CATEQUESE
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 4 de janeiro de 2016
Sala Paulo VI – Vaticano
Quarta-feira, 4 de janeiro de 2016
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Na catequese de hoje, gostaria de contemplar com vocês uma
figura de mulher que nos fala da esperança vivida no pranto. A esperança vivida
no pranto. Trata-se de Raquel, a esposa de Jacó e a mãe de José e Benjamin,
aquela que, como conta o Livro do Gênesis, morre ao dar à luz ao seu segundo
filho, isso é, Benjamin.
O profeta Jeremias faz referência a Raquel dirigindo-se aos
israelitas no exílio para consolá-los, com palavras cheias de emoção e de
poesia; isso é, toma o pranto de Raquel mas dá esperança:
“Eis o que diz o
Senhor:
ouve-se
em Ramá uma voz,
lamentos
e amargos soluços.
É
Raquel que chora os filhos,
recusando
ser consolada, porque já não existem”
(Jer
31,15).
Nestes versículos, Jeremias apresenta esta mulher do seu povo, a
grande matriarca da sua tribo, em uma realidade de dor e pranto, mas junto com
uma perspectiva de vida impensada. Raquel, que no relato do Gênesis morreu no
parto e tinha assumido aquela morte para que o filho pudesse viver, agora, em
vez disso, representada pelo profeta como viva em Ramá, ali onde se reuniam os
deportados, chora pelos filhos que em um certo sentido são mortos indo ao
exílio; filhos que, como ela mesma disse, “já não existem mais”, desapareceram
para sempre.
E por isso Raquel não quer ser consolada. Esta recusa exprime a
profundidade da sua dor e a amargura do seu pranto. Diante da tragédia da perda
dos filhos, uma mãe não pode aceitar palavras ou gestos de consolo, que são
sempre inadequadas, nunca capazes de aliviar a dor de uma ferida que não pode e
não quer ser curada. Uma dor proporcional ao amor.
Toda mãe sabe tudo isso; e são tantas, também hoje, as mães que
choram, que não se conformam com a perda de um filho, inconsoláveis diante de
uma morte impossível de aceitar. Raquel personifica em si a dor de todas as
mães do mundo, de todo tempo, e das lágrimas de todo ser humano que chora
perdas irreparáveis.
Esta recusa de Raquel que não quer ser consolada nos ensina
também quanta delicadeza nos é pedida diante da dor dos outros. Para falar de
esperança a quem está desesperado, é preciso partilhar o seu desespero; para
enxugar uma lágrima da face de quem sofre, é preciso unir ao seu o nosso
pranto. Só assim as nossas palavras podem ser realmente capazes de dar um pouco
de esperança. E se não posso dizer palavras assim, com o pranto, com a dor,
melhor o silêncio; o carinho, o gesto e nada de palavras.
E Deus, com a sua delicadeza e o seu amor, responde ao pranto de
Raquel com palavras verdadeiras, não falsas; assim prossegue o texto de
Jeremias:
“Eis o que diz o
Senhor:
Cessa
de gemer, enxuga tuas lágrimas!
Tuas
penas terão a recompensa – oráculo do Senhor.
Voltarão
(teus filhos) da terra inimiga.
Desponta
em teu futuro a esperança – oráculo do Senhor.
Teus
filhos voltarão à sua terra”. (Jer 31,16-17).
Justamente pelo choro da mãe, há ainda esperança para os filhos,
que voltarão a viver. Esta mulher, que tinha aceitado morrer, no momento do
parto, para que o filho pudesse viver, com o seu pranto é agora princípio de
vida nova para os filhos exilados, prisioneiros, distantes da pátria. À dor e
ao pranto amargo de Raquel, o Senhor responde com uma promessa que agora pode
ser para ela motivo de verdadeiro consolo: o povo poderá voltar do exílio e
viver na fé, livre, a própria relação com Deus. As lágrimas geraram esperança.
E isso não é fácil de entender, mas é verdade. Tantas vezes, na nossa vida, as
lágrimas semeiam esperança, são sementes de esperança.
Como sabemos, este texto de Jeremias é depois retomado pelo
evangelista Mateus e aplicado ao massacre dos inocentes (cfr 2, 16-18). Um
texto que nos coloca diante da tragédia do assassinato de seres humanos
indefesos, do horror do poder que despreza e suprime a vida. As crianças de
Belém morrem por causa de Jesus. E Ele, cordeiro inocente, seria depois morto,
por sua vez, por todos nós. O Filho de Deus entrou na dor dos homens. Não se
pode esquecer isso. Quando alguém se dirige a mim e me faz perguntas difíceis,
por exemplo: “Diga-me, padre, por que as crianças sofrem?”, realmente, eu não
sei o que responder. Somente digo: “Olha para o crucifixo: Deus nos deu o seu
Filho, Ele sofreu, e talvez ali encontrarás uma resposta”. Mas respostas daqui
[mostra a sua cabeça] não há. Somente olhando para o amor de Deus que dá seu
Filho que oferece a sua vida por nós, pode indicar qualquer caminho de
consolação. E por isso dizemos que o Filho de Deus entrou na dor dos homens;
partilhou e acolheu a morte; a sua Palavra é definitivamente palavra de
consolo, porque nasce do pranto.
E na cruz será Jesus, o Filho que irá morrer, a dar uma nova fecundidade
à sua mãe, confiando-a ao discípulo João e tornando-a mãe do povo crente. A
morte foi vencida e alcançou, assim, o cumprimento da profecia de Jeremias.
Também as lágrimas de Maria, como aquela de Raquel, geraram esperança e vida
nova. Obrigado.
Apelo do Papa
ao Brasil:
que as prisões sejam lugares de reinserção social
Ontem chegaram do Brasil notícias dramáticas do massacre
ocorrido no presídio de Manaus, onde um violentíssimo confronto entre facções
rivais causou dezenas de mortes. Exprimo dor e preocupação pelo que aconteceu.
Convido a rezar pelos falecidos, pelos seus familiares, por todos os detentos
daquele presídio e por quantos ali trabalham. E renovo o apelo para que os
institutos penitenciários sejam lugares de reeducação e de reinserção social, e
as condições de vida dos detentos sejam dignas de pessoas humanas.
Convido-vos a rezar por estes detentos mortos e vivos e também
por todos os detentos do mundo, para que os presídios sejam para reinserir e
não sejam superlotados; sejam lugar de reinserção. Rezemos à Nossa Senhora, Mãe
dos detentos: Ave Maria…
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Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
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