O anúncio do nascimento de Jesus pelo anjo aos
pastores trouxe alegria, paz, amor, salvação para toda a humanidade. Ele é
acolhido pelos pobres e necessitados da sociedade. Em suas homilias, os padres
da Igreja tiveram presentes as palavras divinas dirigidas aos pastores:
"Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo
Senhor"(Lc 2,11). Esta grande notícia dá-nos a graça do Salvador estar
conosco em tudo menos o pecado. A alegria de cada pessoa e de todos nós é
imensa, porque Deus está com a humanidade. Vejamos alguns autores cristãos dos
primeiros séculos do cristianismo que interpretaram a palavra evangélica do
nascimento do Salvador à realidade humana.
1. O
surgimento de um broto na casa de Jessé
Tiago, Bispo de Sarug, Síria(Homilia sobre a festa
da natividade 11-14;18-22), lá pelos séculos V e VI tem presentes as palavras
do profeta Isaias que falou sobre o surgimento de um broto, um ramo na casa de
Jessé(cfr. Is 11,1) para ser forte galho ao mundo inteiro envelhecido. O bispo
Tiago afirma que o nascimento de Jesus conduziu a abertura à boca de Eva, para
que diga em alta voz que a sua culpa foi perdoada graças à segunda Virgem pelo
pagamento do débito de seus pais com o precioso tesouro que nasceu à criação. O
autor afirma em suas homilias, o hoje da salvação e da redenção. No momento
cale a serpente, para que fale o anjo Gabriel. A mentira afasta-se para que
reine a verdade. Passou aquilo que era antiquado, pela renovação do parto da
Virgem Maria. Hoje a mão do querubim abandone a lança de fogo (cf. Gn 3,24)
porque a árvore da vida não é mais guardada. Eis de fato, que o seu fruto é
colocado na manjedoura para fazer alimento aos seres humanos que por sua
vontade tornaram-se semelhantes aos animais, mas agora são abençoados pela
presença divina do menino Jesus.
2. O Natal
revela o nascimento de Jesus
O Bispo Tiago continua a sua reflexão natalina,
convidando as pessoas para contemplar a revelação do Senhor Deus pelo
nascimento do Filho de Deus na carne à afirmação que a Virgem concebeu e deu à
luz um menino como foi anunciado a muitos séculos antes de sua vinda(cf. Is
7,14). O testemunho manifestou-se, a lei foi sigilada e o segredo dos mistérios
veio à luz para toda a humanidade. Hoje a gruta tornou-se um quarto nupcial
para aquele esposo celeste que uniu-se à geração dos seres terrestres e
sustentou-lhe a sua ascensão das profundidades da terra às alturas dos céus.
Hoje veio às claras a revelação de Jacó: o Senhor que estava em cima da escada,
desceu para fazer subir ao céu o ser humano, o homem e a mulher(cfr. Gn 28,
11-17).
Hoje a aurora manifestou-se na gruta e o grande
sol, Jesus Cristo iluminou com o seu fulgor as profundidades subterrâneas da
realidade humana. Hoje o sol tornou atrás de doze graus de luz(cf. Is 38,8) que
opunham resistência, para que fosse exaltado o verdadeiro dia que com o seu
fulgor colocou em fuga e sufocou as sombras do pecado.
3. A chegada
do Salvador
O Papa Leão Magno(Homilia XXI), século V, também
escreveu a respeito do nascimento de Jesus na realidade humana. Ele é a vê como
a chegada da salvação em Jesus Cristo, de modo que reina a alegria na vida de
cada um de nós. Não deve de fato ter lugar para a tristeza o dia em que nasce a
vida. É a vida que, eliminando todo temor para a nossa condição mortal
inspira-nos alegria para a eternidade que nos foi prometida. Nenhum ser humano
é excluído em participar à esta alegria de amor e de paz; ao contrário, todos
tem o mesmo motivo do comum júbilo, porque Nosso Senhor, Ele que destruiu o
pecado e a morte como não encontrou nenhum ser livre da culpa, assim veio para
a libertação de todos. O Papa Leão convida as pessoas para a alegria da
presença de Jesus, dom de Deus para a humanidade. Exulte o santo porque já está
próximo ao prêmio, mas goza também o pecador porque é solicitado ao perdão e reanima-se
o pagão porque è chamado à vida.
O Filho de Deus, na chegada à plenitude dos tempos
a qual era prevista a profundidade insondável do desígnio divino, assumiu a
natureza que é própria do gênero humano para reconciliá-la com o seu Criador.
4. Ele
tornou-se nossa carne
Leão Magno(Dircursos 3,5) dá também outra conotação
a respeito do Senhor Jesus na realidade humana. A divina bondade em amor
evidente derramou sobre todos nós, as suas grandes riquezas, pois apareceu a
verdade mesma, visível, feita carne. Dessa forma, com alegria celebramos o
mistério do nascimento do Senhor. O Papa convida a pensar a respeito da
maravilha do Senhor, e sendo iluminados pelo Espírito Santo, consideremos
quem é Aquele que assumiu em si mesmo o ser humano, porque como o Senhor
Jesus nascendo, tornou-se nossa carne, assim também nós, renascendo, nos
tornamos seu corpo. Somos pois membros de Cristo(cfr. 1 Cor 6,15) e templo do
Espírito de Deus(cfr. 1 Cor 6,19) de modo que o Apóstolo Paulo diz que é
preciso glorificar e levar Deus em nosso corpo(cfr. 1 Cor 6,20). Acolhamos o
jugo suave e não duro da verdade que nos guia para nos tornar semelhantes a Ele
quanto à humildade se quisermos ser conformes à sua glória.
5. O
nascimento de Jesus é o cumprimento das promessas
O Papa Leão percebe o nascimento de Jesus como o
cumprimento das promessas de Deus na história da humanidade. O Deus Criador se
tornou nosso Redentor. Ele nos amou de tal forma que enviou o seu Filho ao
mundo para a salvação de todo o gênero humano. Dessa forma Ele teve misericórdia
de todos nós. O Senhor tem o poder de perdoar os nossos pecados e de levar a
perfeição em nós os seus dons, o Cristo Senhor nosso, que vive e reina para
sempre.
6. O Senhor
Jesus participa de toda a realidade
Gregório de Nazianzo, Bispo de Nazianzo, século IV
na Obra (Poesias II, 1,74) faz um elogio à vinda do Senhor Jesus em nossa
realidade. Ele diz que nós entramos na vida passando por dificuldades,
alegrias, fome, cansaço, sono, cura de doenças, e todas as outras situações que
a vida nos oferece. Tudo tem sentido pela vinda do Messias em nossa realidade.
O fato é que Jesus Cristo passando por essas situações, menos o pecado, dá
sentido a tudo aquilo que o ser humano (homem e mulher) faz no cotidiano. O
Verbo de Deus, de invisível que era, tornou-se visível para participar de toda
a realidade humana, levando-a a plenitude da vida.
Conclusão
O Natal é o nascimento de Jesus Cristo em nossa
realidade, humana. Nós somos felizes por essa presença que fortalece a vida
humana, familiar, comunitária e social. Deus se faz presente no presépio
pequenino e na vida de cada ser humano. Adoramos a sua presença na eucarístia,
na Palavra de Deus, na vida que levamos para que o Natal seja sempre um
acontecimento de nascimento de nossa vida neste mundo e um dia na
eternidade.
Dom Vital
Corbellini
Bispo de
Marabá (PA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário