A glória de
Deus se manifesta nesta noite Santa pelo nascimento do Salvador: “Magno cum
gaudio Christum natum adoremus. Salvator noster, dilectissimi, natus est:
gaudeamus”. Com Júbilo no coração adoremos Cristo nascido, com um novo cântico.
Caríssimos, alegrai-vos pois, o nosso Salvador é Nascido! Celebração que
pode ser de luz ou de trevas, de esperança ou de ilusão, de paz ou de
conflito... Vai depender de com qual espírito estaremos revestidos. A festa
automaticamente já acontece, por força de tradição. Para muita gente não passa
disso: presentes, relacionamentos amistosos, votos, mesas fartas... É preciso
abrir a mente e o coração para a graça, pois Deus está mandando seu próprio
Filho para nos salvar. Será que vai haver lugar para o Menino nascer?
Hoje, na ceia
do natal, nas grandes ou pequenas celebrações familiares, lembremo-nos de
tantas pessoas cujo Natal reproduzirá o despojamento do Senhor em Belém,
rezemos por elas e pensemos no que fazer para ajudar a esses nossos irmãos e
irmãs necessitados.
Não quero
estragar essa noite nem quero que tenhamos peso de consciência ao comermos o
peru natalino e brindar com champanhe. Mas eu gostaria – isso sim – que não
fôssemos superficiais nessa noite e percebêssemos que todo o nosso alvoroço
frequentemente contrasta, e fortemente, com o acontecimento da gruta de Belém:
Jesus, acompanhado da sua mãe e do seu pai adotivo, algumas ovelhas e vacas, a
natureza silenciosa e… ninguém mais.
Assim, nesta
Santa vigília, nos preparamos com grande alegria para esta notícia jubilosa:
Jesus nasceu para nos salvar! Vamos nos centrar no principal do Natal: não as
festas exteriores, mais a interioridade, a luminosidade que vem do Menino que é
nos é dado, homem e Deus, em tudo igual a nós, exceto no pecado, com uma missão
muito específica: apagar a mancha do antigo inimigo, o pecado original, e nos
conceder a salvação eterna.
Reunidos
nesta vigília, celebramos o mistério da encarnação do Filho do Altíssimo entre
nós. Nosso olhar se volta para Belém, onde, numa manjedoura repousa o Menino
Deus. O amor se fez criança, humilde e sereno. Nele está a plenitude da vida,
nossa salvação. Hoje o presépio é o altar, pois nele repousa o Senhor que, na
Eucaristia, se oferece a nós para nossa redenção. Bendizemos ao Pai que não
hesitou em seu amor, oferecendo-nos seu Filho único, nascido de Maria, a Mãe do
Redentor.
A
festividade do Natal, que enche sempre as nossas almas de alegria e comoção,
recorda-nos que a Igreja, querida e fundada por Jesus, tem como finalidade o
anúncio da Encarnação do Filho de Deus, que veio ao mundo para revelar a
Verdade e salvar todos os homens. Alegremo-nos todos no Senhor, porque nasceu o
nosso Salvador. Desceu hoje sobre nós a verdadeira paz.
Comentários dos Textos Bíblicos
1ª Leitura: Isaías 62,
1-5
A liturgia
desta noite santa transcorre com a santa lembrança da preparação da vinda do
Cristo na história da Salvação. A Primeira Leitura (cf. Is. 62,1-5)
retoma o nascimento de um príncipe, no tempo de Isaías, setecentos anos antes
do nascimento de Cristo, que significa esperança para o povo abalado pelas
invasões assírias. Deus volta a seu povo. A leitura situa-se no tempo
pós-exílico. O profeta desempenha o papel de intercessor e consolador. Deus
parece calar-se. Por isso, o profeta fala, lembra a Deus a necessidade de seu
povo. Deus o atenderá, pois a Cidade Santa é sua jóia. Ele a reconstruirá, fará
novas núpcias com ela.
Depois do
edito de Ciro, que autoriza a volta do exílio e a reconstrução de Jerusalém,
por volta de 538 ou 537 a.C., o profeta vê de novo a cidade protagonista da
história da Salvação envolvida pelo amor de Deus. Este amor é descrito com
termos extraídos de uma festa de núpcias, aos quais, porém, se acrescenta uma
terminologia que evidencia o conteúdo salvífico da mensagem. O encontro de Deus
com Jerusalém, encontro que se dá com a humanidade, no Natal, é justiça, isto
é, sinal da ação salvífica de Deus, isto é, glória, isto é, sinal de que Deus
ainda está no meio do povo; é salvação, enquanto Deus resgatou aquela que era
desamparada e abandonada, povo no exílio ou humanidade afastada de Deus, e a
desposou, lembrando-lhe o seu amor por ela.
O salmo
responsorial comenta que tais fatos são a prova de que Deus governa o mundo com
justiça e os povos segundo sua fidelidade.
2ª Leitura: Atos 13,
16-17.22-25
A Segunda
leitura (cf. At 13,16-17.22-25) anuncia o tempo de Cristo como o tempo em que
se manifesta sua graça e a amizade de Deus, transformando a nossa noite em dia
e em luz. A pregação de Paulo; testemunho a respeito do “Filho de Davi”. Paulo,
na sua primeira viagem, é convidado a falar na sinagoga de Antioquia da Psídia.
Resume a História da Salvação, chegada à plenitude em Jesus Cristo, Filho de
Davi, anunciado por João Batista, que convocara o povo para a conversão.
Temos aqui um
pequeno extrato do primeiro discurso de Paulo em Atos: uma breve síntese da
história da salvação, que culmina em Jesus Cristo. Foi selecionada a parte do
texto que põe em evidência que, de acordo com as promessas de
Deus, «Jesus, é o Salvador de Israel», sendo «da descendência de
David»(v. 23); o último elo da corrente profética que prepara a sua vinda é
João.
São Paulo
dirigindo-se aos judeus da sinagoga de Antioquia da Psídia, Paulo lembra das
grandes etapas da história da Salvação: os patriarcas – libertação do Egito –
deserto – conquista da terra – juízes e rei Davi (At 13,16-22). Nesta linha,
Jesus é aquele que dá cumprimento à salvação, por isso é o Salvador e à
promessa feita a Davi (At 13,23). É, pois, o messias; por isso, segundo a
pregação de João (Lc 1,76ç 3,3-17), a sua vinda exige do povo mudança de
mentalidade.
Evangelho: São
Mateus 1, 1-25 /São Mateus 1, 18-25 (breve)
Estimados
Irmãos, Jesus é colocado hoje como o Sol invencível, o sol da justiça, o sol
sempre nascente, o sol sem ocaso, a luz que apareceu nas trevas para iluminar
os povos. Isaías relembra que o povo caminhava nas trevas e viu a luz, uma
grande luz que hoje podemos afirmar que é o Senhor Jesus (cf. Mt 1,1-25 ou
1,18-25).
As trevas
sempre representaram nas sagradas Escrituras a desgraça, a dor, a opressão em
todas as suas facetas, a escravidão e a própria morte. E a luz indica
prosperidade, felicidade, vida plena, fecundidade, bem-estar, presença de Deus.
No meio da noite de Natal, Deus se faz presente na carne humana. Troca-se o
próprio destino do homem, que caminhava pela estrada da morte e a partir de
hoje caminhará com Jesus, pela estrada da vida. Jesus vem nos trazer, com seu
nascimento, a graça e a vida plena, a vida eterna, as alegrias celestiais.
Essa
genealogia (Mt 1,1-17) deve ser explicada à luz da segunda leitura. Jesus é
aquele que dá cumprimento às três grandes etapas da história da salvação (Mt
1,17) e, como descendente de Abraão e de Davi(Mt 1,1), na linha jurídica de
José(Mt 1,16.20), é o que dá cumprimento às promessas e é aquele que salva o
povo dos seus pecados(Mt 1,21). Citando, literalmente, o texto de Is 7,14 (Mt
1,23), o evangelista declara que Jesus está na linha das promessas feitas a
Davi e é, portanto, filho de Davi segundo a carne(Rm 1,3), embora seu
nascimento virginal exclua a cooperação do homem(Mt 1,16.18)e é juridicamente
filho de Davi só através de José, que fisicamente não seu pai(Mt 1,20). José
que é justo – não porque procura separar-se de Maria (Mt 1,19), mas porque,
como exige o termo, procura em todas as coisas o cumprimento da vontade de Deus
– reconhece Jesus como seu filho e lhe transmite, dando-lhe o nome, todos os
direitos de um descente de Davi (Mt 1,21-24). O fato demonstra como é Deus que
opera a salvação, mas também como esta não se concretiza na terra sem a
cooperação do homem.
S. Mateus
centra o seu relato do nascimento de Jesus na figura de S. José (S. Lucas na de
Maria), com uma clara intencionalidade teológica de apresentar Jesus como o
Messias, anunciado como descendente de David. Isto é posto em evidência logo de
início: «Genealogia de Jesus Cristo (=Messias), Filho de David» (v. 1).
Como a linha genealógica passava pela linha do esposo, é a de José que é
apresentada. Os elos são selecionados para que apareçam três séries de 14
nomes. Pensa-se que isto obedece a uma técnica rabínica,
chamada gematriáh, ou recurso ao valor alfabético dos números; assim,
o número 14, ao ser reforçado pela sua tripla repetição – «catorze
gerações» – (no v. 17), sugere o nome de David, que em hebraico se
escreve com três consoantes (em hebraico não se escrevem as vogais) que dão o
número catorze ([D=4]+[V=6]+[D=4]=14). A concepção virginal antes de ser
explicada e justificada pelo cumprimento das Escrituras (vv. 18-25), é já
aludida na genealogia, apresentada na 1ª parte (facultativa) da leitura de
hoje, pois para todos os seus elos se diz «gerou», quando para o último
elo não se diz que José gerou, mas, pelo contrário: «José, esposo de Maria, da
qual nasceu Jesus» (v. 16, à letra «da qual Jesus foi gerado» –
entenda-se – por Deus).
18 «Antes
de terem vivido em comum»: Maria e José já tinham celebrado os
esponsais (erusim), que tinham valor jurídico de um matrimônio, mas
ainda não tinham feito as bodas
solenes (nissuim ou liqquhim), em que o noivo trazia
festivamente a noiva para sua casa, o que costumava ser cerca de um ano depois.
«Encontrava-se
grávida por virtude do Espírito Santo»: isto conta-se em pormenor no
Evangelho de S. Lucas (1, 26-38), lido na festa da Imaculada Conceição (ver
comentário então feito). Ao dizer-se «por virtude do Espírito
Santo», não se quer dizer que o Espírito Santo desempenhou o papel de pai,
pois Ele é puro espírito. Também isto nada tem que ver com os relatos
mitológicos dos semideuses, filhos dum deus e duma mulher. Além do mais, é
evidente o caráter semítico e o substrato judaico e vétero-testamentário das
narrativas da infância de Jesus em Mateus e Lucas; ora, nas línguas semíticas a
palavra «espírito» (rúah) não é masculina, mas sim feminina. Isto
chegava para fazer afastar toda a suspeita de dependência do relato
relativamente aos mitos pagãos. Por outro lado, na Sagrada Escritura, Deus nunca
intervém na geração à maneira humana, pois é espiritual e transcendente: Deus
não gera criaturas, Deus cria-as. As narrativas de Mateus e Lucas têm tal
originalidade que excluem qualquer dependência dos mitos.
19 «Mas
José, seu esposo…». Partindo do fato real e indiscutível da concepção
virginal de Jesus, aqui apresentamos uma das muitas explicações dadas
para o que se passou. A verdade é que não dispomos da crônica dos fatos, pois a
intenção do Evangelista era primordialmente teológica, embora sem inventar
histórias, pois em face dos dados das suas fontes nem sequer disso precisava.
Do texto parece depreender-se que Maria nada tinha revelado a José do mistério
que nela se passava. José vem a saber da gravidez de Maria por si mesmo ou
pelas felicitações do paraninfo (o «amigo do esposo»), e aquilo que deveria ser
para José uma grande alegria tornou-se o mais cruel tormento. Em circunstâncias
idênticas, qualquer outro homem teria atuado drasticamente, denunciando a noiva
ao tribunal como adúltera. Mas José era um santo, «justo», por isso, não
condenava ninguém sem ter as provas evidentes da culpa. E aqui não as tinha e,
conhecendo a santidade singular de Maria, não admite a mais leve suspeita, mas
pressente que está perante o sobrenatural, já sentido por Isabel… Então só lhe
restava deixar Maria, para não se intrometer num mistério em que julga não lhe
competir ter parte alguma. É assim que «resolveu repudiá-la em
segredo», evitando, assim, «difamá-la» (colocá-la numa situação
infamante), ou simplesmente «tornar público» o mistério da sua maternidade. Mas
podemos perguntar: porque não interrogava antes Maria para ser ela a esclarecer
o assunto? Mas pedir uma explicação já seria mostrar dúvida, ofendendo Maria; a
sua delicadeza extrema levá-lo-ia a não a humilhar ou deixar embaraçada. E
porque razão é que Maria não falou, se José tinha direito de saber do sucedido?
Mas como é que Maria podia falar de coisas tão colossalmente extraordinárias e
inauditas?! Como podia provar a José a Anunciação do Anjo? Maria calava, sofria
e punha nas mãos de Deus a sua honra e as angústias por que José iria passar
por sua causa; e Deus, que tinha revelado já a Isabel o mistério da concepção
de Jesus, poderia igualmente vir a revelá-lo a José. De tudo isto fica para nós
o exemplo de Maria e de José: não admitir suspeitas temerárias e confiar sempre
em Deus.
20 «Não
temas receber Maria, tua esposa». O Anjo não diz: «não desconfies»,
mas: «não temas». Segundo a explicação anterior, José deveria andar
amedrontado com algo de divino e misterioso que pressentia: julga-se indigno de
Maria e decide não se imiscuir num mistério que o transcende. Na mesma linha de
S- Jerônimo, S. Bernardo diz que S. José «foi tomado dum assombro sagrado
perante a novidade de tão grande milagre, perante a proximidade de tão grande
mistério, que a quis deixar ocultamente… José tinha-se, por indigno…». O texto
sagrado poderia mesmo traduzir-se assim, com X. Léon-Dufour e outros: «porque
sem dúvida (gar) o que foi gerado nela é obra do Espírito Santo,
mas (dè) Ela dará à luz um filho ao qual porás o nome de Jesus»
(exercendo assim para Ele a missão de pai). Assim, o Anjo não só elucida José,
como também lhe diz que ele tem uma missão a cumprir no mistério da Incarnação,
a missão e a dignidade de pai do Salvador. Comenta Santo Agostinho: «A José não
só se lhe deve o nome de pai, mas este é-lhe devido mais do que a qualquer
outro. Como era pai? Tanto mais profundamente pai, quanto mais casta foi a sua
paternidade… O Senhor não nasceu do germe de José. Mas à piedade e amor de José
nasceu um filho da Virgem Maria, que era Filho de Deus».
23 «Será
chamado Emanuel». No original hebraico de Isaías 7, 14, temos o verbo no
singular (forma aramaica para a 3ª pessoa do singular
feminino: weqara’t referido a virgem, que é a que põe o nome = «e ela
chamará»). Mateus, porém, usa o plural, que não aparece na tradução
litúrgica, (kai kalésousin: «e chamarão»),um plural de generalização,
a fim de que o texto possa ser aplicado a S. José, para pôr em evidência a
missão de S. José, como pai «legal» de Jesus. Mateus, em face do papel providencial
desempenhado por S. José, não receia adaptar o texto à realidade maravilhosa
muito mais rica do que a letra do anúncio profético. Contudo, esta técnica do
Evangelista para «actualizar» um texto antigo (chamada deraxe) não é
arbitrária, pois baseia-se na regra hermenêutica rabínica
chamada al-tiqrey («não leias»), a qual consiste em não ler um texto
consonântico com umas vogais, mas com outras (o hebraico escrevia-se sem
vogais). Neste caso, trata-se de «não ler» as consoantes do
verbo (wqrt) com as vogais que correspondem à forma feminina (tanto
da 3ª pessoa do singular na forma aramaica, como da 2ª pessoa do singular da
tradução dos LXX: weqara’t «e tu chamarás»), mas de ler com as
vogais que correspondem à 2ª pessoa do singular masculino (weqara’ta«e tu
chamarás» – em hebraico há diferentes formas masculina e feminina para as 2ª e
3ª pessoas dos verbos). Como pensa Alexandre Díez Macho, «com
este deraxe oculto, mas real, Mateus confirma as palavras do anjo do
Senhor no v. 21: «e (tu, José) o chamarás».
Eis, a
propósito, o maravilhoso comentário de S. João Crisóstomo, apresentando Deus a
falar a José: «Não penses que, por ser a concepção de Cristo obra do Espírito
Santo, tu és alheio ao serviço desta divina economia; porque, se é certo que
não tens nenhuma parte na geração e a Virgem permanece intacta, não obstante,
tudo o que pertence ao ofício de pai, sem atentar contra a dignidade da
virgindade, tudo to entrego a ti, o pôr o nome ao filho. (…) Tu lhe farás as
vezes de pai, por isso, começando pela imposição do nome, Eu te uno intimamente
com Aquele que vai nascer» (Homil. in Mt, 4).
25 «E não
a tinha conhecido…». S. Mateus pretende realçar que Jesus nasceu sem
prévias relações conjugais, mas por um milagre de Deus. Quanto à posterior
virgindade, o Evangelista não só não a nega, como até a parece insinuar no
original grego, ao usar o imperfeito de duração («não a
conhecia») em vez do chamado aoristo complexivo como seria de
esperar, caso quisesse abranger apenas o tempo até ao parto (Zerwick). De
qualquer modo, esta afirmação não significa que depois já não se verificasse o
que até este momento acontecera, como é o caso de Jo 9, 18.
Queridos
amigos, contemplando a riqueza desta noite Santa nós temos a certeza de que
todos nós éramos protagonistas da salvação. Lá estava, no teatro da salvação,
os homens e as mulheres de todos os tempos: na simplicidade de um curral estava
Maria e José, dois homens simples do povo, a quem coube realizar, por desígnio
de Deus, o sonho do humano e do divino: o nascimento do Salvador. Bem no meio
da natureza, num ambiente rural como o nosso santo ambiente das Minas, chamadas
de Gerais e de Católica, para contemplar o teatro da salvação. Tudo estava
representado para o Nascimento do Redentor: as pedras, as plantas, os animais,
os homens. O mundo racional e o mundo irracional se ajoelha, reverentemente,
diante do Deus Nascido, do Divino Infante.
PARA REFLETIR
Hoje celebramos a Vigília que precede o Natal.
A Igreja, mestra em humanidade, sabe o quanto o ser humano é distraído e tem
dificuldade de entender o valor correto das coisas e, por isso, para ressaltar
a importância de um evento, ela faz com que ele seja precedido com uma Vigília,
que prepara nossas atenções para algo grandioso que está por vir.
No caso do Natal, poderíamos dizer que além da
Vigília de hoje, que mostra a Igreja como que ansiosa para receber o menino
Jesus, tivemos não apenas um dia, mas como que um mês inteiro de Vigília, pois
desde o começo do Ano Litúrgico a Igreja nada mais fez do que anunciar a vinda
daquele que era aguardado ansiosamente por tantos patriarcas e profetas. Nos
últimos dias, a ansiedade é tanta que a Igreja no seu Ofício Divino começa a
literalmente contar os dias, dizendo: faltam 5 dias, faltam 3 dias e assim por
diante.
Para os que tiveram a felicidade de se
preparar para o Natal através da Novena de Natal de Santo Afonso de Ligório,
vemos que apesar de todas as nossas misérias e infidelidades, Deus faz de tudo
para se aproximar de nós. O pecado não é a palavra final da história, Deus
existe e interveio nela. Esse evento, o Natal, é algo que foge da compreensão
humana sobre Deus, pois em nada Deus era obrigado em se fazer carne e habitar
entre nós. Deus faz isso livremente e por pura generosidade para conosco.
A humanidade, que sucumbiu às trevas depois do
pecado original, pode agora novamente deslumbrar a luz divina. São Paulo já
dizia: “outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: Andai como filhos
da luz” (Ef 5, 8). Ora o fruto da luz é bondade, justiça e verdade, procurando
o que é agradável ao Senhor.
Devemos ser filhos da luz, e nossa luz deve
iluminar os outros, seja pelos bons conselhos advindos da verdadeira fé, seja
principalmente pelos bons exemplos, que brilham muito mais que as palavras sem
obras.
As trevas do mundo parecem como que crescer a
cada dia, tirando a esperança e até mesmo a vida de muitos. Ora, as trevas
apenas crescem quando a luz diminui, pois onde há menos iluminação, há mais
trevas. O ódio à escuridão, tomado no seu sentido simbólico, deve ser tanto
quanto maior quanto maior for nossa vontade de afastá-la.
Em primeiro lugar devemos ter a luz, isto é, a
fé que tudo ilumina e mostra claramente o caminho a seguir. Para crescer essa
luz, é preciso crescer na compreensão do catecismo e da Bíblia, através de
meditação e oração.
Em segundo lugar devemos ter a esperança, pois
sem ela não temos coragem de enfrentar as trevas do mundo e perderemos o
combate antes mesmo dele começar. Por causa de todas as nossas misérias, nossa
esperança não deve estar em nós, mas sim em Deus que é a garantia de que
podemos vencer esse combate. Da nossa parte consiste o não desistir e lutar até
o último suspiro, mesmo com a impressão humana de termos fracassado em nossas
vidas.
Em terceiro lugar nossa luz não deve ser como
a luz fria da geladeira, mas sim uma luz que abrasa e nos mantém vivos na vida
da graça através da caridade sempre operante. Operante não apenas em fazer o
bem, mas também em suportar com paciência o mal.
É difícil não ver hoje como a vida católica é
um notável diferencial daquilo que se vê comumente no mundo. O homem moderno
não sabe para que vive, age de modo impulsivo e irracional, e se desespera
diante da realidade, principalmente ao ver quão grande são as próprias
misérias, mesmo tentando escondê-las a todo custo.
Nós, católicos, possuidores da luz, temos a
certeza da nossa razão de existir e temos a força em Deus para vencer todo e
qualquer obstáculo. Por isso, ao invés de lamentarmos nossas misérias e as
misérias do mundo moderno, o católico deve estar confiante em Deus que tudo
podemos superar. Quanto mais pensarmos nas nossas forças e menos em Deus, mais
triste ficamos. Por isso, como ensina o “fazer o contrário” de Santo Inácio,
devemos pensar mais em Deus e menos em nossas forças quando nos deparamos com
algo triste.
Quanto mais forte a luz da fé brilhar em nós,
tanto mais não devemos temer o que os outros pensam de nós. Estamos convictos,
não há lei humana, livros ou maus exemplos que podem nos convencer do
contrário. Os maus nos perseguirão, mas não devemos temê-los, mas ajudá-los a
ver a luz da verdade. Nosso único real inimigo e único motivo de tristeza é o pecado,
mas o Natal lembra justamente Aquele que veio para nos salvar.
No deserto deste mundo, Jesus virá no Natal
como o maná que caiu do Céu.
Peçamos no presépio ao menino Jesus a graça de
não sermos indiferentes à sua vinda, mas que Ele nos auxilie aumentando em nós
a fé, esperança e caridade, para podermos levar essa luz a tantos quantos ainda
vivem nas trevas.
_________________________
* Esta liturgia é celebrada na tarde do dia 24 e representa a preparação para o dia de Natal.
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