CARTA ABERTA AOS IRMÃOS BISPOS DO REGIONAL NE 2 DA CNBB,
AO CLERO E AO POVO DE DEUS DA IGREJA PARTICULAR DA PARAÍBA.
Invocando
o santo nome de Deus Uno e Trino, coloco-me sob a proteção da Imaculada Virgem
Maria e, em espírito de oração, discernimento e obediência, apresentei ao Santo
Padre, o Papa Francisco, o meu pedido de renúncia ao governo pastoral da
Arquidiocese da Paraíba. Cito sumariamente alguns fatores que me obrigam a tal
atitude.
1. Ao
longo de 12 anos, preposto ao governo pastoral desta Arquidiocese, tentei
desenvolver a missão evangelizadora e pastoral que o Senhor me confiou junto ao
Clero, aos cristãos fieis, às autoridades constitucionais e às lideranças
institucionais, seguindo o lema: “Há um só Corpo e um só Espírito” (Ef 4, 4).
- Minha
intenção sempre se voltou à promoção da comunhão na caridade, tentando
participar de forma proativa na edificação da Igreja fraterna e solidária, e da
construção da sociedade com inclusão e justiça social.
- Tentei
doar o melhor de mim mesmo, não obstante as sérias limitações de saúde, ademais
das repercussões no equilíbrio emocional, causadas pela constante necessidade
de superar conflitos inevitáveis, advindos de reações ao meu modo de ser e de
agir.
2. Tomei
decisões enérgicas e inadiáveis em relação à reorganização da administração,
finanças e recuperação do patrimônio da Arquidiocese, sempre em sintonia com o
nosso ecônomo. Embora tenha sido exitoso, desinstalei e desagradei muita gente,
por razões facilmente presumíveis.
- Acolhi
padres e seminaristas, no intuito de lhes oferecer novas chances na vida. Entre
outros, alguns egressos, posteriormente suspeitos de cometer graves defecções,
contrárias à idoneidade exigida no sagrado ministério. Cometi erros por confiar
demais, numa ingênua misericórdia.
- Tomei
posições assertivas diante de políticas públicas estruturais em vista do
desenvolvimento integral de nossa gente e de nossa terra. Evitei “ficar em cima
de muro”. Foi inevitável acolher reações e interpretações diferentes,
independente de minha reta intenção de não me imiscuir na esfera
político-partidária, e jamais almejar algum poder de ordem temporal.
3. Não
tardaram retaliações internas e externas, ademais da instauração de um clima de
desestabilização urdida por grupos de pressão, incluindo os que se denominaram
“padres anônimos”, escudados no sigilo da fonte de informações, obtendo ampla
cobertura num jornal. Matérias sobre a vida da Igreja da Paraíba, descritas em
forma unilateral, distorcida, provocatória, foram periodicamente veiculadas,
seguidas de comentários arbitrários por várias redes sociais.
- A
exemplo, um blog divulgou carta difamatória, envolvendo o arcebispo e vários
sacerdotes, arbitrariamente expostos ao escárnio público. As redes sociais
encarregaram-se de espalhar comentários peregrinos e duvidosos. A presumida
autora da carta responde em foro criminal.
4. A
ideia obsessiva espalhada intenciona afirmar à fina força que o clero esteja
dividido, que o governo da Arquidiocese esteja desestabilizado, e que, nesse
contexto, o arcebispo perdeu a capacidade de coordenação e, por fim, não vale à
pena ordenar padres numa igreja dividida.
5. Esse
sucinto relato sobre fatos amplia-se em relatórios que eu enviei à Nunciatura
Apostólica no Brasil e às demais instâncias da Santa Sé, como pedido de
compreensão e ajuda, porquanto eu não tenha nada a esconder. Sabe-se que outro
dossiê foi enviado às mesmas instâncias, por parte de membros do Clero e de
leigos.
6. Por
tanto tumulto, embora eu esteja sofrendo muito, permito-me afirmar que conservo
a minha consciência em paz. Sempre estarei disposto a corrigir rumos, a
reorientar passos, a confirmar êxitos alcançados, contando com a graça de Deus
e também com a efetiva presença de bons padres, religiosos presbíteros e de
bons leigos e leigas, qualificados como forças vivas de nossa amada Igreja
Particular da Paraíba.
7.
Auto-elogio e passividade não fazem parte do meu feitio. Deus sabe o que faz e
o tempo é juiz da história. Minha nonna (avó) dizia: “quando alguém te caluniar
e tentar destruir tua vida, tua resposta seja o silêncio e mais trabalho, não
se rebaixando ao nível mesquinho do espírito da treva”.
8. Passo
por duras provações, sentindo a frustração de alguns sonhos que, entanto,
entrego nas mãos de Deus. Que a minha vida seja para a maior glória de Deus,
não para a busca de mim mesmo e de outros interesses que não provenham do
Senhor. Comigo sofrem muitas pessoas e comunidades. Todos esperam em Deus que
tem saídas inesperadas para os impasses criados. Não há mal do qual Deus não
tire um bem maior!
- Penso
que eu não tenha o direito de provocar ou de prolongar sofrimentos ainda
maiores, especialmente aos jovens que esperam servir a Deus na vida sacerdotal
nesta Igreja da Paraíba que tanto nós todos amamos.
9. Creio
que o melhor, pelo momento, para a Igreja Universal e para a Igreja Particular
da Paraíba, seja a minha renúncia. Ante o desgaste enfrentado, sinto-me no
dever de evitar comprometer a Unidade na Caridade, a expressão característica e
essencial da Igreja de Jesus Cristo.
-
Sinto-me fortalecido na fé, cultivando a espiritualidade eucarística e marial.
O Senhor é meu Pastor. Ele não me faltará (Sl 23). Ele me dará forças,
sustentar-me-á ao longo das provações, impulsionando-me a fazer o dom de mim
mesmo para a continuidade da missão que Ele ainda me confia. Há muitos espaços
e oportunidades. Estou disposto a buscá-los, pedindo a Deus que me mostre o lugar
onde eu possa ser útil, a começar pela minha Congregação do Santíssimo
Sacramento, que eu tanto amo.
10. Deixo
registrado o meu pedido sincero de perdão às pessoas a quem eu tenha feito
sofrer, voluntária ou involuntariamente. Cometi erros, acertei passos, estou
disposto a caminhar com quem queira caminhar, construindo dias melhores para
todos, superando o apego a cargos, títulos, privilégios.
- Peço
perdão a Deus e perdoo os que me fizeram sofrer muito. Não há nada de oculto
que um dia não venha a ser revelado e proclamado pelos tetos. Nem devemos temer
quem mata o corpo, mas não o espírito (Lc 12, 1-4).
11.
Passo, em obediência, o comando da Arquidiocese para um Irmão mais jovem, com
forças, coragem e capacidade para tomar rumos acertados, mostrados pelo Pai de
amor e misericórdia, o Senhor da vida!
- Sigo o
exemplo de SS. o Papa Bento XVI, dando o espaço àquele que Deus enviar para o
bem de sua Igreja.
12.
Sirvo-me, pois, da 2ª Carta de Paulo aos Coríntios (2 Cor. 4,1ss) para
expressar meus sentimentos e auspícios: “Detentores desse ministério, nós não
perdemos a coragem. Dissemos não aos procedimentos secretos e vergonhosos.
Conduzimo-nos sem duplicidade e não falsificamos a Palavra de Deus” (...) “Não
é a nós mesmos, mas a Jesus Cristo Senhor que nós proclamamos. Mas este tesouro
nós o guardamos em vasos de argila, para que o poder incomparável seja de Deus
e não nosso. Pressionados de todos os lados, não somos esmagados; em impasses,
nós conseguimos passar; perseguidos, mas não alcançados; prostrados por terra,
mas não liquidados. Sem cessar trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim
de que a vida de Jesus seja manifestada em nosso corpo”.
13. Oro e
desejo de todo o meu coração que a Igreja Particular da Paraíba prospere na
ação evangelizadora e pastoral, seja fecunda na promoção da unidade interna e
das obras de apostolado externo, abençoado por Nosso Senhor e por Nossa Senhora
das Neves, nossa padroeira.
- Que
cresça sempre mais em qualidade e em número de cristãos fiéis, que dêem
testemunho do Evangelho de Jesus, pela palavra e pelos exemplos de vida, vivida
na unidade e no amor. Em tudo, amar e servir, unidos a Nosso Senhor, qual ramos
à videira, para que se produzam muitos frutos (cf. Jo 15, 1s).
- Deixo o
território material da Paraíba. Espiritualmente, porém, a pequenina gigante, a
Paraíba, nunca sairá do meu coração, agradecido pelo muito que aprendi com o
espírito guerreiro, hospitaleiro e amoroso de nossa gente.
- Deixo a
todos e todas, além de minha constante prece, um forte abraço, um beijo no
coração e as saudades jamais saciadas, na esperança de quando em vez voltar
para visitar as mil amizades sinceras e fraternas, a quem agradeço e a quem eu
quero bem de verdade.
João Pessoa (PB), 6 de julho de 2016
+ Aldo di Cillo Pagotto, sss
Arcebispo Emérito da Paraíba
Arcebispo Emérito da Paraíba
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Arquidiocese
da Paraíba
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