A Igreja Católica abre liturgicamente, com o
Domingo de Ramos e da Paixão, a Semana Santa. Este Domingo, portanto, é a porta
de abertura e de entrada da Semana Santa. De forma muito breve, podemos afirmar
que as ações litúrgicas da Igreja são, ao mesmo tempo, ações rememorativas
(fazem memória litúrgica de um evento salvífico), demonstrativas (atualizam
seus efeitos salvifícos) e prognósticas (abrem as portas do futuro
escatológico). No Domingo de Ramos e da Paixão os dois mistérios centrais da
vida de Jesus e, por conseguinte, da vida cristã, são rememorados, demonstrados
e prognosticados. Na celebração da entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a
Igreja faz, solenemente, o anúncio pascal da paixão morte e ressurreição de
Jesus. Vejamos:
Primeiro, Paulo, na Carta aos Filipenses, descreve
o esvaziamento de Jesus, ao assumir a condição de escravo, fazendo-se igual ao
homem, obediente até a morte de cruz (Fl 2,6-8). Marcos completa a tragicidade
desta paixão, ao afirmar que Jesus entra em Jerusalém pequeno, humilde e pobre,
montado num jumento (Mc 11,1-7). E em seguida, anuncia a sua paixão com todos
os detalhamentos que ela comporta (Mc 15,1-39).
Segundo, por causa disto, diz também Paulo que Deus
o exaltou e lhe deu o nome que está acima de qualquer nome. E diante do nome de
Jesus todo joelho se dobra no céu, na terra e nos inferno e toda língua
proclama: Jesus Cristo é o Senhor para a glória de Deus Pai (Fl 2,9-11). Marcos
completa esta informação dizendo que o povo, ao ver Jesus entrar triunfalmente
em Jerusalém, estendeu seus mantos, espalhou seus ramos e gritou: Hosana (que
literalmente significa: “dá-nos a salvação”)! Domingos de Ramos e da Paixão é,
neste sentido, didático, catequético, litúrgico, pedagógico e propedêutico.
Ao longo dos outros dias da Semana Santa, sobretudo
a partir da quinta-feira santa, nas outras celebrações adicionais, tais como a
bênção dos santos óleos, o lava-pés, a adoração eucarística, a via-sacra e a
encenação da paixão, o mistério da morte e ressurreição de Jesus, serão
rememorados, demonstrados e prognosticados. Descaremos, aqui, de forma muito
breve, somente as três Páscoas:
A Páscoa da
Ceia: Na quinta-feira, celebramos a ceia do Senhor, a instituição do
mandamento do amor fraterno e do sacerdócio ministerial. João, o evangelista,
interpreta o sentimento mais profundo de Jesus, na última ceia, com as
seguintes palavras: “tendo Jesus amado os seus que estavam no mundo, amou-os
até o fim” (Jo 13,1). Durante a ceia, Jesus cingiu-se com uma toalha e lavou os
pés dos discípulos. Em seguida, comeu a páscoa com eles. Nesta celebração,
comumente chamada de “Páscoa da Ceia”, Jesus se dá no pão e no vinho. Seu corpo
e seu sangue já não são mais seus. Já foram dados. Portanto, Jesus sai da ceia
literalmente morto.
A Páscoa da
Cruz: Na sexta-feira este sentimento de doação de Jesus chega ao seu ápice.
Jesus não somente anuncia, introduz e simboliza, mas também realiza e expressa,
de forma total e radical, esta sua sede de doação. É na celebração da adoração
da cruz que a Igreja faz memória litúrgica da Páscoa da Cruz. Os evangelistas
traduzem, com palavras muito fortes, o que aconteceu na hora da morte de Jesus,
ao afirmar que houve uma celebração fúnebre, da qual participou inteiramente a
criação: “uma escuridão cobriu a terra, o sol escondeu-se, o véu do templo
rasgou-se em dois, a terra tremeu, os mortos ressuscitaram” (Lc 23,45; Mc 15,38;
Mt 27,51-52). Importante também foi a profissão de fé do centurião romano:
“verdadeiramente este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). A morte na cruz,
segundo o papa emérito Bento XVI, “é um acontecimento cósmico e litúrgico”.
Depois disso, inicia-se o grande silêncio litúrgico.
A Páscoa da
Ressurreição: Todos os sentimentos de luto, de vigília, vividos em profundo
espírito de contrição, comoção, obediência, luto e oração, são quebrados pelos
brados de alegria e de aleluia, cantados nesta da vigília pascal que, segundo
Santo Agostinho, é a mãe de todas as vigílias. O clima litúrgico se transforma
totalmente quando a comunidade cristã proclama, solenemente, a ressurreição de
Jesus. Trata-se, pois, de uma solene celebração de vigília. Destacamos aqui a
celebração da luz, da água, da renovação das promessas batismais, da Palavra,
em abundância, na qual se faz memória da criação, da libertação do Egito e em
crescendo, se passa por todas as fases salientes da história da salvação, até
chegar à glória da ressurreição. Quem chega a crer na ressurreição, crê no
mistério final e sublime da fé cristã e chega ao ponto mais alto da
espiritualidade cristã.
É tudo isto que celebramos na Semana Santa. Depois
desta solene noite santa, tudo passa a ser páscoa, ressurreição e vida nova,
até que se complete cinquenta dias.
Então, boa Semana Santa para todos nós.
Dom Pedro
Brito Guimarães
Arcebispo de
Palmas (TO)
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