padecendo com seu Filho quando morria na Cruz,
cooperou da forma inteiramente ímpar com a obra do Salvador mediante a
obediência, a fé, a esperança e a ardente caridade, a fim de restaurar a vida
sobrenatural das almas. Por isso Ela é nossa Mãe na ordem da graça” (LG,61).
Jesus deu-nos Maria como Mãe nossa no momento
em que, pregado na Cruz, dirigiu à sua Mãe estas palavras: “Mulher, eis aí o
teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe” (Jo 19,26-27). Desde
aquele dia, toda a Igreja a tem por Mãe; e todos os homens a têm por Mãe. Todos
entendemos como dirigidas a cada um de nós as palavras pronunciadas na Cruz.
Quando Cristo dá a sua Mãe por Mãe nossa,
manifesta o amor aos seus até o fim. Quando a Virgem Maria aceita o Apóstolo
João como seu filho, mostra o seu amor de Mãe para com todos os homens.
Que a Virgem Maria, que hoje veneramos com o
título de Mãe de Deus, nos ajude a contemplar a face de Jesus, Príncipe da Paz.
Que a Mãe de Deus nos ajude e nos acompanhe neste Novo Ano; que Ela obtenha
para nós e para o mundo inteiro o dom da paz. Amém!
PARA REFLETIR
Meus caros irmãos e irmãs, iniciamos um novo
ano e a Igreja nos convida a confiá-lo à celeste proteção de Nossa Senhora, que
hoje a liturgia nos faz invocar com o seu título mais antigo e importante, o de
Mãe de Deus. Ainda envolvidos pelo clima
espiritual do Natal, no qual contemplamos o mistério do nascimento de Cristo,
celebramos, com estes mesmos sentimentos, a Virgem Maria.
O dogma que declara verdade de fé que Maria é
Mãe de Deus foi proclamado pelo Concílio de Éfeso, no ano 431. Maria recebeu o
nome de “Theotokos”, palavra grega que diz exatamente “Mãe de Deus”.
Para este dia a Liturgia da Palavra nos
apresenta como primeira leitura a solene bênção que os sacerdotes pronunciavam
sobre os Israelitas nas grandes festas religiosas, marcada precisamente pelo
nome do Senhor, repetido três vezes, como que para exprimir a plenitude e a
força que deriva desta invocação: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor
faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti
o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26).
Este texto da bênção litúrgica, de fato, evoca
a riqueza de graça e de paz que Deus concede ao homem. Trata-se de uma bênção dada
por Deus através de Moisés, a Aarão e aos seus filhos, ou seja, aos sacerdotes
do povo de Israel. É um tríplice voto cheio de luz que brota da repetição do
nome de Deus e da imagem de seu rosto. Cada repetição do santo nome de Deus
está inserido dois verbos que indicam uma ação do Senhor em favor de cada ser
humano. A paz é, portanto, o ponto culminante dessas seis ações em prol do
homem, a quem Deus dirige o esplendor da sua face. Esta bênção evoca a riqueza
de graça e de paz que o Criador concede a cada um de nós, sinal da Sua
benevolência para conosco.
A palavra bíblica “shalom”, que normalmente
traduzimos por “paz”, indica um conjunto de bens que Cristo Salvador, o Messias
anunciado pelos profetas, trouxe para cada um de nós. Por isso, reconhecemos
Nele o Príncipe da paz. Ele se fez homem e nasceu numa gruta em Belém para
trazer a sua paz aos homens de boa vontade, aos que o acolhem com fé e amor.
Neste primeiro dia do ano pedimos ao Senhor
que nos abençoe e nos conceda a paz. Todos nós desejamos viver em paz, mas a
paz verdadeira, a que é anunciada pelos anjos na noite de Natal, é antes de
tudo, dom divino que se deve implorar constantemente e, ao mesmo tempo,
compromisso que se deve levar em frente com paciência e perseverança.
O texto evangélico narra o nascimento de Jesus
e as circunstâncias que o acompanhara.
Neste contexto está o anúncio do anjo aos pastores daquela região e, ao
mesmo tempo, indica a eles os sinais para que possam reconhecer a criança. Enfim, os pastores constatam a realidade do
anúncio evangélico. Eles fazem a experiência do encontro com Deus na pessoa um
“recém-nascido deitado na manjedoura” (Lc 2.16). É justamente desse menino que
se irradia uma nova luz que brilha na escuridão da noite. Agora, é Dele que nos
vem a bênção.
E os pastores passam a ser os anunciadores da
boa nova anunciada pelo anjo (v. 17), e esta novidade da mensagem dos pastores
enche os ouvintes de admiração (v. 18).
Esses pastores, considerados impuros e de reputação duvidosa, são os
primeiros a propagar o nascimento do Salvador.
A passagem do Evangelho termina com uma menção
à circuncisão de Jesus. Como de fato, Maria, como qualquer mãe judia, leva seu
filho até o templo para que se cumpra a lei da circuncisão. Conforme a Lei de Moisés, oito dias após o
nascimento, o menino devia ser circuncidado, e nesse momento lhe era dado o
nome. O próprio Deus, através de seu Anjo, dissera a Maria e também a José, que
o nome a ser dado para a criança era “Jesus” (cf. Mt 1,21; Lc 1,31). Aquele
nome que Deus já tinha estabelecido antes mesmo que o menino fosse concebido,
lhe é dado oficialmente no momento da circuncisão. E isto marca definitivamente
a identidade de Maria: ela é a mãe de Jesus, ou seja, a mãe do Salvador.
O nome Jesus, no hebraico, significa “Deus
salva”. Jesus é o Verbo de Deus, o Filho de Deus, por isso a Igreja deu a Maria
o título de “Theotokos”, ou seja, Mãe de Deus, porque Jesus Cristo é Deus.
Certa vez, disse Filipe a Jesus: “Mostra-nos o Pai, isso nos basta” (Jo 14,8).
Ao que Jesus lhe respondeu: “Há tanto tempo estou convosco Filipe e não me
conheces?”. E o Senhor logo acrescentou: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9).
E o Evangelho acrescenta também que Maria
“conservava todas estas coisas, meditando-as no seu coração” (Lc 2, 19). Como
Ela, também a Igreja conserva e medita a Palavra de Deus, confrontando-a com as
diversas e mutáveis situações que encontra ao longo do seu caminho. O título de “Mãe de Deus”, a que hoje a
liturgia dá relevo, ressalta a missão única da Virgem Santa na história da
salvação: missão que está na base do culto e da devoção que o povo cristão lhe
reserva.
Maria deu a vida terrena ao Filho de Deus,
continua a oferecer aos homens a vida divina, que é o próprio Jesus. Por esta
razão, Maria é considerada mãe de todos os homens que nascem para a Graça e ao
mesmo tempo é invocada como a Mãe da Igreja.
Nas bodas de Caná, Maria pronuncia uma frase que pode ser considerada a
solene ordem do seu coração para os seus filhos: “Fazei tudo o que Ele vos
disser” (Jo 2,1-11). Este mandato de
Maria aos serventes em Caná da Galileia vale para todos os momentos da nossa
vida cristã.
É no nome de Maria, Mãe de Deus e dos homens,
que desde o dia 1º de Janeiro de 1968 se celebra em todo o mundo o Dia Mundial
da Paz. Ao olharmos Cristo, vindo sobre
a terra para nos dar a sua paz, nós celebramos no primeiro dia do ano o “Dia
Mundial da Paz”.
Que a Virgem de Nazaré, que hoje veneramos com
o título de Mãe de Deus, nos ajude a contemplar a face de Jesus, Príncipe da
Paz (cf. Is 9,5). Que ela nos acompanhe e nos proteja ao longo deste ano. E, com a sua poderosa intercessão, possamos
progredir no caminho do bem, da paz e da concórdia. Assim seja.
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