Uma centena de ultraconservadores críticos do
Papa Francisco, a quem acusam de seguir os princípios progressistas da Teologia
da Libertação, que propaga “ódio” e “mentiras”, reuniram-se no sábado (5) em
Roma, em uma espécie de contrassínodo sobre a Amazônia.
“Lamento que, para o sínodo que será
inaugurado neste domingo, não tenha sido convidado nenhum indígena que pense
diferente da corrente desses missionários”, disse à AFP o indígena brasileiro
Jonas Marcolino, paralelamente a um encontro realizado em um hotel elegante e
central da capital italiana.
Marcolino, pertencente ao grupo étnico Macuxi,
da região de Roraima, defende “o capitalismo e o progresso”. “Vim aqui para
dizer que os povos indígenas querem liberdade econômica, dignidade humana,
querem trabalhar, crescer e ser respeitados”, diz para uma plateia de uma
centena de pessoas, entre elas o cardeal americano Raymond Burke, que lidera o
setor ultraconservador contrário às reformas de Francisco.
“O que a Igreja pede em nossa região é odiar o
branco, proibir a abertura de estradas, de eletricidade. É que mostra ódio e
não pode ser assim”, afirma, ao se referir à corrente teológica que, segundo
ele, apoia-se “no marxismo e no antagonismo entre as classes sociais”.
“Falo sobre os efeitos desta teoria, porque os
resultados não são bons”, sustenta Marcolino, que estudou direito internacional
e ambiental e lidera a Associação de Defensores dos Indígenas do Norte de
Roraima.
As críticas às propostas do encontro de três
semanas convocado pelo Papa no Vaticano roubam a atenção dos objetivos do
sínodo, que deseja mobilizar o mundo em defesa da Amazônia e seus habitantes.
– Ultraconservadores atacam –
Os ataques partem principalmente dos setores
mais conservadores, entre eles do aspirante ao trono do Brasil Dom Bertrand de
Orleans e Bragança, 80, príncipe de uma monarquia extinta em 1889 e católico
fervoroso.
“O sínodo não é proporcional à realidade nem
aos fatos objetivos”, afirma Dom Bertrand, simpatizante da ultraconservadora
associação católica Tradição Família e Propriedade. “Somos contra o comunismo e
queremos evitá-lo em nossas pátrias (…) Respeito este Papa, rezo por ele, mas
sobre o clima e o Amazonas não é papel da Igreja opiniar, sua missão é salvar
almas.”
“Isso de que se deve proteger os índios da
floresta, porque são puros, para que não sejam contaminados pelo capitalismo, o
egoísmo e o desejo de lucro, é o contrário do que querem os verdadeiros
índios”, afirma o descendente do imperador Dom Pedro II, que sonha com o
retorno da monarquia.
“A maioria dos índios do Brasíl já estão
integrados. O que se quer é mantê-los na escravidão (…) A Teologia da
Libertação traz muitos males para o Brasil”, resume.
O sínodo no Vaticano, do qual participam cerca
de 260 pessoas, entre elas todos os prelados dos nove países que compõem a
Bacia Amazônica, discute a evangelização naquele território, a proteção do
meio ambiente, a luta contra as mudanças climáticas, o desmatamento e o direito
dos povos indígenas de proteger suas terras e tradições.
“Isso de que o pulmão do mundo está sendo
incendiado é falso”, afirma Dom Bertrand, que cita especialistas e outros
convidados do encontro em Roma, entre eles Luiz Molion, que nega que a imensa
região sofra com as mudanças climáticas e corra o risco de desertificação.
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Isto É
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