A Solenidade de abertura da Porta Santa realizada domingo, 13 de dezembro, na Catedral
Nossa Senhora da Penha, em Crato- CE, teve para os fiéis da Diocese de Crato e
romeiros do Padre Cícero Romão Batista um significado ainda maior. Neste dia o
Bispo Dom Fernando Panico comunicou ao povo, durante sua homilia, que o Papa
Francisco havia enviado uma carta, assinada pelo Cardeal Pietro Parolin,
Secretário de Estado de Sua Santidade, na qual autoriza a reconciliação do
“Padim Ciço”, como é carinhosamente chamado pelos devotos, com a Igreja
Católica.
As palavras aguardadas há décadas pelos fiéis foram
recebidas com júbilo. Fogos de artificio, palmas e expressões de alegria era o
que se notava no rosto dos que participavam da celebração. Um quadro com a
imagem do padre foi introduzida não no altar, pois ele ainda não foi
canonizado, mas dentro da Igreja, próximo ao altar. “Ele vai entrar como
romeiro. Seu lugar não será ainda o Altar, mas ficará no meio do Povo,
invocando e cantando conosco a misericórdia do Pai”, disse Dom Fernando.
Além de destacar a fé simples e a devoção a Nossa
Senhora que o Padre Cícero teve em sua existência, o Papa ainda caracterizou o
seu modo de evangelização, vivido no final do século XIX e início do XX, como
atual. “Atitude de saída, ao encontro das periferias existenciais, a atitude do
Padre Cícero em acolher a todos, especialmente aos pobres e sofredores,
aconselhando-os e abençoando-os, constitui sem dúvida, um sinal importante e
atual”, afirmou.
Assista ao
momento do anúncio da reconciliação:
Padre Cícero morreu em 1934 suspenso de ordem. A
partir da data de seu falecimento o número de fiéis que realizam romarias a
cidade que ele fundou, Juazeiro do Norte, só cresce. Diante desta realidade ao
chegar na Diocese de Crato, em 2001, Dom Fernando Panico colocou esta
reconciliação como prioridade de seu episcopado.
O Bispo formou uma comissão e deu entrada, em 2006,
na Congregação para Doutrina da Fé, no Vaticano, ao processo de REABILITAÇÃO,
porém o Papa Francisco foi além. A partir dos estudos realizados pela Equipe de
Direito Canônico do Vaticano, foi decidido que a Igreja deveria conceder a
RECONCILIAÇÃO do padre com a Igreja, permitindo assim que os fiéis realizem sua
devoção com a aprovação da Santa Sé.
Dom Fernando, diante da realização de um dos seus
maiores sonhos, afirmou que toda a Diocese de Crato foi justificada pela ação
do Papa Francisco, e que não houve equivoco em assumirem a opção pastoral em
favor das romarias e o acolhimento aos romeiros. “Como Bispo Diocesano dessa
Igreja particular, fico feliz por poder receber essa grande graça, em nome do
Padre Cícero e de seus romeiros e romeiras, em nome de todos aqueles bispos –
Dom Quintino, Dom Delgado – que alguma vez pediram que a Igreja e Padre Cícero
se reconciliassem, em nome de todas as pessoas que queriam ver o Seu Padrinho
ser, de novo, acolhido pela Igreja Católica da mesma forma que sempre foi
acolhido por seus afilhados!”, disse.
Na Igreja onde foi batizado e realizou a primeira
missa, neste ano 2015, ao Padre Cícero foi concedida uma reconciliação
histórica mostrando que a misericórdia de Deus está acima das ações humanas.
Reabilitação
e Reconciliação
Reabilitação é recuperação de ordens que estavam
suspensas. Reconciliação é apagar qualquer oposição a ação do Padre Cícero.
A Diocese de Crato deu entrada ao processo de
reabilitação pelo fato do Padre Cícero ter morrido suspenso de ordem, porém
como o padre já havia falecido e as punições cessadas, não tinha o que o Papa
reabilitar.
De 2006 a 2014 uma equipe de direito canônico do
Vaticano estudou como resolver esta questão. Eles chegaram à conclusão de que a
Igreja teria que ter uma Reconciliação. “Como a ação do Padre Cícero se tornou
crescente mesmo após a sua morte, eles disseram era oportuno a reconciliação da
Igreja com o Padre”, disse o chanceler Armando Lopes Rafael.
Em outubro de 2015 o Papa Francisco enviou uma
carta reconciliando a Igreja Católica com a herança espiritual do Padre Cícero,
porque entendeu que o Padre deu continuidade a obra de divulgação do evangelho
que Jesus queria. “Ele se dedicou aos humildes e estes permaneceram fiéis a
Igreja Católica, por isso a reconciliação”, disse Armando.
A Reconciliação é mais ampla que a Reabilitação
pois, conforme explica o chanceler, é uma aceitação e reconhecimento dos frutos
feitos através das romarias e devoção ao padre Cícero, propiciando uma maior
aproximação dos romeiros com toda a Igreja Católica.
Resumo
da carta-mensagem do Papa Francisco sobre a Reconciliação histórica da Igreja
Católica com a memória do Padre Cícero Romão Batista
Em longa correspondência enviada ao Bispo Diocesano
de Crato, Dom Fernando Panico, o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal
Pietro Parolin, afirmou que: “A presente mensagem foi redigida por expressa
vontade de Sua Santidade o Papa Francisco, na esperança de que Vossa Excelência
Reverendíssima não deixará de apresentar à sua Diocese e aos romeiros do Padre
Cícero a autentica interpretação da mesma, procurando por todos os meios apoiar
e promover a unidade de todos na mais autentica comunhão eclesial e na dinâmica
de uma evangelização que dê sempre e de maneira explicita o lugar central a
Cristo, principio e meta da História”.
A mensagem lembra, inicialmente, as festas pelo
centenário de criação da Diocese de Crato acrescentando “que (essas
comemorações) põem em realce a figura do Padre Cícero Romão Batista e a nova
Evangelização, procurando concretamente ressaltar os bons frutos que hoje podem
ser vivenciados pelos inúmeros romeiros que, sem cessar, peregrinam a Juazeiro
atraídos pela figura daquele sacerdote. Procedendo desta forma, pode-se
perceber que a memória do Padre Cícero Romão Batista mantém, no conjunto de boa
parte do catolicismo deste país, e, dessa forma, valoriza-la desde um ponto de
vista eminentemente pastoral e religioso, como um possível instrumento de
evangelização popular”.
Lembrando que Deus sempre se serve de pobres
instrumentos para realizar suas maravilhas e que todos nós somos “vasos de
argila” (2Co 4,7) em Suas mãos, o texto afirma, sem dúvida alguma, que Padre
Cícero, pelo seu intenso amor pelos mais pobres e por sua inquebrantável
confiança em Deus, foi esse instrumento escolhido por Ele. O Padre respondeu a
este chamado, movido por um desejo sincero de estender o Reino de Deus.
Na correspondência constam vários tópicos, dos
quais alguns são reproduzidos, a seguir, textualmente:
“Mas é sempre possível, com a distância do tempo e
o evoluir das diversas circunstâncias, reavaliar e apreciar as várias dimensões
que marcaram a ação do Padre Cícero como sacerdote e, deixando à margem os
pontos mais controversos, por em evidência aspectos positivos de sua vida e
figura, tal como é atualmente percebida pelos fiéis”.
† “É inegável que o Padre Cícero Romão
Batista, no arco de sua existência, viveu uma fé simples, em sintonia com o seu
povo e, por isso mesmo, desde o início, foi compreendido e amado por este mesmo
povo”.
† “Deixou marcas profundas no povo
nordestino a intensa devoção do Padre Cícero à Virgem Maria” no seu título de
“Mãe das Dores e das Candeias” (…) Como não reconhecer, Dom Fernando, na
devoção simples e arraigada destes romeiros, o sentido consciente de pertença à
Igreja Católica, que tem na Mãe de Jesus Cristo um dos seus elementos mais
característicos?
† “A grande romaria do dia de Finados,
iniciada pelo Padre Cícero, transmite a dimensão escatológica da existência humana.
Pois, como afirma o documento de Aparecida, Nossos povos (…) têm sede de vida e
felicidade em Cristo. (…)
† “Não deixa de chamar a atenção o fato
de que estes romeiros, desde então, sentindo-se acolhidos e tendo
experimentado, através da pessoa do sacerdote, a própria misericórdia de Deus,
com ele estabeleceram – e continuam estabelecendo no presente – uma relação de
intimidade, chamando-o na carinhosa linguagem popular nordestina de “padim”, ou
seja, considerando-o como um verdadeiro padrinho de batismo, investido da
missão de acompanhá-los e de ajuda-los na vivência da sua fé”.
† “No momento em que a Igreja inteira é
convidada pelo Papa Francisco a uma atitude de saída, ao encontro das
periferias existenciais, a atitude do Padre Cícero em acolher a todos,
especialmente aos pobres e sofredores, aconselhando-os e abençoando-os,
constitui sem dúvida, um sinal importante e atual”.
† “O afeto popular que cerca a figura
do Padre Cícero pode constituir um alicerce forte para a solidificação da fé católica
no ânimo do povo nordestino (…). Portanto, é necessário, neste contexto,
dirigir nossa atenção ao Senhor e agradecê-lo por todo o bem que ele suscitou
por meio do Padre Cícero”.
† “Assim fazendo, abrem-se inúmeras
perspectivas para a evangelização, na linha desta recomendação do Documento de
Aparecida; “Deve-se dar catequese apropriada que acompanhe a fé já presente na
religiosidade popular”. (Documento de Aparecida, 300).
† “Ao mesmo tempo que me desempenho da
honra de transmitir uma fraterna saudação do Santo Padre a todo o povo fiel do
sertão do Ceará, com os seus Pastores, bendizendo a Deus pelos luminosos frutos
de santidade que a semente do Evangelho faz brotar nestas terras abençoadas,
valho-me do ensejo para lhe testemunhar minha fraterna estima e me confirmar de
Vossa Excelência Reverendíssima devotíssimo no Senhor
Pietro Cardeal Parolin
Secretário
de Estado de Sua Santidade
Vaticano, 20 de outubro de 2015.
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Diocese de
Crato
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