Há uma dúvida que, de tempos em tempos, sempre
aparece entre os fiéis católicos, – às vezes até entre aqueles mais
experientes. – A pergunta é a seguinte: se alguém, ao se confessar, esquece de
um pecado grave que cometeu, e se lembra dele somente após a confissão, este
pecado foi mesmo assim perdoado e deve ser definitivamente esquecido? Ou este
pecado não é perdoado por não ter sido confessado, e o fiel só receberá o
perdão e só poderá novamente comungar quando confessá-lo?
Nenhuma das duas opções acima é verdadeira. De
fato, o pecado verdadeiramente esquecido é perdoado, mas o fiel precisa
confessá-lo na próxima confissão, que deve então ser feita o mais breve
possível.
A resposta está dada, mas é interessante
aprofundarmos um pouco a questão: devemos saber, por exemplo, que uma coisa é
um pecado que honestamente e de toda boa vontade se esqueceu, e que, portanto,
não pôde ser confessado. Outra coisa é alguém, ao fazer bem e honestamente seu
exame de consciência, lembrar-se deste pecado, e depois, durante a confissão,
ter-se esquecido de contá-lo ao sacerdote.
Em ambos os casos, se a pessoa estiver sinceramente
arrependida daquele pecado, – de modo que não o cometeria novamente se a mesma
ocasião surgisse e, caso tivesse se lembrado de contá-lo, assim o teria feito,
– então ele é perdoado (para ser confessado na próxima confissão, como já
dito).
Outra questão importante que deve ser analisada,
aqui, é o desleixo no exame de consciência. Antes de se confessar é preciso que
a pessoa examine com seriedade e sinceridade sua própria consciência, – sem
preguiça, sem receios, sem se preocupar com a vergonha de se acusar de algum
ato, omissão ou pensamento vexatório.
É natural que muita coisa escape, por exemplo, de
alguém que não se confessa há um tempo prolongado e não anota seus pecados.
Imaginemos alguém que tenha mais de dez pecados para contar: é bem possível
que, diante do padre, acabe por esquecer algum deles. Assim, o ideal é que se
faça uso de algum meio auxiliar para favorecer a memória: poderíamos dizer que,
em certos casos, anotar os pecados num papel, mais do que uma boa dica, é
praticamente imprescindível.
Evidentemente, ainda assim, é possível que um fiel,
sem culpa, se esqueça de contar um pecado. Aqui, abro parênteses para
compartilhar meu testemunho pessoal com meus leitores: certa vez, apenas poucas
horas após ter me confessado, lembrei-me de um pecado que considero grave,
cometido já há um bom tempo, mas que nunca tinha confessado (exatamente por ter
me esquecido dele quase que completamente). É uma sensação desagradável, mas
não perdi minha paz de espírito: sabendo que deveria confessar este pecado em minha
próxima confissão, anotei-o num papel e guardei-o em minha carteira, para não
correr o risco de esquecê-lo novamente. Dito e feito: a cada vez que eu abria a
carteira para pagar alguma coisa ou mesmo usar um documento de identificação,
via lá o papelzinho acusador: poucos dias depois, pude confessar aquela falta
antiga.
Concluindo as orientações a respeito desta questão
específica, importa dizer que, quando o fiel for confessar seu(s) pecado(s)
esquecido(s), deve acusar somente este(s), e não todos os outros já
confessados. Os que já foram ditos não devem ser ditos novamente (a não ser, é
claro, se foram cometidos de novo).
Ao final desta, reproduzimos os tópicos do
Catecismo de São Pio X a respeito destas questões, que, em formato de perguntas
e respostas, traz esclarecimentos precisos e bastante claros1.
As
qualidades necessárias para a confissão válida
As qualidades principais que deve ter a acusação
dos pecados são cinco: deve ser humilde, íntegra, sincera, prudente e breve.
Destas, analisaremos agora a questão da prudência, já que as demais nos parecem
razoavelmente fáceis de entender.
A confissão deve ser prudente. Isto significa que,
ao confessar os pecados, devemos servir-nos dos termos mais modestos e diretos
possíveis, e que devemos nos guardar de descobrir os pecados alheios. É claro
que, dentro desta obrigação, detalhes irrelevantes devem ser omitidos, assim
como certas minúcias cuja gravidade possa ser dita de outras formas, as mais
genéricas possíveis, desde que não se deixe de confessar o principal, isto é, o
que faz com que aquele ato, palavra, pensamento ou omissão seja pecado.
Neste sentido, talvez o melhor exemplo seja o da
confissão dos pecados relacionados à imoralidade e impureza. Não é preciso
esmiuçar todos os detalhes referentes ao ato sexual ilícito e/ou imoral.
Bastaria dizer, por exemplo: "Pequei contra o 6° mandamento, com uma
mulher solteira, ferindo a dignidade do ato sexual". Pronto, o padre já
teria a medida da gravidade do ato, sem ter que se escandalizar com detalhes
sórdidos.
A confissão verbal dos pecados deve ser praticada
de modo a despertar no penitente o arrependimento e a consciência do mal
cometido, bastando para isso o senso da medida e da natureza do ato pecaminoso.
Querer se lembrar de todas as minúcias pode até afastá-lo da essência do mal
cometido.
___________
1. O Catecismo de São Pio X, do n. 740 ao 792,
trata do Sacramento da Confissão. Reproduzimos abaixo alguns trechos mais
diretamente relacionados ao tema deste artigo:
749) Se
uma pessoa não tiver a certeza de ter come tido um pecado, deve confessá-lo?
Se uma pessoa não tiver a certeza de ter cometido
um pecado, não é obrigada a confessá-lo; se porém o quiser acusar, deverá
acrescentar que não tem a certeza de o ter cometido
751) Quem
deixou de confessar por esquecimento um pecado mortal, ou uma circunstância
necessária, fez uma boa confissão?
Quem deixou de confessar por esquecimento um pecado
mortal, ou uma circunstância necessária, fez uma boa confissão, contanto que
tenha empregado a devida diligência no exame de consciência.
752) Se um
pecado mortal esquecido na confissão volta depois à lembrança, somos obrigados
a acusá-lo noutra confissão?
Se um pecado mortal esquecido na confissão volta
depois à lembrança, somos obrigados,sem dúvida, a acusá-lo na primeira vez que
de novo nos confessarmos.
753) Quem,
por vergonha ou por outro motivo culpável, cala voluntariamente na confissão
algum pecado mortal, que comete?
Quem, por vergonha, ou por qualquer outro motivo
culpável, cala voluntariamente algum pecado mortal na confissão, profana o
Sacramento e por isso torna-se réu de gravíssimo sacrilégio.
1460. Se
o padre não dá a penitência no final da confissão, o que acontece? Como fica?
A penitência que o confessor impõe deve ter em
conta a situação pessoal do penitente e procurar o seu bem espiritual. Deve
corresponder, quanto possível, à gravidade e natureza dos pecados cometidos.
Pode consistir na oração, num donativo, nas obras de misericórdia, no serviço
do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e, sobretudo, na aceitação
paciente da cruz que temos de levar. Tais penitências ajudam-nos a
configurar-nos com Cristo, que, por Si só, expiou os nossos pecados uma vez por
todas. Tais penitências fazem que nos tornemos co-herdeiros de Cristo
Ressuscitado, «uma vez que também sofremos com Ele».
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O Fiel Católico
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