Um relatório confidencial da autoridade
anticorrupção do Vaticano mostra que a Secretaria de Estado usou cerca de 725
milhões de dólares, a maioria proveniente do fundo de caridade do Papa, em
operações não registradas nos livros contábeis.
O jornal italiano ‘L'Espresso’ publicou um
relatório, em 20 de outubro, que revela informações sobre três documentos
confidenciais do Vaticano, um dos quais é da autoridade anticorrupção do Papa,
chamado Escritório do Auditor Geral, alegando ter encontrado graves crimes
financeiros e corrupção dentro da Secretaria de Estado.
Os documentos, informou ‘L'Espresso’, detalham
o uso e a gestão de fundos extraorçamentários por parte da Secretaria de
Estado, "derivados em grande parte de doações recebidas pelo Santo Padre
para instituições de caridade e para o sustento da Cúria Romana".
Pelo menos, a maior parte do dinheiro foi
retirada do Óbolo de São Pedro, a coleta anual na qual os católicos são
convidados a apoiar as atividades de caridade do papa.
‘L'Espresso’ informou que esses fundos estão
sendo usados "em operações especulativas imprudentes" e que o próprio
relatório do Auditor Geral diz que aproximadamente 77% dos ativos
(aproximadamente 558 milhões de dólares) foram colocados nas agências suíças e
italianas do banco de investimento Credit Suisse.
Um segundo documento confidencial adquirido
por ‘L´Espresso’ é o decreto de 16 páginas que autoriza a busca e apreensão
realizada em 1º de outubro nos escritórios da Secretaria de Estado e da
Autoridade de Informação Financeira (AIF). A busca foi ordenada pelos
promotores da Cidade do Vaticano, chamados "promotores de justiça", e
levou à suspensão de cinco funcionários e empregados do Vaticano.
No momento da busca, uma declaração do
Vaticano disse que documentos e dispositivos foram levados em relação a uma
investigação nascida no verão passado, após denúncias do Instituto para as
Obras Religiosas (IOR), comumente chamado Banco do Vaticano, e do Escritório do
Auditor Geral.
Segundo o jornal italiano, o decreto de busca
indica que as denúncias indicadas pelo Vaticano foram originadas pelo auditor
geral e pelo diretor do IOR, Gian Franco Mammi. No mesmo documento, os
promotores Gian Piero Milano e Alessandro Diddi afirmam que acham que
encontraram "sérias indicações de peculato, fraude, abuso de cargos,
lavagem de dinheiro e lavagem de dinheiro próprio".
Outros relatórios fornecem detalhes sobre a
compra de um edifício de 17 mil metros quadrados em Londres, com um
investimento do Vaticano de 200 milhões de euros (223 milhões de dólares).
‘L'Espresso’ disse que os documentos mostram
uma conexão com o financista italiano Raffaele Mincione, a quem, segundo o
relatório, pediram para investir 200 milhões de euros, em nome do Vaticano, em
uma companhia petrolífera na Angola.
Essa foi a ideia do Cardeal Angelo Becciu,
então bispo e funcionário de segundo escalão da Secretaria de Estado, segundo o
‘L'Espresso’.
Quando esse projeto entrou em colapso, segundo
os relatórios, Mincione propôs investir em imóveis de Londres, transformando o
antigo armazém de Harrod em apartamentos de luxo.
O acordo foi realizado com o Vaticano
comprando 45% da propriedade em 2012 através do fundo Athena Capital Global de
Mincione. Quando o mercado imobiliário de Londres desacelerou em 2018, o
Vaticano se retirou do fundo de Mincione e comprou os 55% restantes da
propriedade.
Nesta semana, CNA – agência em inglês do Grupo
ACI – pediu ao Cardeal Becciu declarações sobre as acusações feitas sobre seu
papel na transação imobiliária em Londres; no entanto, ainda não respondeu.
O acordo de propriedade em Londres foi
assinado por Mons. Alberto Perlasca, naquele momento funcionário da Secretaria
de Estado, em novembro de 2018. O investimento do Vaticano em Londres foi
entregue a outro investidor italiano, Gianluigi Torzi.
Esses são os investimentos que o diretor geral
do IOR, Gian Franco Mammi, teria informado aos promotores do Vaticano em 2018,
o que levou à investigação e à busca deste mês na Secretaria de Estado e à
posterior suspensão de cinco funcionários e empregados.
O relatório de ‘L'Espresso’ afirmou que outra
pessoa envolvida no acordo foi Pe. Mauro Carlino, uma vez secretário pessoal do
Cardeal Becciu e um dos cinco funcionários suspensos da Secretaria de Estado
neste mês.
Pe. Carlino foi nomeado chefe de informação e
documentação na Secretaria de Estado pelo Papa Francisco neste verão.
O relatório de ‘L´Espresso’ foi escrito pelo
jornalista italiano Emiliano Fittipaldi, uma das cinco pessoas investigadas e
acusadas pelo Vaticano pela publicação de documentos confidenciais no escândalo
de 2015 chamado "Vatileaks II". Fittipaldi e um colega jornalista
foram absolvidos posteriormente.
A Secretaria de Estado é o escritório central
do governo da Igreja Católica e o departamento da Cúria Romana que trabalha
mais de perto com o Papa. Também é responsável pela governança do estado da
Cidade do Vaticano.
A Autoridade de Informação Financeira do
Vaticano, por sua vez, supervisiona transações financeiras suspeitas e é
responsável por garantir que as políticas bancárias do Vaticano cumpram os
padrões financeiros internacionais.
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ACI Digital
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