A liturgia deste domingo celebra a
manifestação de Jesus a todos os homens… Ele é a luz que se acende na noite do
mundo e atrai a si todos os povos da terra. Cumprindo o projeto libertador que
o Pai nos queria oferecer, essa “luz” encarnou na nossa história, iluminou os
caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva.
Inspirado, sem dúvida, pelo sol nascente que
ilumina as belas pedras brancas das construções de Jerusalém e faz a cidade
transfigurar-se pela manhã (e brilhar no meio das montanhas que a rodeiam), o
profeta Isaías sonha com uma Jerusalém muito diferente daquela que os
retornados do Exílio conhecem; essa nova Jerusalém levantar-se-á quando chegar
a luz salvadora de Deus, que dará à cidade um novo rosto.
A Carta aos Efésios apresenta-se como uma
“carta de cativeiro”, escrita por Paulo da prisão. O tema mais importante da
Carta aos Efésios é aquilo que o autor chama “o mistério”: trata-se do projeto
salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos,
revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos
“últimos tempos”, tornado presente no mundo pela Igreja.
O episódio da visita dos magos ao menino de Belém
é um episódio simpático e terno que, ao longo dos séculos, tem provocado um
impacto considerável nos sonhos e nas fantasias dos cristãos… No entanto,
convém recordar que estamos ainda no âmbito do “Evangelho da Infância”; e que
os fatos narrados nesta seção não são a descrição exata de acontecimentos
históricos, mas uma catequese sobre Jesus e a sua missão… Por outras palavras:
Mateus não está aqui interessado em apresentar uma reportagem jornalística que
conte a visita oficial de três chefes de estado estrangeiros à gruta de Belém;
mas está interessado em (recorrendo a símbolos e imagens bem expressivos para
os primeiros cristãos) apresentar Jesus como o enviado de Deus Pai, que vem
oferecer a salvação de Deus aos homens de toda a terra.
Jesus que se manifestou aos Magos quer vir até
nós. Se estamos devidamente preparados, recebamo-l’O sacramentalmente.
Aproveitemos este momento privilegiado para falarmos com Ele, pedindo-Lhe nos
ajude a vivermos como Ele quer.
COMENTÁRIOS DOS TEXTOS BÍBLICOS
Textos: Is
60,1-6; Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12
A epifania é a manifestação de Cristo aos
povos pagãos representados nos magos do Oriente que vieram visitá-lo e adorá-lo
em Belém. Todos nós sabemos que Deus “deseja que todos os homens se salvem e
cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2,4). Todos são chamados à salvação,
à santidade, à felicidade eterna.
Há muitas pessoas bem intencionadas que, ainda
que não conheçam Jesus Cristo, no fundo gostariam de conhecê-lo. Nós, os
cristãos, devemos ser os instrumentos eficazes nas mãos de Deus para dá-lo a
conhecer e para fazê-lo amado entre os homens e as mulheres deste mundo. Hoje
em dia, como outrora, muitos fazem a seguinte pergunta: “Onde está o rei dos
judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo”
(Mt 2,2). O que responder?
Onde está Deus? O cristão tem que saber a
resposta a essa pergunta para apresentá-la aos seus semelhantes. Mas um cristão
que não procura estar perto de Deus através da oração, dos sacramentos e da
caridade, não poderá dar a resposta certa. Muitos seres humanos continuam
tateando na escuridão com uma pequena lanterna pendurada na mão e com uma tênue
luz, a da consciência; esta é a luz que não os deixa apagarem-se completamente
em meio a tantos ventos fortes das propagandas enganosas. Essas pessoas
perguntam a si mesmas e aos que passam ao seu lado: onde está Deus?
Infelizmente e frequentemente percebe-se o
silêncio dos cristãos omissos que não são capazes de intuir essas necessidades
mais profundas das almas imortais que se encontram em composição com os corpos
destinados à decomposição, mas também à ressurreição. Será que esses cristãos
continuam vendo a estrela, que é Cristo? Será que eles não se “mundanizaram”?
Por exemplo: frequentemente fala-se muito de justiça social, e isso é muito
importante, mas deve-se falar em primeiro lugar da justificação, da graça, de
Deus, do Reino eterno. Não podemos perder a nossa perspectiva autenticamente
cristã que, logicamente, repercute neste mundo fazendo-o mais justo e solidário.
Assim como quem fica exposto ao sol se aquece, de maneira semelhante quem se
expõe diante de Deus também se esquenta e acende o mundo ao seu entorno.
Os pagãos desejavam adorar o Senhor.
Afirmam-no categoricamente: “viemos adorá-lo!” Até quando permaneceremos na
nossa letargia sem dar-nos conta desse desejo mais profundo de todo coração
humano: encontrar-se com o seu Criador e prestar-lhe homenagem?
Sigamos o conselho de São Leão Magno: “deveis
empenhar-vos em ser úteis uns aos outros, para que no reino de Deus, onde se
entra graças à integridade da fé e às boas obras, resplandeçais como filhos da
luz”. Ajudemo-nos mutuamente para não perdermos o sentido de Deus, do sagrado e
do ser humano à luz de Deus. Que nada nem ninguém venham a ofuscar a nossa
visão clara das coisas deste mundo sob o prisma da luz de Deus. Desta maneira,
não nos esqueceremos do desejo mais profundo dos homens e das mulheres que
encontraremos diariamente: felicidade! E só se pode ser feliz com Deus.
Adorar! Nós devemos ser os primeiros a
prostrarmo-nos diante do Deus Criador, Redentor e Santificador dos seres
humanos. Não podemos perder a dimensão de adoração no cristianismo. Para uma
pessoa que entendeu isso, dá pena ver como em alguns ambientes se trata a
eucaristia, o grande dom atual de Deus aos homens! Dá pena observar algumas
celebrações eucarísticas: sem zelo e sem a observação das prescrições da Igreja
para a correta celebração da santa missa, por parte dos ministros de Cristo;
entre conversinhas e atendimentos de celulares, por parte de muitos fiéis que
participam do santo sacrifício da missa. Desta maneira, não poderíamos apontar
a adoração como momento de encontro com Deus! Eles, os que não conhecem a Deus
explicitamente, desejariam conhecê-lo e adorá-lo. Mas, nós que o conhecemos…
Será que o conhecemos mesmo?
PARA REFLETIR
Este hoje é dia solene, de festa grande! No
santo tempo do Natal a comemoração que agora celebramos somente perde em
importância para aquela da Natividade, no 25 de dezembro. É que hoje,
exultantes e gratos a Deus, celebramos a sagrada Epifania do Senhor! Epifania,
Manifestação do Cristo Jesus! Nas palavras de Santo Agostinho: “Este dia
salienta a sua grandeza e sua humilhação: Aquele que na imensidade do céu se
revelava pelo sinal de um astro era encontrado quando o procuravam na
estreiteza da gruta. Frágil em seus membros de criança, envolto em faixas, é
adorado pelos Magos e temido pelos maus!”
Eis: no dia do Natal, ele atraiu a si, pela
palavra dos anjos, aqueles que estavam perto: os pastores de Belém, membros do
povo judeu, já tão conhecedor dos caminhos de Deus. Mas, agora, pela luz da
estrela, ele se digna, com infinita misericórdia, a nos atrair a nós: os que
não somos judeus, os pagãos, que estávamos longe, entregues ao culto dos ídolos
– como aquele padre de Salvador, que a televisão mostrou adorando os orixás
numa missa profana! Pagãos nós éramos; pagão é aquele padre! Idólatras eram
nossos antepassados; idólatras continuam os que manipulam as coisas santas
indevidamente! Hoje, o Senhor atrai os pagãos do mundo todo à sua salvação,
hoje realiza-se o que o nosso Deus predissera por Isaías profeta: “Fui
perguntado por quem não se interessava por mim, fui achado por quem não me
procurava. E eu disse: ‘Eis-me aqui, eis-me aqui’ a pessoas que não invocavam o
meu nome” (Is 65,1). – Obrigado, Senhor Jesus, porque vieste também para nós!
Obrigado porque nos arrancaste do poder das trevas, porque nos fizeste passar
dos falsos deuses, dos ídolos falsos e mortos ao Deus vivo e verdadeiro! Hoje,
portanto, meus caros em Cristo, a festa é nossa! Somos nós que vemos a luz,
somos nós, convidados a seguir a estrela do Menino; nós, convidados a adorá-lo,
presenteando-o com nossos melhores dons: o ouro das nossas boas obras, a mirra
do nosso coraçãoo, o incenso do nosso amor!
Somos hoje convidados a admirar o exemplo
desses sábios do Oriente, que vendo no céu o sinal do Rei nascido, não temeram
deixar tudo e, humildemente, seguir a luz! Como foram sábios verdadeiramente,
esses que, humildes, não temeram em se deixar guiar pela luz de Deus! Como
Abraão, o pai de todos os judeus, deixara sua terra e partira à ordem de Deus,
sem saber aonde ia, assim também, esses que hoje são as nossas primícias para
Cristo, partem, obedecendo ao apelo do Senhor, sem saber para onde vão!
Caríssimos, partamos também nós! Partamos de nossa vida cômoda, partamos de
nossa fé tíbia, partamos de nosso cristianismo burguês, que deseja ser
compreendido, aceito, e aplaudido pelo mundo! , ou não veremos a luz do Menino!
“Deus é luz e nele não há trevas. Se andarmos na luz, como ele está na luz,
então estamos em comunhão uns com os outros e o sangue de seu Filho Jesus nos
purifica de todo o pecado” (1Jo 1,5b-7). Partamos, pois, caríssimos, e
encontraremos aquele que é a Luz do mundo!
Porque os Magos tiveram a coragem de partir,
conseguiram atingir o Deus inatingível e o adoraram! Diz o Evangelho que eles,
“ao verem de novo a estrela, sentiram uma alegria muito grande!” Nós também, se
encontrarmos de verdade o Senhor! Mas, atentos! O que eles encontram? Pasmem!
Encontram um menininho pobre, com uma pobre jovem do povo, Maria, sua Mãe… Não
o encontram num palácio, não o encontram numa corte! E, no entanto, com os
olhos da fé, reconheceram o Rei verdadeiro, prostraram-se e o adoraram! Vede,
caríssimos meus, somente quando nos deixamos guiar, podemos encontrar o Senhor;
somente quando saímos dos nossos esquemas, dos nossos modos de pensar, de achar
e de sentir, podemos de verdade ver naquilo que é pobre e pequeno, ver naquilo
que não estava nos nossos planos e expectativas, a presença de Deus. Depois,
diz o Evangelho que eles voltaram por outro caminho… Sim, porque quem encontrou
esse Menino, quem se alegrou com ele, quem viu a sua luz, muda de caminho,
caminha na Vida!
Mas, nesta festa de tanto alegria, doçura e
luz, há uma nota de treva: “Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado e,
com ele, toda Jerusalém…” Jerusalém, que representa o povo judeu… Jerusalém,
que deveria alegrar-se, perturba-se, hesita, não é capaz de reconhecer o tempo
da visita de Deus! E nós, caríssimos? Nós, membros do Povo de Deus, não
corremos o risco de nos acostumar de tal modo com o Senhor, a ponto de não mais
reconhecer suas visitas, sua presença luminosa e humilde, sua graça em nossa
vida? Não corremos o risco gravíssimo de não mais nos deixarmos interpelar pela
sua palavra? A festa de hoje, certamente mostra-nos a benignidade de Deus que a
todos quer iluminar e salvar, mas também revela a concreta e tremenda
possibilidade do homem de ser generoso e responder “sim” ou ser fechado e
responder “não”! Os judeus, o povo amado, começa a se fechar para o seu Senhor.
É o início de um drama que culminará na cruz… De modo grave, Santo Agostinho
afirma: “Ao nascer fez aparecer uma nova estrela, Aquele mesmo que, ao morrer,
obscureceu o sol antigo! A luz da estrela começou a fé dos pagãos; pelas trevas
da cruz foi acusada a perfídia dos judeus!” É impossível, meus caros, ficar-se
indiferente ante este Menino, este pequeno Rei: ou nos abrimos para ele e nele
encontramos a luz e a vida, ou para ele nos fechamos e não veremos a luz!
Acorda, cristão! Sai do marasmo, sai da tibieza, sai da preguiça, sai do
pensamento vão, sai do vício, sai dos acordos mornos com o mundo! Acorda! Sai
de ti e deixa-te iluminar pelo Salvador por ti nascido!
Finalmente, um último mistério. Se Jerusalém
fechou-se para o Rei nascido, como pôde o profeta cantar a luz da Cidade santa
na primeira leitura desta Missa? “Levanta-te, acende as luzes, Jerusalém,
porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do Senhor! Eis que está a
terra envolvida em trevas, mas sobre ti apareceu o Senhor!” Esta Jerusalém
santa, envolvida pela glória do Senhor, esta Cidade fiel à qual se dirigem os
povos, é a Igreja, o Novo Israel, a Esposa de Cristo. É ela a Casa na qual,
segundo o Evangelho de hoje, os Magos entraram e encontraram o Menino com sua
Mãe. É na Igreja, na Mãe católica, una, única e santa, que os homens de todos
os povos e de todas as raças podem encontrar o Salvador! Esta é a grande missão
da Igreja: dar Jesus ao mundo, iluminar o mundo com a luz do Senhor, ser casa
espaçosa e aconchegante na qual toda a humanidade possa ver a salvação do nosso
Deus!
Caríssimos, alegremo-nos! Daqui a pouco, o
Menino por nós nascido, por nós oferecido na cruz em sacrifício e em nosso
favor, ressuscitado dos mortos, mais uma vez nos será dado em comunhão. Como os
Magos, nos levantaremos, como os Magos, acorreremos a ele, como os Magos,
reverentes adorá-lo-emos! Que também, como os Magos, voltemos para nossas casas
alegres de grande alegria, tomando outro caminho na vida! Que no-lo conceda o
Deus nascido da Virgem que hoje se manifestou ao mundo. Amém.
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*No Brasil a Epifania é celebrada no domingo entre 2 e 8 de janeiro.
*No Brasil a Epifania é celebrada no domingo entre 2 e 8 de janeiro.
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