Recentemente,
fui convidada a falar durante um encontro de mulheres católicas. Fazia certo
tempo que eu não calçava mais os meus “sapatos de dar palestra” – e eu estava
realmente animada. Até que… me disseram qual seria o tema. “Companheirismo”.
Companheirismo?
Estremeci. Não podia ser o sofrimento? A oração? A discórdia familiar? Como
manter a fé durante a crise? Não. Companheirismo.
Pensei
imediatamente nos ex-católicos que se declaram hoje felizes na sua nova
comunidade protestante, onde estão engajados e são bem recebidos, ao contrário
da paróquia que antes frequentavam e na qual se sentiam indesejados, entre
pessoas frias, indiferentes, sem viver uma verdadeira experiência de
companheirismo.
Pensei na
formalidade tantas vezes desconfortável daqueles apertos de mão na hora da
saudação fraterna durante a Missa. Pensei na pressa com que grande parte dos
fiéis sai da igreja, quase sem olhar para mais ninguém.
Por que nós, católicos, somos tão ruins de companheirismo?
O
companheirismo é simplesmente uma relação amigável, um convívio amistoso de
pessoas com pontos de vista e ideais em comum. Como é que isso é tão difícil?
É
interessante, aliás, que o próprio conceito de “companheirismo” desperte o
desdém de alguns católicos: “Nós não precisamos de companheirismo.
Vamos à missa para receber a Eucaristia, não para saudar os outros”,
dizem alguns. Outros corroboram: “Os protestantes precisam de pessoas; nós
não: nós temos Jesus”.
Sério? Os católicos não precisam de pessoas? Foi Jesus quem nos
ensinou isso? Onde? Quando? Como?
Sim, nós
temos Jesus na Eucaristia, mas é falacioso abraçar uma “espiritualidade” sem
comunidade. Nós somos a Igreja! E “Igreja” quer dizer
“assembleia”, o que, em essência, significa que somos uma comunidade.
Comunidade de quê? De pessoas! De
pessoas em comunhão! O conceito de comunhão é essencial na
jornada cristã!
Jesus deixou
claro, ao nos chamar a fazer parte da sua comunidade de amigos, que nós não
vamos navegar sozinhos pela jornada cristã. Nós precisamos de amor e de apoio
recíproco – afinal, é nisto que todos reconhecerão que somos seus discípulos:
se nos amarmos uns aos outros! É claro que queremos assistir à Santa Missa para
receber a Cristo na Eucaristia, mas isso não significa de forma alguma que a
nossa experiência de Igreja deva ser limitada ao momento da comunhão.
Alguns anos
atrás, eu fui convidada – várias vezes! – a participar de um círculo de estudos
bíblicos para mulheres católicas. Dei uma série de desculpas para fugir, mas, a
certa altura, não consegui mais me esquivar do convite. E lá fui eu.
Havia
algumas mulheres com as quais eu tinha coisas em comum, mas outras não tinham
simplesmente nada a ver comigo. Mesmo assim, estávamos todas unidas pela nossa
fé católica. Todas ali queriam viver no mundo sem ser do mundo e cada uma sabia
que não conseguiria isto sozinha. Precisávamos de apoio.
Não demorou para eu descobrir o porquê da insistência do Espírito
Santo em me colocar naquele grupo.
Era uma
brilhante manhã de outubro e eu estava levando os meus filhos até a casa da
minha mãe. Isso era costumeiro. Só que, naquela manhã, encontrei mamãe inerte
em sua cama. Foi quando mais senti os benefícios de participar daquele círculo
bíblico. Naquele mesmo dia, enquanto eu ficava de vigília ao lado da cama da
minha mãe doente, a corrente de oração do meu grupo nos cercava e envolvia. E
não parou por aí: começaram a chegar refeições prontas. Produtos de higiene
pessoal. Ofertas de disponibilidade para tomar conta dos meus filhos. Cada uma
das minhas preocupações encontrou quem cuidasse dela. E aquela comunidade,
aquela COMUNHÃO de mulheres católicas, me ajudou a
atravessar um dos momentos mais escuros da minha vida.
Talvez o
maior erro que nós, católicos, cometemos – e seremos julgados por isso – seja a
nossa falta de demonstração de abertura e companheirismo às pessoas que estão
ao nosso lado nos bancos da igreja todo domingo.
Que tipo de
corpo somos nós se não vivemos conscientes da nossa missão de olhar para o
próximo, acolhê-lo, aliviar seus sofrimentos e levar nossos irmãos e irmãs a
experimentarem Jesus Cristo?
A Santa
Missa é ainda mais bela e exponencialmente mais poderosa quando vivida na
plenitude do seu propósito: COMUNHÃO.
Com Cristo e, por Ele, entre todos nós.
______________________________________________Aleteia
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