A iminente realização da Assembleia Especial
do Sínodo dos Bispos para a Pan-Amazônia tem suscitado posicionamentos
diversos, com intervenções variadas de grupos e pessoas inclusive, para
algumas, como se tratasse de um evento da sociedade civil. Vale a pena trazer a
público recentes palavras esclarecedoras do Papa Francisco, durante o encontro
realizado na Sala do Consistório do Palácio Apostólico com a Igreja
Greco-Católica da Ucrânia: “Vós sublinhastes uma coisa que não devemos perder:
Sínodo e Sinodalidade e o Espírito Santo. Existe um perigo de crer, hoje, que
fazer um caminho sinodal ou ter uma atitude de sinodalidade quer dizer uma
pesquisa de opinião: o que pensa este, aquele, e em seguida ter um encontro,
pôr-se de acordo. Não, o Sínodo não é um Parlamento! Tem-se que dizer coisas,
discuti-las, como se faz normalmente, porém não é um Parlamento. O Sínodo não é
um acordo como na política, não se trata de realizar investigações
sociológicas, como alguns creem. Com certeza é necessário saber o que pensam os
leigos, porém, não é uma investigação, é outra coisa. Se o Espírito Santo não
está presente, não há Sínodo. Se o Espírito Santo não está presente, não existe
sinodalidade. Rezem ao Espírito. Discutam entre si o que queiram! Pensem no
Concílio de Éfeso, como houve discussões! Mas eram boas. E no final foi o
Espírito quem os levou a dizer: ‘Maria, Mãe de Deus’. Este é precisamente o
caminho. É o Espírito. Porque nós não queremos ser uma Igreja
Congregacionalista, mas uma Igreja Sinodal. E seguir adiante neste caminho”.
Ao nomear os Presidentes Delegados para o
Sínodo, dentre os quais se encontra o Cardeal brasileiro João Brás de Aviz,
observou o Santo Padre que “o objetivo principal desta convocação é identificar
novos caminhos para a evangelização daquela porção do Povo de Deus,
especialmente dos indígenas, frequentemente esquecidos e sem perspectivas de um
futuro sereno, também por causa da crise da Floresta Amazônica, pulmão de
capital importância para nosso planeta. Que os Santos intercedam por este
evento eclesial para que, no respeito da beleza da Criação, todos os povos da
terra louvem a Deus, Senhor do universo, e por Ele iluminados, percorram
caminhos de justiça e de paz”.
O principal desafio que se abre no horizonte
eclesial nos tempos que correm é a Evangelização. É impressionante a atualidade
dos ensinamentos de Bento XVI, na Exortação Apostólica Verbum Domini (Cf.
números 96 e 97), cujo conteúdo foi colocado em relevo recentemente pelo
Presidente da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, ao solicitar aos que serão
padres sinodais uma renovada disposição para que a Palavra de Deus seja o
centro de todo o esforço de nova Evangelização para a Amazônia. Recolhamos
preciosos ensinamentos da citada Exortação: o Papa João Paulo II, na esteira de
quanto já dissera o Papa Paulo VI na “Evangelii Nuntiandi”, tinha de muitos
modos lembrado aos fiéis a necessidade de uma nova estação missionária para
todo o Povo de Deus. Se existem muitos povos que ainda não conheceram a Boa
Nova, há também muitos cristãos que têm necessidade que lhes seja anunciada
novamente, de modo persuasivo, a Palavra de Deus, para poderem assim
experimentar concretamente a força do Evangelho. Há muitos irmãos que são
batizados, mas não suficientemente evangelizados. É frequente ver nações,
outrora ricas de fé e de vocações, que vão perdendo a própria identidade, sob a
influência de uma cultura secularizada. A exigência de uma nova evangelização
deve ser reafirmada sem medo, na certeza da eficácia da Palavra divina. A
Igreja, segura da fidelidade do seu Senhor, não se cansa de anunciar a boa nova
do Evangelho e convida todos os cristãos a redescobrirem o fascínio de seguir
Cristo.
Entendemos assim como o Espírito Santo nos
inspirou, na Igreja de Belém, com a perspectiva da Missão como horizonte de
toda a ação pastoral, luz que deve penetrar em todos os campos de atividade.
Estamos no mês da Bíblia? É missão! Acontecem as peregrinações do Círio? É
missão! Participaremos de mais um Círio de Nazaré? É missão! Nossos Bispos vão
para o Sínodo? É missão!
É ainda Bento XVI, em sua Exortação Apostólica
sobre a Palavra de Deus, que amplia a nossa visão, com os compromissos a serem
assumidos: os horizontes imensos da missão da Igreja eclesial e a complexidade
da situação presente requerem hoje modalidades renovadas para se poder
comunicar eficazmente a Palavra de Deus. O Espírito Santo, agente primário de
toda a evangelização, nunca deixará de guiar a Igreja de Cristo nesta
atividade. Antes de mais nada, é importante que cada modalidade de anúncio
tenha presente a relação entre comunicação da Palavra de Deus e testemunho
cristão; disso depende a própria credibilidade do anúncio. Se é necessária a
Palavra que comunique aquilo que o próprio Senhor nos disse, é indispensável
dar, com o testemunho, credibilidade a esta Palavra, para que não apareça como
uma bela filosofia ou utopia, mas antes como uma realidade que se pode viver e
que faz viver. A reciprocidade entre Palavra e testemunho recorda o como o
próprio Deus se comunicou por meio da encarnação do seu Verbo. A Palavra de
Deus alcança os homens através do encontro com testemunhas que a tornam
presente e viva. Particularmente as novas gerações têm necessidade de ser
introduzidas na Palavra de Deus através do encontro e do testemunho autêntico do
adulto, da influência positiva dos amigos e da grande companhia que é a
comunidade eclesial.
Mas a nossa responsabilidade não se limita a
sugerir ao mundo valores que compartilhamos. É preciso chegar ao anúncio
explícito da Palavra de Deus. Só assim seremos fiéis ao mandato de Cristo. A
Boa Nova proclamada pelo testemunho de vida deverá, mais cedo ou mais tarde,
ser anunciada pela palavra de vida. Não há verdadeira evangelização, se o nome,
a doutrina, a vida, as promessas, o Reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho
de Deus, não forem proclamados.
Os padres sinodais hão de levar a esta
magnífica Assembleia de Bispos o grito pela Evangelização explícita, aquilo que
é nosso direito e nosso dever, clamor pela Palavra de Deus, Palavra de Vida
Eterna, para nossos povos e nações amazônicas. Rezemos nesta intenção!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém
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