A Solenidade
litúrgica da Epifania, com a qual se concluem as festas natalinas, nos
apresenta a figura dos três sábios do Oriente que se põe a caminho, guiados por
uma estrela, para adorar o Rei que acabara de nascer. O relato é cheio de
símbolos. Fala da busca do ser humano, que percorre um caminho ao encontro da
verdade, do sentido da vida, do Deus verdadeiro. Ao comentar esta passagem das
narrações da infância de Jesus, o Papa Emérito Bento XVI diz que “os homens de
que fala Mateus não eram apenas astrólogos; eram ‘sábios’: representam a
dinâmica de ir além de si próprio, que é intrínseca à religião; uma dinâmica
que é a busca da verdade, busca do verdadeiro Deus e, consequentemente, também
filosofia no sentido originário da palavra.” (Bento XVI, A infância de Jesus,
2012, p.82). Estes sábios personificam todo o ser humano e, como que inauguram
uma procissão que percorre toda a história da humanidade: “representam o
caminho das religiões para Cristo” (Idem, p.82).
Sem dúvidas, o ser humano é um peregrino em
permanente busca do sentido. Por isso, é alguém inquieto, que se interroga e se
põe a caminho. Quanta alegria quando uma estrela aponta o caminho, o norte para
onde ir e gastar a vida. Quanta insegurança e confusão na vida quando
desaparece a estrela e falta um centro nucleador da existência, um lar
acolhedor e repousante, um porto que sempre será chão firme e seguro. Santo
Agostinho é o modelo típico desta busca, que deixou narrada com detalhes nas
suas “Confissões”:“Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração, enquanto
não repousa em ti” e “Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado
de fora!”. Para isto, é preciso ter a coragem de percorrer um caminho. Para os
que creem, a estrela conduz para Cristo, luz que veio ao mundo “para iluminar a
todos os povos no caminho da salvação” (Prefácio da Epifania). Quem o encontra
e se deixa iluminar por Ele sabe o que significa caminhar na vida na sua
companhia. Na travessia da vida, a noite faz parte, mas para quem crê, mesmo na
escuridão, a luz da estrela não se apaga.
Não nos serve um Deus “segundo nossas
necessidades”, que vem em auxílio de projetos individualistas, como uma
mercadoria que se adquire e se consome. Este não é o Deus revelado por Jesus
Cristo. O desejo dos sábios de adorá-lo indica um Deus bem maior: a criatura
que se sente infinitamente amada e, em atitude de gratidão e reconhecimento
degusta de sua presença amorosa que envolve todo o ser. Envolvido pelo seu
amor, presta-lhe a adoração e com este mesmo amor empreende outro caminho,
aquele que sai de si para ir ao encontro dos irmãos. Assim, tudo adquire
sentido, pois não estamos perdidos e envolvidos por um sistema social que nos
faz anônimos consumidores, endurecidos e frios por dentro, calculistas e
incapazes de compreender a gratuidade e a misericórdia.
Cremos que naquele Menino, tão pequeno e
humilde, “envolto em faixas e deitado numa manjedoura” (Lc 2, 12), é a profecia
de Isaías que se cumpriu: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz” (Is
9,1).
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