Ressoa no mundo inteiro a convocação do Jubileu da
Misericórdia, inspiração dada por Deus ao Papa Francisco. Na Solenidade da
Imaculada Conceição, aquela que foi preservada do pecado original, em previsão
dos méritos de Cristo, seu Filho, abriram-se portas de reconciliação e de paz
para todas as pessoas de boa vontade que desejarem declarar umas às outras um
propósito de perdão, cancelamento das dívidas, descanso para a terra
martirizada pelos conflitos existentes em toda parte. "Misericordiosos
como o Pai" é o convite que se espalha, para que as pessoas busquem o
abraço do perdão, oferecido largamente a todos!
A celebração do jubileu tem origem judaica. Seis
dias de trabalho, um sábado de repouso; seis anos de trabalho, um ano sabático;
sete vezes sete anos, um ano inteiro, no qual os escravos eram libertados,
restituíam-se as propriedades às pessoas que as haviam perdido, perdoavam-se as
dívidas, as terras deviam permanecer sem cultivar e se descansava.
"Contarás sete semanas de anos, ou seja, sete vezes sete anos, o que dará
quarenta e nove anos. Então farás soar a trombeta no dia dez do sétimo mês. No
dia do Grande Perdão fareis soar a trombeta por todo o país. Declarareis santo
o quinquagésimo ano e proclamareis a libertação para todos os habitantes do
país. Será para vós um jubileu. Cada um de vós poderá retornar à sua
propriedade e voltar para sua família. O quinquagésimo ano será para vós um ano
de jubileu: não semeareis, nem colhereis o que a terra produzir
espontaneamente, nem fareis a colheita da videira não podada. Porque é o ano de
jubileu, sagrado para vós" (Lv 25, 8-12). A palavra jubileu se inspira no
termo hebraico "yobel", que faz alusão ao chifre do cordeiro que
servia como instrumento. Jubileu também remete ao latim "jubilum" que
representa um grito de alegria.
O Jubileu foi proclamado como convocação para que
as pessoas se convertam em seu interior e se reconciliem com Deus, por meio da
penitência, da oração, da caridade, dos sacramentos e da peregrinação, “porque
a vida é uma peregrinação e o homem é um peregrino” (Misericordiae vultus 14).
"Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de
alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a
palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia é o ato
último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia é a lei
fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o
irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia é o caminho que une Deus e
o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre,
apesar da limitação do nosso pecado (Misericordiae vultus 2). É a convicção
clara do Papa Francisco, que nos quer respondendo à maldade e à violência com a
escolha da bondade e da misericórdia. É o princípio evangélico posto em
prática: "Ouvistes que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Ora,
eu vos digo: não ofereçais resistência ao malvado! Pelo contrário, se alguém te
bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Se alguém quiser abrir um
processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a
acompanhá-lo por um quilômetro, caminha dois com ele! Dá a quem te pedir, e não
vires as costas a quem te pede emprestado" (Mt 5, 38-42). Diante de
guerras, vinganças, retaliações, violência e corrupção de todo tipo, nossa
resposta de cristãos será diferente! Perdoar, reconciliar-se, derramar o
unguento da misericórdia!
Todas as Catedrais e Santuários espalhados pelo
mundo inteiro abrirão nos próximos dias a "Porta da Misericórdia",
para expressar a peregrinação, saída de nós mesmos, rumo à casa do Senhor. Na
Arquidiocese de Belém, a Porta da Misericórdia será aberta na Catedral da Sé às
9 horas do dia 13 de dezembro e na Basílica de Nazaré às 18 horas do dia 20 de
dezembro. Ao passar pela Porta Santa, cada pessoa deve levar consigo as
disposições necessárias à recepção da Indulgência Plenária, a saber: a
Confissão Sacramental, rejeitando todos os pecados, receber a Sagrada
Eucaristia, rezar pelo Papa o Credo, o Pai-nosso e a Ave-Maria. Além da
Catedral e da Basílica, todos os enfermos e idosos poderão receber a indulgência,
quando cumpridas as condições, em sua própria casa. Para os presos, a porta da
misericórdia é a porta da própria cela. E na Arquidiocese de Belém, quem
visitar a "Fazenda da Esperança" durante o Ano Santo também poderá
receber os benefícios do Ano Santo da Misericórdia.
"Indulgência é a remissão, diante de Deus, da
pena temporal devida aos pecados já perdoados quanto à culpa, que o fiel,
devidamente disposto e em certas e determinadas condições, alcança por meio da
Igreja, a qual, como dispensadora da redenção, distribui e aplica, com
autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos" (Manual das
Indulgências, norma 1). O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que: “pelas
indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas do
Purgatório, a remissão das penas temporais, sequelas dos pecados” (Catecismo da
Igreja Católica, 1498). O pecado tem duas consequências: a culpa e a pena. A
culpa é perdoada na Confissão; a pena, que é a desordem que o pecado provoca no
pecador e nos outros, e que precisa ser reparada e é eliminada pela indulgência
que pode ser plenária ou parcial.
O Papa recomenda ainda a prática das obras de
misericórdia, como sinal concreto do acolhimento da Misericórdia de Deus. Para
a Arquidiocese de Belém, propomos a prática das Obras de Misericórdia durante o
Ano Santo, assim distribuídas: Janeiro, Obras de misericórdia corporais
"Dar de comer a quem tem fome e dar de beber a quem tem sede; Fevereiro,
Obras de Misericórdia espirituais "Dar bom conselho e ensinar os que
precisam; Março, Obra de Misericórdia Corporal "Vestir os nus";
Abril, Obra de Misericórdia espiritual "Corrigir os que erram"; Maio,
Obra de Misericórdia Corporal "Dar acolhida aos peregrinos e
emigrantes"; Junho, Obra de Misericórdia Espiritual "Consolar os
aflitos"; Julho, Obra de Misericórdia corporal "Assistir e visitar os
doentes"; Agosto, Obra de Misericórdia Espiritual "Perdoar os que nos
ofenderam"; Setembro, Obra de Misericórdia Corporal "Visitar os
presos"; Outubro, Obra de Misericórdia Espiritual "Suportar com
paciência as fraquezas do próximo" e Obra de Misericórdia Corporal
"Dar acolhida aos peregrinos e romeiros do Círio"; Novembro, Obra de
Misericórdia Corporal "Enterrar os mortos, visitar os Cemitérios e rezar
pelos falecidos"; Dezembro, Obra de Misericórdia Espiritual "Rogar a
Deus pelos vivos e falecidos".
Dom Alberto
Taveira Corrêa,
Arcebispo
Metropolitano de Belém do Pará
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