Em seu discurso aos participantes do Sínodo da
Amazônia, cujos trabalhos começaram nesta segunda-feira, 7 de outubro, o Papa
Francisco afirmou que o Instrumentum laboris é um documento "mártir"
destinado a ser destruído.
Ao explicar a importância da ação do Espírito
Santo no Sínodo, o Santo Padre lembrou que antes deste evento foram realizadas
“consultas, discussões nas conferências episcopais, no Conselho Pré-sinodal,
elaborou-se o Instrumentum laboris, que, como sabem, é um texto mártir
destinado a ser destruído, porque é como ponto de partida para o que o Espírito
vai fazer em nós. E, agora, nós devemos caminhar sob a guia do Espírito Santo”.
O Pontífice confirmou assim o que disse há
alguns dias o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo
Baldisseri, que em coletiva de imprensa explicou que o Instrumentum laboris não
é um documento magisterial ou pontifício.
"Há críticas ao Instrumentum laboris e a
primeira coisa que devo dizer é que não é um documento pontifício", disse
o Cardeal italiano em entrevista coletiva em 3 de outubro, na Sala de Imprensa
do Vaticano.
O Purpurado explicou que o texto é o resultado
de dois anos de trabalho durante os quais “os povos amazônicos foram escutados
e essa expressão foi coletada não apenas em uma única assembleia”, mas em várias,
nas quais “os bispos, responsáveis diretos da evangelização, escutam o povo e
devem registrar isso. Foram dois anos de preparação e essa é a síntese”.
O Secretário-Geral do Sínodo também indicou
que, “se há um cardeal ou um bispo que não concorda e vê que há conteúdos que
não correspondem, tudo bem. Contudo, direi que é necessário escutar e não
julgar, porque (o Instrumentum laboris) não é um documento magisterial. É o
documento de trabalho que será entregue aos padres sinodais e que será a base
para poder começar os trabalhos e construir o documento final do zero”.
Em seu discurso nesta manhã, o cardeal
italiano disse que, “nas três semanas de trabalho que hoje estão abertas diante
de nós, o Instrumentum laboris constituirá o ponto de referência e a base
necessária da reflexão e do debate sinodal e não um texto para fazer
emendas".
A função do Instrumentum laboris, destacou,
"conclui com a elaboração do Documento final, que reunirá os resultados
alcançados por esta assembleia e por todo o processo sinodal".
Críticas ao documento de trabalho do Sínodo da
Amazônia
Nos últimos meses, diferentes bispos e
cardeais expressaram uma postura crítica sobre o documento de trabalho ou
Instrumentum laboris do Sínodo da Amazônia.
O Bispo Emérito de Marajó (Brasil), Dom José
Luis Azcona, que serviu nesta jurisdição amazônica por quase 30 anos, escreveu
vários artigos críticos sobre o Instrumentum laboris.
Em um deles, criticou o papel da Rede Eclesial
Pan-Amazônica (REPAM), que, em sua opinião, baseia-se em um “pensamento único”
que é “ameaçador” para o caminho da sinodalidade e unidade eclesial do Brasil.
O Prelado disse também que a Amazônia, pelo
menos no Brasil, "não é mais católica" e lamentou a ausência no
documento de trabalho de referências a Cristo crucificado na evangelização dos
povos da região.
No início de setembro de 2019, os cardeais
Walter Brandmüller e Raymond Burke escreveram uma carta em italiano para os
outros membros do Colégio de Cardeais – às quais o Grupo ACI teve acesso –
fazendo uma grave denúncia sobre alguns pontos do documento de trabalho.
O Cardeal Brandmüller alertou que “as
formulações nebulosas do Instrumentum, como a pretendida criação de novos
ministérios eclesiásticos para as mulheres e, sobretudo, a ordenação
presbiteral dos chamados viri probati, suscitam a forte suspeita de que será
colocado em questão até mesmo o celibato sacerdotal".
Em julho deste ano, o Cardeal Gerhard Müller,
Prefeito Emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, também fez uma crítica
ao documento de trabalho, especificando, por exemplo, que no texto “o
significado dos termos-chave não são explicados e são utilizados de maneira
inflada”.
Especificamente, cita conceitos pouco
explicados, como “caminho sinodal”, “desenvolvimento integral”, “Igreja samaritana,
sinodal e aberta” ou “Igreja de Abertura, Igreja dos Pobres, Igreja da
Amazônia”.
Em segundo lugar, assegura que "a
estrutura do texto apresenta um giro radical na hermenêutica da teologia
católica". No Instrumentum laboris, “toda a linha de pensamento se torna
autorreferencial e circula em torno dos últimos documentos do Magistério do
Papa Francisco, com algumas escassas referências ao Papa João Paulo II e Bento
XVI".
“Talvez o desejo era mostrar uma especial
lealdade ao Papa, ou talvez acreditaram ser possível evitar os desafios do
trabalho teológico quando se fazem constantes referências a palavras-chave
conhecidas, e frequentemente repetidas, que os autores chamam, de maneira
bastante incompetente de: ‘o mantra de Francisco’”, escreveu.
Nas últimas semanas, o Cardeal Jorge Urosa,
Arcebispo emérito de Caracas, enviou à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo
ACI, três artigos e uma breve declaração sobre o Sínodo da Amazônia.
No primeiro, o cardeal venezuelano destacou as
fortalezas e as falhas do Sínodo, com a intenção de que os padres sinodais
ajudem a melhorar estas últimas.
No segundo, o Purpurado explicou que o
Instrumentum laboris “não é um documento para uma assembleia de ONGs, mas de um
Sínodo eclesial, de uma assembleia muito importante da Igreja para ajudá-la a
viver melhor sua missão, para revitalizar a Igreja lá e no mundo inteiro, para
o qual devemos apresentar novos caminhos de evangelização autêntica”.
Enquanto no terceiro, o Arcebispo Emérito de
Caracas especificou as razões pelas quais não se pode ordenar homens casados
nem mulheres.
O Cardeal Urosa também fez uma declaração na
qual explicou que "uma análise do Instrumento Laboris não é para atacar o
Sínodo, mas para contribuir para o seu sucesso!".
O Arcebispo assinalou que “o Sínodo é muito
importante e quero contribuir modestamente, para que seja um sucesso na
evangelização, na revitalização da Igreja e na defesa da Amazônia e de seus
habitantes. As observações são direcionadas ao texto, que, na minha opinião,
pode e deve ser melhorado”.
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ACI Digital
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