Para compreender as razões e o significado
profundo da decisão de autorizar as peregrinações a Medjugorje por parte de
Francisco, é útil reler algumas passagens da Exortação Apostólica Evangelii
gaudium, o documento que traça a rota de seu pontificado.
O Papa, naquele texto, recordava que "na
piedade popular, pode-se captar a modalidade em que a fé recebida se encarnou
numa cultura e continua a transmitir-se". E recordava ainda, citando as
palavras do documento final da Conferência dos bispos latino-americanos em
Aparecida, que «o caminhar juntos para os santuários e o participar em outras
manifestações da piedade popular, levando também os filhos ou convidando a
outras pessoas, é em si mesmo um gesto evangelizador». “Não coarctemos nem
pretendamos controlar esta força missionária!“, concluía o Pontífice. É um dado
de fato que milhões de peregrinos nestes anos tiveram uma experiência
significativa de fé indo a Medjugorje: isso é atestado pelas longas filas nos
confessionários e à noite, adorações eucarísticas na grande igreja paroquial,
sem um metro quadrado livre de fiéis ajoelhados.
O Papa autoriza a peregrinação a Medjugorje
“Acredito” que “em Medjugorje exista a graça.
Não se pode negar. Há pessoas que se convertem”, havia dito o Papa conversando
em 2013 com o padre Alexandre Awi de Mello, mariólogo, hoje secretário do
Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Naquela entrevista transformada
em um livro (“É minha mãe. Encontros com Maria”, Ed. Cidade Nova), Francisco sim
alertava para o protagonismo dos videntes e pelo multiplicar-se de mensagens e
segredos, mas sem nunca desconhecer os frutos positivos da experiência das
peregrinações.
No Prefácio daquele livro, o teólogo argentino
Carlos María Galli, havia escrito: «Para Francisco, a coisa mais importante é a
fé mariana do “santo povo fiel de Deus”, que nos ensina a amar Maria para além
da reflexão teológica. Enquanto filho e membro, como qualquer outro, do Povo de
Deus, Bergoglio – Francisco – participa do sensus fidei fidelium e se
identifica com a profunda piedade mariana do povo cristão».
É precisamente por isto que, enquanto se
continua a estudar o fenômeno Mejugorje e sem que exista a respeito um
pronunciamento sobre a autenticidade das aparições, o Papa teve a intenção de
manifestar um cuidado por quem enfrenta as dificuldades da viagem para ir rezar
naquele local. Por isto quis ter um enviado permanente, um bispo que trabalha
na Santa Sé, encarregado precisamente do cuidado pastoral dos peregrinos.
E é por isso que ele agora decide ir além do
que foi declarado há mais de vinte anos pela Congregação para a Doutrina da Fé,
que permitia peregrinações a Medjugorje, mas somente "privadamente".
Agora, pelo contrário, as dioceses e paróquias poderão organizar e orientar
essas peregrinações, expressões da piedade mariana do povo de Deus.
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Vatican News
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